Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
3. A idéia do sagrado (1917), <strong>de</strong> Rudolf Otto (1869/1937)<br />
Rudolf Otto foi professor em diversas universida<strong>de</strong>s alemãs, tendo chegado a<br />
titular <strong>de</strong> teologia em Breslau, <strong>de</strong> 1915 a 1917, transferindo-se em seguida para Marburgo,<br />
on<strong>de</strong> se aposentou em 1929.<br />
Seguiu a orientação daqueles autores, como Jacob Frie<strong>de</strong>rich Fries (1773/1893),<br />
que consi<strong>de</strong>ravam certos aspectos do i<strong>de</strong>alismo pós-kantiano como violadores da crítica da<br />
razão, propugnada por Kant, notadarnente a filosofia especulativa da natureza. Fries entendia<br />
que esta <strong>de</strong>veria partir dos resultados das ciências particulares, a exemplo do procedimento <strong>de</strong><br />
Kant em relação a Newton. Somente uma tal investigação po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>terminar precisamente<br />
quais são as categorias a priori que lhes dão sustentação, isto é, quais os princípios que não<br />
provêm da experiência.<br />
Rudolf Otto aplicou tais procedimentos ao estudo da religião, motivo pelo qual<br />
consi<strong>de</strong>ra-se que haja efetivado una análise <strong>de</strong> caráter transcen<strong>de</strong>ntal, na acepção que Kant<br />
<strong>de</strong>u a tal <strong>de</strong>nominação. O termo em Kant se opõe tanto ao que é empírico como ao que é<br />
transcen<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong>signa uma forma particular <strong>de</strong> conhecimento. Na Crítica da Razão Pura<br />
teria oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> afirmar "Chamo transcen<strong>de</strong>ntal todo conhecimento que, em geral, não<br />
se ocupa tanto dos objetos como <strong>de</strong> nossos conceitos a priori dos objetos". Vale dizer trata-se<br />
<strong>de</strong> organizar o nosso conhecimento acerca do fenômeno, <strong>de</strong> maneira que possa alcançar<br />
valida<strong>de</strong> absoluta.<br />
As análises <strong>de</strong> Otto obe<strong>de</strong>cem a tal pressuposto. Além disto, seguindo a Fries<br />
admite seja consi<strong>de</strong>rada a experiência psicológica, não tanto para subjugar o objeto do<br />
conhecimento ao relativismo da vida psíquica, mas para i<strong>de</strong>ntificar as certezas que propicia e,<br />
por essa via, aproximar-se da formalização <strong>de</strong> caráter a priori, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que, no seu<br />
entendimento, a experiência completa da consciência abrange não apenas a percepção mas<br />
também a possibilida<strong>de</strong> do pensamento.<br />
Além do seu texto fundamental (aparecido em 1917), com o título <strong>de</strong> O sagrado –<br />
Das Heilege, que a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oxford, Inglaterra, traduziu em 1923 com o título <strong>de</strong> The<br />
i<strong>de</strong>a of Holy, (adotado também nas traduções a outras línguas), Otto publicou extensa<br />
bibliografia, na qual se <strong>de</strong>stacam A concepção do Espírito Santo em Lutero (1899); Vida e<br />
ação <strong>de</strong> Jesus (1902); Concepção naturalista e concepção religiosa do mundo (1904); A<br />
filosofia da religião <strong>de</strong> Kant-Fries e sua aplicação à teologia (1909) e Estudos relativos ao<br />
nuinoso (1923). Suas concepções mereceram diversos estudos. O Curso <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>s da<br />
Open University (Inglaterra) <strong>de</strong>dica uma <strong>de</strong> suas unida<strong>de</strong>s ao livro A idéia do Sagrado.<br />
A categoria fundamental <strong>de</strong> que parte Otto é a <strong>de</strong> numinoso. O termo é pouco<br />
usual mas se relevou muito expressivo. Provém da palavra latina numine que significa<br />
divinda<strong>de</strong>. O sufixo oso correspon<strong>de</strong> a cheio <strong>de</strong> (medroso = cheio <strong>de</strong> medo; numinoso = cheio<br />
<strong>de</strong> divinda<strong>de</strong>).<br />
Rudolf Otto quer apreen<strong>de</strong>r o racional e o irracional na idéia <strong>de</strong> Deus, para o que<br />
proce<strong>de</strong> a análises histórica, psicológica e semântica do conceito <strong>de</strong> numinoso. Tratando-se <strong>de</strong><br />
um a priori não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido mas po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito.<br />
Para alcançá-lo, enten<strong>de</strong> ser necessário proce<strong>de</strong>r à análise circunstanciada das<br />
experiências do temor, da fascinação e do aniquilamento. Tais noções, contudo, não se<br />
170