Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
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propriamente dita, e não apenas investigação <strong>de</strong> seus fundamentos. Dividiu-a em duas partes,<br />
<strong>de</strong>nominando-as: Primeiros princípios metafísicos da doutrina do direito, publicada em 1796,<br />
e Primeiros princípios metafísicos da doutrina da virtu<strong>de</strong> ( 1797).<br />
Ao contrário <strong>de</strong> seus pre<strong>de</strong>cessores, Kant rejeita a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir uma<br />
doutrina da virtu<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações sobre os sentimentos. O cumprimento da lei<br />
moral não <strong>de</strong>ve ser buscado com vistas à felicida<strong>de</strong> mas por simples respeito à moralida<strong>de</strong>.<br />
Dessa fornia, a doutrina da virtu<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> premissas exclusivamente racionais. A questão<br />
consiste, pois, no estabelecimento dos <strong>de</strong>veres. Divi<strong>de</strong>-os em dois gran<strong>de</strong>s grupos, os <strong>de</strong>veres<br />
do homem para consigo mesmo e os <strong>de</strong>veres para com os outros homens. A transcrição<br />
subseqüente diz respeito apenas a essa segunda parte.<br />
§ 23<br />
A divisão mais elevada dos <strong>de</strong>veres para com os outros homens po<strong>de</strong> ser a<br />
seguinte: por um lado os <strong>de</strong>veres que os obrigam e, por outro lado, os <strong>de</strong>veres cuja execução<br />
não traz uma obrigação para o outro. – A realização dos primeiros é (relativamente a outrem)<br />
meritória, a dos segundos é um <strong>de</strong>ver obrigatório. – O amor e o respeito são os sentimentos<br />
que acompanham a prática <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>veres. Eles po<strong>de</strong>m ser examinados separadamente (cada<br />
um por si) e existir <strong>de</strong>ssa maneira. (Assim po<strong>de</strong>-se amar o próximo mesmo se este mereça<br />
apenas pouco respeito; e da mesma forma <strong>de</strong>ve-se respeitar a todo homem, abstraindo-se o<br />
fato <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong>ria julgá-lo muito pouco digno <strong>de</strong> amor.) Mas em princípio eles estão<br />
sempre, segundo a lei, ligados um ao outro em um <strong>de</strong>ver, apenas <strong>de</strong> tal maneira que ora é um<br />
<strong>de</strong>ver e ora o outro que constitui no caso o princípio, ao qual o outro <strong>de</strong>ver está ligado<br />
acessoriamente. – Nós <strong>de</strong>vemos, assim, nos consi<strong>de</strong>rar obrigados a ser generosos em relação a<br />
um pobre; mas como este favor implica também que o seu bem <strong>de</strong>penda <strong>de</strong> minha<br />
generosida<strong>de</strong>, e com isto todavia humilha o outro, é <strong>de</strong>ver evitar humilhação àquele que<br />
recebe, por uma conduta que apresente esta generosida<strong>de</strong> ou como uma simples obrigação, ou<br />
como um pequeno obséquio <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, e conservar-lhe o respeito que lhe cabe.<br />
§ 24<br />
Quando se trata das leis do <strong>de</strong>ver (não das leis da natureza) e isto nas relações<br />
exteriores dos homens uns com os outros, nós nos consi<strong>de</strong>ramos em um mundo moral<br />
(inteligível), no qual segundo a analogia com o mundo físico, a ligação dos seres racionais<br />
(sobre a terra) se faz por atração e repulsão. Graças ao princípio do amor recíproco os<br />
homens são levados a se aproximar continuamente uns dos outros; e graças ao do respeito,<br />
que eles se <strong>de</strong>vem uns aos outros, a se manterem à distância uns dos outros e, se uma <strong>de</strong>ssas<br />
gran<strong>de</strong>s forças morais viesse a <strong>de</strong>clinar, então, se posso me servir aqui das palavras <strong>de</strong> Haller,<br />
sob um outro prisma "o nada (da imoralida<strong>de</strong>) engoliria em seu abismo todo o reino dos seres<br />
(morais) como uma gota d'água".<br />
§ 25<br />
Mas o amor não <strong>de</strong>ve ser entendido aqui como sentimento (esteticamente), ou<br />
seja, como um prazer obtido da perfeição <strong>de</strong> outros homens, como um amor da satisfação<br />
proporcionada pela sua perfeição (pois não se po<strong>de</strong> ser obrigado por outrem a ter<br />
sentimentos), mas <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado como um axioma <strong>de</strong> benevolência (enquanto prática)<br />
que tem por seguimento a beneficência.<br />
Deve-se dizer precisamente a mesma coisa do respeito <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vemos dar prova<br />
com relação aos outros: não se trata com efeito simplesmente do sentimento que provém da<br />
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