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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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preservar os ineptos e alimentar parasitas e mendigos. “Não resistas ao mal”, “Ama teus<br />

inimigos”, são máximas santas <strong>de</strong> que os homens <strong>de</strong>ste mundo acham difícil falar sem<br />

impaciência. Estão certos os homens <strong>de</strong>ste mundo, ou estão os santos <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> um grau<br />

mais profundo da verda<strong>de</strong>?".<br />

Parece-lhe que a conduta perfeita seria uma relação apropriada entre três termos: o<br />

ator, os objetivos que o movem a agir e os recipientes da ação. "A melhor das intenções<br />

falhará se trabalhar com meios falsos ou se dirigir a recipiente errado." A partir <strong>de</strong>sse critério,<br />

logo conclui que a conduta do homem perfeito só po<strong>de</strong> parecer perfeita se o ambiente for<br />

perfeito. Logo, o santo precisaria estar entre santos. Na dura existência cotidiana poucos<br />

duvidam <strong>de</strong> que o fogo <strong>de</strong>va ser combatido com o fogo, que os usurpadores mereçam<br />

fuzilamento, os ladrões a ca<strong>de</strong>ia e não per<strong>de</strong>r tempo com vagabundos e vigaristas. "E, no<br />

entanto, os senhores estão certos, como eu estou certo, <strong>de</strong> que se o mundo se restringisse tão<br />

só a esses métodos obstinados, empe<strong>de</strong>rnidos e rigorosos, se não houvesse ninguém pronto<br />

para ajudar; primeiro um irmão e verificar, <strong>de</strong>pois, se ele é digno <strong>de</strong> ajuda; se não houvesse<br />

ninguém disposto a esquecer seus agravos pessoais com pena da pessoa do agravante .... o<br />

mundo seria um lugar infinitamente pior do que é agora para vivermos nele". Nesse quadro,<br />

os santos com suas extravagâncias po<strong>de</strong>m ser proféticos e o têm sido. Conclui: "... o santo<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdiçar a própria ternura e ser vitima da febre criativa que o consome, mas a função<br />

geral da sua carida<strong>de</strong> na evolução social é vital e essencial". Desta forma, seu papel precisa<br />

ser avaliado do ponto <strong>de</strong> vista moral. Po<strong>de</strong> parecer paradoxal que, cuidando a religião do<br />

outro mundo, adotemos um critério <strong>de</strong> avaliação tomando por base a adaptação <strong>de</strong> seus frutos<br />

à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ste mundo. James não se furta à questão da sua verda<strong>de</strong>, posto que se <strong>de</strong>teve<br />

apenas na sua utilida<strong>de</strong>. E o fará, finalmente, enfrentando a questão da teologia.<br />

James critica a teologia e não lhe atribui maior valor na medida em que não se<br />

<strong>de</strong>tém na experiência e parte <strong>de</strong> premissas puramente lógicas. Adianta ainda que, se a filosofia<br />

dispuser-se a dar alguma contribuição ao esclarecimento do tema <strong>de</strong>veria conformar-se em ser<br />

apenas e sobretudo "ciência das religiões". Quanto aos estados místicos, conferem autorida<strong>de</strong><br />

apenas a quem os vivência e a mais ninguém. De todos os modos, para quem os estu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

forma isenta e sem parti pris, minam pela base a autorida<strong>de</strong> exclusiva da postura racionalista.<br />

Sua opinião mais geral encontra-se na citação adiante: "Acredito que as pretensões do<br />

cientista sectário são, para dizer o menos, prematuras. As experiências que temos estudado ...<br />

mostram francamente que o universo é mais multiforme do que qualquer seita admite,<br />

incluindo a científica. No fim <strong>de</strong> contas, que são todas as nossas confirmações senão<br />

experiências que concordam com sistemas mais ou menos isolados <strong>de</strong> idéias (sistemas<br />

conceituais), que nossas mentes construíram. Mas, porque, em nome do bom senso,<br />

precisamos presumir que apenas um <strong>de</strong>sses sistemas <strong>de</strong> idéias há <strong>de</strong> ser verda<strong>de</strong>iro? O<br />

resultado óbvio <strong>de</strong> nossa experiência total é que se po<strong>de</strong> tratar o mundo <strong>de</strong> acordo com muitos<br />

sistemas <strong>de</strong> idéias; e que ele é assim tratado por homens diferentes, e dará, cada vez, algum<br />

tipo <strong>de</strong> proveito característico, a quem o trata, ao mesmo tempo que outro tipo <strong>de</strong> proveito<br />

tem <strong>de</strong> ser omitido ou adiado. A ciência nos dá a todos a telegrafia, a iluminação elétrica e a<br />

diagnose, e consegue prevenir e curar algumas moléstias. Na forma da cura psíquica a religião<br />

nos dá a muitos <strong>de</strong> nós serenida<strong>de</strong>, equilíbrio moral e felicida<strong>de</strong>; e previne <strong>de</strong>terminadas<br />

formas <strong>de</strong> doenças, como faz a ciência, ou até mais, com certa classe <strong>de</strong> pessoas. É evi<strong>de</strong>nte,<br />

portanto, que a ciência e a religião são ambas chaves genuínas <strong>de</strong>stinadas a abrir a casa do<br />

tesouro do mundo àquele que for capaz <strong>de</strong> usar qualquer uma <strong>de</strong>las praticamente".<br />

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