Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
valorações morais. Reduzido número <strong>de</strong> impulsos são associados a diferentes sentimentos e,<br />
pelo efeito que produzem na socieda<strong>de</strong> – por sua utilida<strong>de</strong>, para usar a terminologia<br />
empregada por nosso autor, são relacionados seja ao vício seja à virtu<strong>de</strong>.<br />
Mas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provém a circunstância <strong>de</strong> que os homens sejam instados e<br />
estimulados a seguir aqueles comportamentos que estão associados à virtu<strong>de</strong>? Recorrer aqui<br />
ao princípio <strong>de</strong> consciência, <strong>de</strong> que fala Butler, há <strong>de</strong> ter parecido a Hume que seria conce<strong>de</strong>r<br />
àqueles que abordam a moral privilegiando os seus aspectos racionais. Longe do gran<strong>de</strong><br />
pensador qualquer espécie <strong>de</strong> menosprezo à educação ou à exaltação da virtu<strong>de</strong>. Ao contrário,<br />
é o primeiro a reconhecer a sua importância e preten<strong>de</strong> mesmo, com sua obra, estar<br />
contribuindo naquele sentido. Contudo, seu empenho cifra-se numa outra direção: no encontro<br />
daqueles impulsos originários sobre os quais repousam as criações artificiais da moral.<br />
Levando em conta que, ao contribuir para obter a aprovação geral, o<br />
comportamento utilitário cria um clima <strong>de</strong> simpatia, Hume foi levado ao exame mais <strong>de</strong>tido<br />
<strong>de</strong>ste sentimento.<br />
Em suas análises conclui que a simpatia constitui, originariamente, um impulso<br />
que nos leva à i<strong>de</strong>ntificação com o outro. Todos já experimentamos situações em que<br />
sentimos vergonha, dor, alegria por um outro, mesmo nas circunstâncias em que tal reação<br />
sequer seja ou possa ser percebida pelo outro. Esse sentimento é que permitiu se criassem<br />
laços extremamente sólidos na vida social. A par disto, é o que leva os homens a preferir o<br />
comportamento virtuoso, aprovado pela socieda<strong>de</strong>. Hume não consi<strong>de</strong>ra que tal hipótese<br />
correspon<strong>de</strong>ria a um constrangimento capaz <strong>de</strong> retirar da ação moral o seu caráter <strong>de</strong> ato livre,<br />
porquanto enten<strong>de</strong> que a evidência moral <strong>de</strong> que fala, quando busca as <strong>de</strong>terminantes da ação,<br />
não é mais que uma "conclusão sobre as ações dos homens, tiradas da consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> seus<br />
motivos, <strong>de</strong> seu caráter e <strong>de</strong> sua situação". (10)<br />
Acerca do papel da simpatia teria oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrever o seguinte no <strong>Tratado</strong>:<br />
"Parece assim que a simpatia é um princípio muito po<strong>de</strong>roso na natureza humana,<br />
que ela tem uma gran<strong>de</strong> influência sobre nosso gosto do belo e que ela produz nosso<br />
sentimento moral nas virtu<strong>de</strong>s artificiais. Po<strong>de</strong>mos presumir que também engendra muitas<br />
outras virtu<strong>de</strong>s e que as qualida<strong>de</strong>s obtêm nossa aprovação porque ten<strong>de</strong>m ao bem da<br />
humanida<strong>de</strong>. Esta presunção torna-se necessariamente uma certeza, quando <strong>de</strong>scobrimos que<br />
muitas das qualida<strong>de</strong>s, que aprovamos naturalmente, têm efetivamente esta tendência e que<br />
fazem do homem um membro a<strong>de</strong>quado da socieda<strong>de</strong>; mas que as qualida<strong>de</strong>s que<br />
<strong>de</strong>saprovamos naturalmente têm uma tendência contrária e tornam perigoso ou <strong>de</strong>sagradável<br />
todo intercâmbio com quem as possui. Des<strong>de</strong> que evi<strong>de</strong>nciamos que tais tendências têm força<br />
suficiente para produzir o mais forte sentimento moral, não po<strong>de</strong>mos, <strong>de</strong> modo algum,<br />
razoavelmente, neste caso, procurar uma outra causa <strong>de</strong> aprovação ou <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nação; eis a<br />
máxima que não se <strong>de</strong>ve transgredir em filosofia, segundo a qual, quando uma causa<br />
particular serve para explicar um efeito, <strong>de</strong>vemos contentar-nos ao invés <strong>de</strong> multiplicar as<br />
causas, sem necessida<strong>de</strong>. Obtivemos experiências acerca das virtu<strong>de</strong>s artificiais, on<strong>de</strong> a<br />
tendência das qualida<strong>de</strong>s para o bem social é a única causa <strong>de</strong> nossa aprovação, sem que<br />
precisemos recorrer ao concurso <strong>de</strong> outro princípio. Po<strong>de</strong>mos apreen<strong>de</strong>r a força <strong>de</strong> tal<br />
princípio. Quando po<strong>de</strong> intervir – e a qualida<strong>de</strong> aprovada é realmente vantajosa para a<br />
(10) Livro II. As paixões. III parte - A vonta<strong>de</strong> e as paixões. Seção I. Liberda<strong>de</strong> e necessida<strong>de</strong>. <strong>Tratado</strong>, ed. cit., p.<br />
509.<br />
116