Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
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por Scheler cujo mérito, enten<strong>de</strong>, consistiria em haver aproximado dois aspectos<br />
tradicionalmente consi<strong>de</strong>rados isoladamente, a saber, o caráter apriorístico da lei moral e a<br />
natureza <strong>de</strong> sua percepção, bem como as razões <strong>de</strong> sua aceitação. Apesar <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>scoberto a<br />
natureza do problema, parece-lhe, Scheler não o teria solucionado <strong>de</strong> modo satisfatório.<br />
Na visão <strong>de</strong> Hartmann, dois seriam os problemas centrais: em que consiste a lei<br />
moral (refere expressamente a segunda questão kantiana, ao perguntar "o que <strong>de</strong>vemos<br />
fazer"), <strong>de</strong> um lado, e, <strong>de</strong> outro, como cumpri-la, ou, para dizer com suas próprias palavras,<br />
"como tornar-se pessoa humana no sentido pleno da palavra".<br />
No fundamental, Hartmann adota a ética scheleriana, a partir mesmo da<br />
consi<strong>de</strong>ração da experiência moral como sendo o seu tema. Aceita também a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />
"ética material dos valores". A ponto do próprio Scheler haver escrito numa nova introdução à<br />
3ª edição <strong>de</strong> O formalismo na ética, aparecida em 1926, que "sob o ponto <strong>de</strong> vista ético,<br />
tivemos a gran<strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong> ver confirmada o valor <strong>de</strong> nossas teses por um pensador da<br />
importância, da originalida<strong>de</strong> e do espírito cientifico <strong>de</strong> Nicolai Hartmann".<br />
A divergência situa-se no plano da percepção dos valores. Hartmann não quer<br />
ficar na <strong>de</strong>pendência da emoção e trata <strong>de</strong> encontrar uma forma <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>la<br />
in<strong>de</strong>penda. Para tanto intercala entre a pessoa humana e o que Hegel chamou <strong>de</strong> espírito<br />
objetivo, uma . terceira esfera que <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> espírito objetivado. Este correspon<strong>de</strong>ria aos<br />
códigos, às regras, ao conhecimento científico e às obras <strong>de</strong> arte, achando-se apoiado na<br />
subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem o instaura. Para Miguel Reale, "essa fratura entre a obra e o obreiro<br />
importa em duas conseqüências, ambas negativas. Em primeiro lugar, os bens culturais<br />
<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser mediadores e base essencial <strong>de</strong> mensagem e informação <strong>de</strong> uma geração para<br />
outras, ficando comprometida <strong>de</strong> vez a continuida<strong>de</strong> histórica, que é fundamentalmente <strong>de</strong><br />
natureza dialógica. ... De outro lado, sem se admitir que os bens culturais constituem<br />
intencionalida<strong>de</strong>s objetivadas, e, por conseguinte, dotadas <strong>de</strong> sentido positivo, per<strong>de</strong>-se <strong>de</strong><br />
vista a correlação essencial entre valor e tempo, e, com isto, a compreensão <strong>de</strong> que os valores<br />
são objetivos, não como objetos e arquétipos i<strong>de</strong>ais, mas como entes objetivamente<br />
significantes no todo da vida humana e <strong>de</strong> sua história". (2)<br />
Max Scheler, por sua vez, diz que se vê forçado a rejeitar "um céu <strong>de</strong> idéias e <strong>de</strong><br />
valores que <strong>de</strong>veriam existir <strong>de</strong> modo completamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da essência e da<br />
realização possível dos atos vivos <strong>de</strong> caráter espiritual - in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes não só do homem e da<br />
consciência humana, mas da essência e da realização <strong>de</strong> um espírito vivo, qualquer que<br />
seja". (3)<br />
A dificulda<strong>de</strong> parece residir no abandono da gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Lask, ao<br />
preconizar a existência <strong>de</strong> esfera <strong>de</strong> objetos referidos a valores, justamente o que permite seja<br />
atribuída ao valor moral a concretitu<strong>de</strong> que, ambos – Scheler e Hartmann - buscaram, sem têlo<br />
alcançado.<br />
(2) Experiência e cultura, 1ª ed., EDUSP/Grijalbo, 1977, p. 233; 2ª ed., Bookseller, 2000, p. 270-271.<br />
(3) Obra citada, ed. cit., p. 25.<br />
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