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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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O segundo momento do processo <strong>de</strong> constituição da moral oci<strong>de</strong>ntal é<br />

representado pela meditação grega. Enquanto na tradição judaica, incorporada ao Velho<br />

Testamento, a moral é ensinada como sendo constituída <strong>de</strong> preceitos sugeridos diretamente<br />

pela divinda<strong>de</strong>, o pensamento grego está voltado para a <strong>de</strong>limitação das esferas da vida<br />

humana. Nessa busca é que iria esbarrar com o problema. Os gregos chamaram ética a<br />

elaboração teórica que se dirige à conceituação da moralida<strong>de</strong>. Na Grécia, a reflexão<br />

autônoma acerca do comportamento moral do homem tem uma história muito rica, se bem os<br />

estudiosos do tema <strong>de</strong>staquem as contribuições <strong>de</strong> Sócrates (470/399 a.C.) e Platão (438/348<br />

a.C.). Contudo, Aristóteles (384/322 a.C.) é o autêntico fundador da disciplina filosófica a que<br />

se <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong> ética, tendo a<strong>de</strong>mais formulado os principais <strong>de</strong> seus problemas teóricos.<br />

A busca do conceito <strong>de</strong> ética, na meditação grega, obe<strong>de</strong>ce a dois esquemas<br />

fundamentais: 1°) Sua dissociação do conceito <strong>de</strong> política; e, 2°) i<strong>de</strong>ntificação da ética seja<br />

com a phrónesis (sabedoria; contemplação; intuição dos valores éticos), com a virtu<strong>de</strong> ou com<br />

o prazer. Em Platão estes aspectos não se acham dissociados.<br />

Aristóteles tem três tratados éticos:<br />

I) <strong>Ética</strong> a Eu<strong>de</strong>mono. Eu<strong>de</strong>mono foi seu discípulo. Durante o século passado foi<br />

consi<strong>de</strong>rada apócrifa. Comentaristas ingleses e alemães atribuíam-na ao próprio<br />

Eu<strong>de</strong>mono e não a Aristóteles. Werner Jaeger no livro Aristóteles (1ª ed. alemã, 1923;<br />

tradução espanhola, editada pelo Fondo <strong>de</strong> Cultura Economica, México, 1946) volta a<br />

atribuí-la a Aristóteles, consi<strong>de</strong>rando a primeira <strong>de</strong> suas éticas, on<strong>de</strong> ainda se faz muito<br />

presente a influência platônica;<br />

II) <strong>Ética</strong> a Nicômaco. Nicômaco era filho <strong>de</strong> Aristóteles. Trata-se da obra em que proce<strong>de</strong><br />

à elaboração autônoma; e,<br />

III) Gran<strong>de</strong> <strong>Ética</strong>. Correspon<strong>de</strong> a uma coletânea das duas obras anteriores, organizada<br />

após a sua morte.<br />

Em síntese, na obra <strong>de</strong> Aristóteles está fixado o que a distingue da tradição judaica<br />

incorporada ao Velho Testamento: a virtu<strong>de</strong> não é obrigatória, é uma conquista, uma<br />

aquisição que não é dada a todos. A virtu<strong>de</strong> exige pré-requisitos e apresenta-se <strong>de</strong> forrna<br />

diferente em relação a certos papéis sociais. Ainda mais: a virtu<strong>de</strong> está associada ao saber, isto<br />

é, à cultura.<br />

A <strong>Ética</strong> a Nicômaco está traduzida para o português e figura na edição recente da<br />

coleção Os pensadores (Aristóteles (II), tradução <strong>de</strong> Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da<br />

versão inglesa <strong>de</strong> W. D. Ross, São Paulo, Abril Cultural, 1979, págs. 45-236). Dispõe-se<br />

também da tradução <strong>de</strong>vida a Mario da Gama Kury, publicada pela Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Brasília. Kury toma por base a edição <strong>de</strong> I. Bekker – em geral adotada na publicação das<br />

obras <strong>de</strong> Aristóteles -, patrocinada pela Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> Berlim (Aristotelis Opera,<br />

1831-1859), 5 volumes; reed. 1874-1879; reimpressão em 1968).<br />

Caberia ao cristianismo aproximar as duas tradições antes caracterizadas, grega e<br />

judaica.A pregação <strong>de</strong> Cristo repousa na idéia <strong>de</strong> pessoa, a que não chegara a civilização<br />

greco-romana. Nesta, embora estejam presentes vários ingredientes do conceito <strong>de</strong> pessoa<br />

humana, o característico do homem era a condição <strong>de</strong> cidadão, isto é, <strong>de</strong> pertencer à cida<strong>de</strong>, o<br />

que encaminhava a meditação no sentido <strong>de</strong> averiguar distinções entre os homens ao invés<br />

daquilo que os aproximava. Assim, somente com o cristianismo seria dado o passo essencial<br />

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