Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Fenomenologia, cuidou <strong>de</strong> torná-lo ainda mais abstrato na Lógica, on<strong>de</strong> trata <strong>de</strong> umas poucas<br />
categorias, inseridas respectivamente na teoria do ser, na teoria da essência e na teoria do<br />
conceito, consoante o roteiro da Enciclopédia. Nesta, à Ciência da Lógica seguem-se a<br />
Filosofia da Natureza e a Filosofia do Espírito. Seu propósito era <strong>de</strong> fato construir um gran<strong>de</strong><br />
sistema, cumprindo aliás o legado <strong>de</strong>ixado pelo próprio Kant.<br />
O propósito <strong>de</strong> isolar uma parte <strong>de</strong>sse todo complexo exigiu <strong>de</strong> Hyppolite o<br />
recurso a verda<strong>de</strong>iras alegorias. No que diz respeito à ética kantiana, afirma textualmente que<br />
Hegel encara a posição kantiana menos como uma filosofia especulativa do que como uma<br />
forma <strong>de</strong> viver, o que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma verda<strong>de</strong> já que o gran<strong>de</strong> móvel <strong>de</strong> Kant era<br />
promover uma espécie <strong>de</strong> "paz perpétua" entre todos os crentes, no que respeita à moralida<strong>de</strong>,<br />
buscando um enunciado do Código <strong>de</strong> Moisés que restaurasse a unida<strong>de</strong> da interpretação.<br />
Reconhecer o caráter verda<strong>de</strong>iro da intenção hegeliana <strong>de</strong>veria, entretanto, haver<br />
imunizado Hyppolite quanto à tentação <strong>de</strong> aceitar a hipótese visivelmente forçada <strong>de</strong> que a<br />
Crítica da Razão Prática correspon<strong>de</strong>ria ao essencial na posição kantiana. Além <strong>de</strong> ter dado<br />
esse passo e aceitar passivamente a omissão do imperativo categórico, Hyppolite rotula <strong>de</strong><br />
"moralismo" a ética kantiana. O "moralismo" é visivelmente uma postura inautêntica –<br />
justamente aquilo <strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong> acoimar a <strong>de</strong>marche kantiana – <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que faz caso<br />
omisso da dificulda<strong>de</strong> do comportamento moral e preten<strong>de</strong> reduzi-lo a uma catilinária oca.<br />
Deixando-se <strong>de</strong> lado o panlogicismo, é fora <strong>de</strong> dúvida que Hegel facultou uma<br />
contribuição notável ao buscar uma solução histórica para os famosos "a priori" kantianos. As<br />
categorias, as idéias e os i<strong>de</strong>ais são <strong>de</strong> fato livres criações do espírito, como queria Kant, mas<br />
surgiram num contexto histórico <strong>de</strong>terminado e <strong>de</strong>terminável – está aí o cerne da solução<br />
hegeliana.<br />
Contudo, e quem o adverte é Crocce, confundiu propostas teóricas com<br />
instituições ou criações culturais que não po<strong>de</strong>m ser superadas, em qualquer sentido, e muito<br />
menos no hegeliano. A religião e a moral são dimensões eternas do homem não sendo<br />
possível simplesmente dissolvê-las no Absoluto.<br />
No que respeita especificamente à ética kantiana, é um momento essencial na<br />
constituição <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> individual concebida racionalmente, momento que somente seria<br />
ultrapassado – e integrado, já que estamos aqui em pleno clima hegeliano – no que Max<br />
Weber <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> ética da responsabilida<strong>de</strong>.<br />
d) Avaliação crítica da <strong>Ética</strong> hegeliana<br />
Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stutgart, em 1770. Estudou teologia<br />
em Tubing e trabalhou como preceptor privado, entre 1794 e l 800, em Berna e Frankfurt. Em<br />
180l ingressou na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Iena, na condição <strong>de</strong> livre docente. Entre 1809 e l816 foi<br />
reitor do Ginásio <strong>de</strong> Nuremberg, tornando-se, sucessivamente, professor das Universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Hei<strong>de</strong>lberg e Berlim. Na década <strong>de</strong> vinte ascen<strong>de</strong> à condição <strong>de</strong> filósofo oficial da Prússia e<br />
dos principados alemães que se encontravam sob a sua li<strong>de</strong>rança. Faleceu em 1831, aos 61<br />
anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />
Consi<strong>de</strong>ra-se que se tenha disposto a empreen<strong>de</strong>r caminho autônomo já próximo<br />
<strong>de</strong> completar 40 anos. Até então fazia parte do grupo <strong>de</strong> autores românticos, entre os quais se<br />
encontrava Friedrich Schelling (1775/1854), que havia imaginado um sistema filosófico<br />
seguindo a Johann Gottlieb Fichte (1762/1814). Sobrevivendo a Hegel, Schelling tornou-se<br />
133