Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
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As atitu<strong>de</strong>s morais são mais complexas que os atos mentais (juízos ou intenções).<br />
É difícil associá-las aos imperativos e aparecem com dificulda<strong>de</strong> nos objetivos e nos fins.<br />
Po<strong>de</strong>m ser flutuantes e persistentes; inesperadas e previsíveis; aparecerem como<br />
incompreensíveis ou tornar-se acessível à análise empírica. Po<strong>de</strong>m propiciar a apreensão dos<br />
valores implicados nos fins; das virtu<strong>de</strong>s; dos imperativos bem como das imagens simbólicas<br />
i<strong>de</strong>ais.<br />
A sua primeira conclusão formula-se <strong>de</strong>ste modo: a investigação da experiência<br />
moral <strong>de</strong>ve começar pelas atitu<strong>de</strong>s.<br />
A segunda consiste em afirmar que a análise da experiência moral imediata (ou<br />
simplesmente da ação moral) requer que se consi<strong>de</strong>re condutas, atitu<strong>de</strong>s, símbolos exteriores,<br />
<strong>de</strong>cisões, criações e intuições volitivas.<br />
Para apreen<strong>de</strong>r o mencionado conjunto é necessário levar em conta que a<br />
experiência moral somente se dá na ação. Pressupõe naturalmente a intenção mas se não se<br />
realiza pela ação não se dá efetivamente. Sendo ação envolve uma escolha ("Não se po<strong>de</strong> com<br />
efeito escolher entre alternativas senão apreen<strong>de</strong>ndo na ação voluntária direções que a<br />
ultrapassem e que não tenham sido fixadas <strong>de</strong> antemão pela inteligência"). Essas escolhas<br />
tampouco são puramente racionais. Para compreendê-las é necessário ter presente que,<br />
subjacentes às condutas (que correspon<strong>de</strong>m à manifestação exterior da vida moral)<br />
encontram-se as atitu<strong>de</strong>s. Reduzindo-as à experiência moral imediata cabe dar-se conta <strong>de</strong><br />
seus símbolos exteriores "perscrutando em seguida até as <strong>de</strong>cisões e criações, as intuições<br />
volitivas que as ultrapassam e inspiram".<br />
Gurvitch consi<strong>de</strong>ra que há três camadas imediatas da experiência moral: a) a<br />
experiência dos <strong>de</strong>veres, que seria a mais acessível; b) a experiência dos valores (camada mais<br />
profunda e, c) a experiência da liberda<strong>de</strong> criadora ("a mais imediata e a mais distante <strong>de</strong> nós").<br />
Finalmente, Gurvitch aprofunda a distinção entre sentimento, vonta<strong>de</strong> e<br />
inteligência, antes referida. O sentimento não é senão uma tendência, uma aspiração, uma<br />
ativida<strong>de</strong> diminuída pelos obstáculos. A vonta<strong>de</strong> é <strong>de</strong>finida como a ativida<strong>de</strong> intensificada,<br />
quebrando o obstáculo e ultrapassando-o. A inteligência, por sua vez, correspon<strong>de</strong> a uma<br />
ativida<strong>de</strong> que se nega a si mesma no obstáculo ao qual se subordina. Enten<strong>de</strong> que as <strong>de</strong>cisões<br />
intuitivas que apreen<strong>de</strong>m os valores morais, aos quais se integram, remetem a obstáculos.<br />
Como se vê, a noção <strong>de</strong> obstáculo é relevante na doutrina em apreço.<br />
Gurvitch esclarece que os obstáculos não são os valores próprios (individuais ou<br />
coletivos) mas as alternativas sugeridas pela inteligência. Também constituem obstáculos (no<br />
sentido <strong>de</strong> que estão aí para serem ultrapassados pela interveniência da vonta<strong>de</strong>), as <strong>de</strong>cisões e<br />
ações <strong>de</strong> outros grupos e os valores que suscitam. Esta é uma forma <strong>de</strong> perceber os valores<br />
dos outros. A experiência dos valores enriquecerá o entendimento da ação moral como<br />
superação <strong>de</strong> obstáculos. Talvez aqui se possa dizer que, sendo o ato moral uma escolha livre,<br />
correspon<strong>de</strong> à superação das inclinações, como queria Kant.<br />
Avaliação conclusiva<br />
Por ter sabido beneficiar-se das valiosas investigações <strong>de</strong> Rauh e Scheler,<br />
Gurvitch consegui tornar mais completa a compreensão da especificida<strong>de</strong> da experiência<br />
moral. Com efeito, esta só po<strong>de</strong> ser apreendida em seu movimento. Trata-se, como enfatiza,<br />
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