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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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elativida<strong>de</strong>” (hierarquização) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua relação com "valores absolutos". Esclareça-se<br />

que a alegada "sabedoria comum" está referida à obra dos filósofos que do tema se ocuparam.<br />

A hierarquização estabelecida por Max Scheler repousa ainda numa or<strong>de</strong>nação<br />

dos valores segundo seus suportes essenciais (valores pessoais e pertencentes aos bens;<br />

valores, próprios e <strong>de</strong> outros; individuais e coletivos, etc.) e as modalida<strong>de</strong>s axiológicas.<br />

Ainda que os suportes fixem alguma hierarquia <strong>de</strong> preferência, a hierarquização fundamental<br />

provém das <strong>de</strong>nominadas modalida<strong>de</strong>s.<br />

As modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> valores são estabelecidas a partir dos aspectos sensoriais<br />

(agradável e <strong>de</strong>sagradável) e da sensibilida<strong>de</strong> vital. Estes dizem respeito ao bem estar (saú<strong>de</strong>;<br />

doença) e à prosperida<strong>de</strong>, que procura associar ao que é consi<strong>de</strong>rado nobre ou ignóbil.<br />

Seguem-se os valores espirituais (belo e feio; justo e injusto e os valores do conhecimento –<br />

filosóficos; científicos, etc.). A última modalida<strong>de</strong>, que se situa no topo da hierarquia, diz<br />

respeito ao sagrado e ao profano. Em síntese, esta seria a hierarquia <strong>de</strong> que se trata: valores<br />

religiosos, valores espirituais, valores vitais e valores sensíveis.<br />

Avaliação critica<br />

Como afirmamos prece<strong>de</strong>ntemente, a obra <strong>de</strong> Max Scheler que vimos <strong>de</strong> comentar<br />

representou um marco essencial na constituição <strong>de</strong> novo objeto para a meditação ética,<br />

permitindo-nos falar <strong>de</strong> "período contemporâneo" (1) da disciplina. Teve o mérito <strong>de</strong> fixar a<br />

problemática merecedora <strong>de</strong> aprofundamento. Assim, O formalismo na ética tornou-se uma<br />

obra clássica, no sentido <strong>de</strong> que, embora no plano da filosofia nada possa ser transformada em<br />

dogma, constitui um ponto <strong>de</strong> referência ao qual <strong>de</strong>ve-se sempre retornar.<br />

O principal mérito <strong>de</strong> Scheler consiste em haver partido da meditação kantiana,<br />

que correspon<strong>de</strong> a uma espécie <strong>de</strong> ápice da ética oci<strong>de</strong>ntal. Os principais textos subsequentes,<br />

relacionados ao tema, <strong>de</strong>dicam-se justamente a comentar e criticar o posicionamento <strong>de</strong><br />

Scheler, como procuraremos <strong>de</strong>monstrar em seguida.<br />

Contudo, não nos parece correta a sua tese <strong>de</strong> que "todos os bens presentes ao<br />

mundo po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>struídos pelas forças da natureza ou da história". No primeiro caso<br />

(<strong>de</strong>struição pela natureza), equivaleria à liquidação da espécie humana, hipótese que, por sua<br />

radicalida<strong>de</strong> – isto é, <strong>de</strong>saparecida a espécie humana não haverá mais discussão do que quer<br />

que seja – não faz o menor sentido consi<strong>de</strong>rar. E, quanto à sua <strong>de</strong>struição pela história, o<br />

equívoco <strong>de</strong> Scheler consiste em haver <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Emil Lask<br />

(1875/1915), que permitiu nos libertássemos da camisa <strong>de</strong> força representada pela divisão dos<br />

objetos em naturais e i<strong>de</strong>ais ao abrir o caminho a uma terceira esfera, constituída pelos objetos<br />

referidos a valores. Seu sustentáculo é a criação humana, isto é, a cultura. A própria<br />

hierarquização <strong>de</strong> valores proposta por Scheler só se sustenta nos marcos da cultura oci<strong>de</strong>ntal.<br />

(1) O conceito <strong>de</strong> Filosofia Contemporânea, para distingui-la da Filosofia Mo<strong>de</strong>rna, geralmente é consi<strong>de</strong>rado<br />

como iniciando-se pelo empenho <strong>de</strong> superação do positivismo. As filosofia nacionais empreen<strong>de</strong>ram tal caminho<br />

autonomamente mas acabaram por segui-lo. Aquela diretriz seria fixada pela filosofia alemã, ao iniciar o<br />

chamado "movimento <strong>de</strong> volta a Kant", ainda nas ultimas décadas do século XIX, coroando-se antes mesmo da<br />

primeira guerra., com a obra <strong>de</strong> Herman Cohen (1842/1918). O problema da experiência moral é um <strong>de</strong>rivativo<br />

do tema da experiência cultural, suscitado por um dos <strong>de</strong>sdobramentos do neokantismo <strong>de</strong> Cohen, o <strong>de</strong>nominado<br />

culturalismo (Cf. A. Paim - Problemática do culturalismo, 2ª edição, 1995).<br />

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