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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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Ao analisarmos os vários aspectos da evolução do numinoso, é importante<br />

lembrar, no entanto, que não se trata da sua transmutação em outras realida<strong>de</strong>s, mas do seu<br />

preenchimento com outros conteúdos, <strong>de</strong> forma tal que essa evolução processa-se e consumase<br />

no interior do numinoso, acrescentando a tensão interna entre o primigênio aspecto<br />

irracional e os novos conteúdos racionais.<br />

Embora o sentimento do numinoso evolua da forma que anteriormente foi<br />

mostrada, Rudolf Otto <strong>de</strong>staca que o sagrado é uma categoria cornposta e a priori. “O sagrado<br />

– frisa o citado autor – no sentido pleno da palavra, é portanto para nós uma categoria<br />

composta; as suas partes componentes são os seus elementos racionais e irracionais. Mas<br />

igualmente em relação a uns e a outros, o sagrado é uma categoria pura e a priori Essa é uma<br />

afirmação que <strong>de</strong>vemos sustentar com todo rigor, perante qualquer sensualismo e qualquer<br />

evolucionismo".<br />

Rudolf Otto percorre aqui o caminho assinalado por Kant na Crítica da Razão<br />

Pura: se bem é certo que o nosso conhecimento começa com a experiência, nem todo ele<br />

origina-se da experiência Em relação ao conhecimento empírico, Kant distinguiu o que<br />

recebemos a partir das impressões sensíveis, daquele outro que a nossa faculda<strong>de</strong> elabora e<br />

proporciona por si mesma, “instigada meramente pelas impressões sensíveis”. O<br />

conhecimento do numinoso é <strong>de</strong>ssa natureza. Desperta em nós, a partir do conhecimento do<br />

mundo, mas não se reduz a ele, inclusive chega até se lhe contrapor. Pela força da reflexão<br />

sobre a nossa razão po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificá-lo como um conhecimento puro, ou seja, que confere<br />

objetivida<strong>de</strong>, e "a priori" ou seja que brota "do fundo da alma" e que é portanto irredutível à<br />

experiência. (2)<br />

(2) Tenha-se presente que Kant, ao postular que o a priori não vem da experiência, <strong>de</strong>ixou em aberto a questão <strong>de</strong><br />

sua origem, o mesmo po<strong>de</strong>ndo dizer-se <strong>de</strong> Otto. Não se trata, certamente, <strong>de</strong> algo inato. Hegel, ao procurar<br />

estabelecer o ciclo histórico em que se gerou essa ou aquela categoria, forneceu uma pista mais fecunda.<br />

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