Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
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Outra tensão da moral há <strong>de</strong> consistir na sua componente subjetiva, pressupondo,<br />
ao mesmo tempo, princípios válidos universalmente e, portanto, constitutivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />
objetivida<strong>de</strong>. Assim, po<strong>de</strong>-se dizer que a moral po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como o acordo entre a<br />
consciência e os preceitos consagrados. No âmbito <strong>de</strong> sua competência, a consciência será o<br />
autêntico juiz, mas tendo presente a circunstância <strong>de</strong> que não lhe há <strong>de</strong> competir a instauração<br />
<strong>de</strong> uma nova moralida<strong>de</strong>.<br />
Talvez que os temas aqui aflorados possam ser melhor esclarecidos consi<strong>de</strong>randose<br />
as questões da objetivida<strong>de</strong> do código e a subjetivida<strong>de</strong> da moral, <strong>de</strong> um lado, e <strong>de</strong> outro, a<br />
das relações entre moral, direito e política.<br />
Ao fazê-lo, temos em vista a advertência <strong>de</strong> René Gautier, na introdução a<br />
L'Éthique a Nicomaque (Louvain, Publications Universitaires, 1970, tomo I, págs. 275/276),<br />
segundo a qual Deus não está <strong>de</strong> modo obrigatório ausente da moral. Tal não po<strong>de</strong> se dar, por<br />
exemplo, em relação aos católicos e protestantes. Contudo, mesmo nessa circunstância, Deus<br />
será a última palavra da moral e não a primeira. De sorte que, dizendo respeito às relações<br />
entre as pessoas, a moral social <strong>de</strong>ve encontrar fundamentos laicos, válidos para todos,<br />
inclusive aos que não acreditam em Deus. Apenas os crentes irão inseri-la num contexto mais<br />
amplo, vinculando o cumprimento <strong>de</strong> seus preceitos às suas crenças religiosas. Precisamente<br />
essa circunstância é que estabelece uma distinção entre moral individual e moral social.<br />
Embora <strong>de</strong>vam coincidir quanto aos princípios, nos marcos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado contexto cultural,<br />
diferenciam-se nitidamente quanto à fundamentação. A moral social <strong>de</strong> tipo consensual, sendo<br />
válida para todos, não po<strong>de</strong> repousar em ditames <strong>de</strong>ssa ou daquela religião ou em doutrinas<br />
que se proponham tão somente contrapor-se a enunciados <strong>de</strong> caráter religioso. Vale dizer: a<br />
religião <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> servir como referencial, tomado positiva ou negativamente.<br />
b) Elenco dos temas relacionados ao seu conceito<br />
O primeiro <strong>de</strong>les <strong>de</strong>corre do fato <strong>de</strong> que os preceitos morais têm origem religiosa.<br />
Disso resulta que em nossa cultura exista um Código Moral, formulado por Moisés e Jesus<br />
Cristo ao qual <strong>de</strong>vemos obediência. Nessa circunstância, a moral oci<strong>de</strong>ntal não se distinguiria<br />
do direito, isto é, não envolveria uma escolha livre (que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Santo Agostinho chamamos <strong>de</strong><br />
livre arbítrio)? Abordamos esta questão, logo a seguir, <strong>de</strong>nominando-a <strong>de</strong> “objetivida<strong>de</strong> do<br />
código e subjetivida<strong>de</strong> da moral”.<br />
Ainda em suas relações com a religião, na Época Mo<strong>de</strong>rna emerge a questão <strong>de</strong><br />
saber como se fundamenta a moral social, em face do pluralismo religioso e da perda, pela<br />
Igreja Romana, do monopólio <strong>de</strong> estabelecê-la unilateralmente. Por sua amplitu<strong>de</strong>, <strong>de</strong>dicamolhe<br />
a Parte III.<br />
O tema das relações da moral com o direito e a política também precisa ser<br />
consi<strong>de</strong>rado, o que o fazemos neste mesmo capítulo.<br />
Subseqüentemente, trataremos dos pré-requisitos da moral bem como, <strong>de</strong>ntre os<br />
seus princípios, quais são permanentes e quais <strong>de</strong> fato evi<strong>de</strong>nciam ser mutáveis.<br />
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