Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
No século passado, a discussão da problemática moral, <strong>de</strong> ângulo filosófico, é<br />
dominada pelas soluções ecléticas ou cientificistas. No primeiro caso, tenta-se conciliar a<br />
solução kantiana com a interpretação tomista da ética aristotélica. Na espécie, a hipótese<br />
melhor sucedida <strong>de</strong>ve-se a Paul Janet (1823/1899), filósofo francês que seria muito difundido<br />
no Brasil. Quanto à suposição <strong>de</strong> que seria possível elaborar-se moral científica – isto é, um<br />
código obrigatório, formulado segundo os procedimentos adotados pela ciência – acabaria<br />
<strong>de</strong>sabrochando plenamente neste século, como fundamento do Estado totalitário. A<br />
experiência soviética é o <strong>de</strong>sfecho trágico <strong>de</strong>ssas doutrinas.<br />
Finalmente, se não se preten<strong>de</strong> enumeração exaustiva mas apenas indicar os<br />
mo<strong>de</strong>los essenciais, <strong>de</strong>staca-se a ética <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, cuja hipótese inicial é <strong>de</strong>vida a<br />
Max Weber (1864/1920). Preten<strong>de</strong> ser o <strong>de</strong>sdobramento natural do processo em que se<br />
dissociam moral e religião. Retoma, assim, a herança kantiana. Ao mesmo tempo, entretanto,<br />
submete à crítica a suposição oitocentista da socieda<strong>de</strong> racional, marchando ao encontro <strong>de</strong><br />
um mo<strong>de</strong>lo ético que prescreve a tradição mas incorpore os princípios consagrados pelo<br />
consenso.<br />
2. Principais mo<strong>de</strong>los éticos<br />
Em síntese, limitando a análise à experiência oci<strong>de</strong>ntal e consi<strong>de</strong>rando-a em seu<br />
<strong>de</strong>sdobramento histórico, a meditação <strong>de</strong> cunho filosófico ensejada pela moral levaria aos<br />
seguintes mo<strong>de</strong>los éticos:<br />
I. A ética grega, segundo a qual a virtu<strong>de</strong> não é obrigatória, exigindo prérequisitos<br />
e apresentando-se <strong>de</strong> forma distinta em relação a certos papéis sociais, achando-se<br />
associada ao saber.<br />
II. A ética <strong>de</strong> salvação, elaborada durante a Ida<strong>de</strong> Média, assim <strong>de</strong>nominada por<br />
ter interpretado a ética grega <strong>de</strong> ângulo teológico, dando precedência à vida eterna.<br />
III. A ética social, elaborada nas nações protestantes, na Época Mo<strong>de</strong>rna, com o<br />
propósito <strong>de</strong> fixar critérios para a incorporação <strong>de</strong> princípios morais à socieda<strong>de</strong>, já que a<br />
moralida<strong>de</strong> básica é entendida como sendo individual e dizendo respeito a uma relação com o<br />
Criador que não admite mediações.<br />
IV. A ética do <strong>de</strong>ver, formulada por Kant, que circunscreve o problema ético ao da<br />
fundamentação da moral, preconizando uma solução racional, sem recurso à divinda<strong>de</strong>.<br />
V. A ética eclética, que se propõe conciliar o racionalismo kantiano com a<br />
simultânea admissão <strong>de</strong> inclinações morais nos homens, adotada pelos neotomistas.<br />
VI. A ética dos fins absolutos, segundo a qual "os fins justificam os meios", que,<br />
sem abdicar dos pressupostos cientificistas que a fazem renascer na Época Mo<strong>de</strong>rna, veio a<br />
ser encampada pelos marxistas.<br />
VII. A ética <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, proposta por Max Weber, que preten<strong>de</strong> fazer<br />
renascer a tradição kantiana, no que diz respeito à eliminação da <strong>de</strong>pendência à religião,<br />
reelaborando-a para abandonar os vínculos que porventura tivesse estabelecido com a<br />
suposição <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> racional.<br />
O presente texto consiste numa introdução ao estudo da problemática enunciada.<br />
13