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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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utilitarismo criou o clima favorável à sua eclosão, já que durante mais <strong>de</strong> um século <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u<br />

ardorosamente a aplicação dos métodos matemáticos à conduta social dos homens, justamente<br />

a que se <strong>de</strong>dicaria a ciência política contemporânea.<br />

Embora esquemático, o quadro prece<strong>de</strong>nte permite verificar que o utilitarismo não<br />

chega a ser uma fundamentação da moral social <strong>de</strong> tipo consensual. Na verda<strong>de</strong> pressupõe a<br />

sua existência e cuida tão somente <strong>de</strong> averiguar os mo<strong>de</strong>los científicos mais a<strong>de</strong>quados a<br />

medi-la e às variações que possa registrar.<br />

Quanto à hipótese <strong>de</strong> que haveria na socieda<strong>de</strong> uma coincidência na busca do<br />

máximo <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, Joseph Butler respon<strong>de</strong> por antecedência a semelhante pretensão, no<br />

texto intitulado Dissertação sobre a natureza da virtu<strong>de</strong>, ao <strong>de</strong>senvolver o quinto argumento.<br />

Ali se insurge quanto à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tudo reduzir, em matéria <strong>de</strong> moral social, a um único<br />

princípio, ainda que este seja a benevolência. Se isto fosse possível, isto é, agir <strong>de</strong> forma a<br />

obter o máximo <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> para a socieda<strong>de</strong>, estaria justificado o banditismo que em certa<br />

época assolou a Inglaterra, a pretexto <strong>de</strong> roubar os ricos para dar aos pobres. Ainda mais: a<br />

doutrina, em sua generalida<strong>de</strong>, tampouco dá conta do fato inegável da simpatia por<br />

<strong>de</strong>terminadas pessoas, existente e reconhecida entre os homens, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do modo<br />

como se comportam. Nesse aspecto particular, é certo que a doutrina da simpatia viria a ser,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Butler, conforme assinalamos, elemento <strong>de</strong>stacado na fundamentação moral aqui<br />

estudada. Ainda assim, o argumento nem por isto <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter o seu peso.<br />

A esse propósito, Butler escreveria:<br />

"E embora seja nossa tarefa e nosso <strong>de</strong>ver, <strong>de</strong>ntro dos limites da veracida<strong>de</strong> e da<br />

justiça, contribuir para' o conforto, a conveniência ou até a alegria e ao divertimento <strong>de</strong> nossos<br />

semelhantes, do nosso estreito ponto <strong>de</strong> vista é bastante incerto que tal tentativa possa, em<br />

<strong>de</strong>terminados casos, acarretar um saldo <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> para todos, uma vez que existem tantos<br />

fatores tão remotos que <strong>de</strong>vem ser levados em conta." (14)<br />

Assim, po<strong>de</strong>-se dizer que o utilitarismo não chega a ser o <strong>de</strong>sdobramento natural<br />

do gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>bate teórico do século XVIII, antes caracterizado, resultando nitidamente <strong>de</strong> um<br />

outro contexto cultural, on<strong>de</strong> se imagina possa ser elaborada moral científica.<br />

Cap. 5 – A inteira separação entre moral e religião na obra <strong>de</strong> Kant<br />

a) O ponto em que Kant retoma a hipótese <strong>de</strong> Bayle<br />

A questão teórica que vimos examinando diz respeito à plena configuração do<br />

âmbito da moral, configuração esta que permita distingui-la da religião. A tradição judaicacristã<br />

é que proce<strong>de</strong>u à aproximação entre as duas esferas. Na Grécia, a conquista da virtu<strong>de</strong><br />

dizia respeito à obtenção da felicida<strong>de</strong> na polis, que era precisamente o objetivo da política.<br />

O propósito <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r àquela separação – no plano teórico, porquanto na vida<br />

cotidiana as pessoas não se preocupam com tais distinções – é um tema tipicamente mo<strong>de</strong>rno,<br />

isto é, que somente aparece na Época Mo<strong>de</strong>rna. Foi na Inglaterra, como vimos, que sua<br />

(14) A Dissertation of the Nature of Virtue in Butler’s Fifteen Sermons, London, Society for Promotion Christian<br />

Knowledge, 1970, p. 153.<br />

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