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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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misturar valores morais e outros valores (estéticos, vitais, etc.). Segue-se o que chama <strong>de</strong><br />

caracterização dos valores morais como "valores <strong>de</strong> realização". A seu ver, toda experiência<br />

moral consiste em <strong>de</strong>stacar-se em certa medida das realizações alcançadas. Somente no plano<br />

jurídico cabe dizer que o valor <strong>de</strong> realização no sentido <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo-se talvez<br />

aproximar essa idéia do que Reale <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> inesgotabilida<strong>de</strong> do valor) equivale ao valor<br />

que se realiza ("on<strong>de</strong> a or<strong>de</strong>m e a segurança se afirmam como equivalente ao progresso"). Nos<br />

outros planos, essa correspondência significaria tremendo conservadorismo. No mesmo<br />

sentido atua a formulação <strong>de</strong> uma tábua fixa e imóvel que, por sua vez, inviabiliza a sua<br />

pretensão <strong>de</strong> ater-se ao empirismo moral.<br />

Para Gurvitch na doutrina scheleriana o problema da liberda<strong>de</strong> é escamoteado. A<br />

eliminação da liberda<strong>de</strong> e a imobilização dos valores experimentados tornam incompleta a sua<br />

análise da variabilida<strong>de</strong>. No fundo, trata-se do que <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> "autoritarismo moral".<br />

A última objeção diz respeito ao problema do caráter emotivo da experiência<br />

valorativa. Como veremos mais adiante, a doutrina <strong>de</strong> Gurvitch louva-se da mais franca<br />

distinção entre sentimento (tendência, aspiração) e vonta<strong>de</strong>, que é uma ativida<strong>de</strong> direcionada<br />

para a quebra <strong>de</strong> obstáculos. O sentimento tem que se adaptar aos obstáculos. Outra distinção<br />

importante seria a dos estados emotivos sensíveis em contraponto ao que <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong><br />

"sentimentos puros", que transitam para efetivar-se em atos <strong>de</strong> simpatia. Enten<strong>de</strong> que Scheler<br />

consi<strong>de</strong>ra passivos os sentimentos puros e os atos <strong>de</strong> preferência, além <strong>de</strong> se acharem<br />

<strong>de</strong>stacados das aspirações. Segundo afirma, os atos <strong>de</strong> preferência per<strong>de</strong>m o sentido se os<br />

opomos às aspirações.<br />

Os valores seriam uma espécie <strong>de</strong> amantes possessivos que nos atraem e somente<br />

po<strong>de</strong>m ser apreendidos, da parte do sujeito, por uma tendência ativa, por uma aspiração.<br />

Em síntese "não há experiência moral sem intuição volitiva, intuição-ação;<br />

tampouco há experi6encia emotiva sem afetivida<strong>de</strong> em geral, sem ligação com a vonta<strong>de</strong>”.<br />

Assim, Gurvitch acredita estar <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> todos os elementos requeridos para<br />

avançar a sua proposta.<br />

A doutrina <strong>de</strong> Gurvitch<br />

Gurvitch parte da constatação <strong>de</strong> que a vida moral manifesta-se nas condutas.<br />

Aparecem como estando orientadas a <strong>de</strong>terminados objetivos, como bens a serem alcançados<br />

e realizados. O primeiro passo, portanto, consistiria em saber sob que condições os objetivos<br />

perseguidos impõe-se como sendo <strong>de</strong> índole moral. Para <strong>de</strong>slindar a questão, Gurvitch tentará<br />

minucioso <strong>de</strong>smembramento daquelas condutas, avançando conceitos que, <strong>de</strong> fato<br />

proporcionam uma espécie <strong>de</strong> arquitetônica do que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> experiência moral.<br />

Subjacentes às condutas, encontram-se atitu<strong>de</strong>s. Como veremos, este e um<br />

concelto-chave na sua doutrina.<br />

As atitu<strong>de</strong>s são coletivas e individuais. Definem-se como disposições para reagir<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado modo a situações concretas. A seu ver, as atitu<strong>de</strong>s 1) não po<strong>de</strong>m ser reduzidas<br />

às intenções; 2) po<strong>de</strong>m ser conscientes ou inconscientes; e 3) constituem configurações dos<br />

conjuntos que cercam os símbolos morais (fins; virtu<strong>de</strong>s e imagens simbólicas i<strong>de</strong>ais).<br />

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