17.04.2013 Views

Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Os sentimentos nucleares, que po<strong>de</strong>m ser associados diretamente ao prazer e à<br />

dor, são em número reduzido e formam <strong>de</strong>terminados pares. O primeiro <strong>de</strong>les é constituído<br />

pela polarida<strong>de</strong> orgulho-humilda<strong>de</strong>, que estão diretamente relacionados ao sujeito. A parelha<br />

seguinte, amor-ódio, relaciona-se a uma outra pessoa. Originariamente, tais sentimentos não<br />

se acham associados a qualquer idéia <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong> ou vício. No caso do amor e do ódio, Hume<br />

simula nada menos que oito situações diferentes e as <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> experiências. Recorrendo<br />

ao princípio da "associação das idéias", que estudara na teoria do conhecimento, tentará<br />

<strong>de</strong>svendar as ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> associações formadas por aquelas paixões primordiais.<br />

No caso do orgulho, <strong>de</strong>tém-se na análise do que po<strong>de</strong> produzi-lo e para esse fim<br />

recorre a múltiplos exemplos e a diferentes variações. Como não se trata <strong>de</strong> rever<br />

pormenorizadamente tais análises, mas apenas <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r-lhes o espírito, vamos nos limitar<br />

a uma das situações <strong>de</strong>scritas e confrontadas, a primeira que po<strong>de</strong> produzir imediatamente o<br />

orgulho e, a segunda, que po<strong>de</strong> fazê-lo mediatamente. Po<strong>de</strong> fazê-lo direta e imediatamente a<br />

beleza, o vigor e a força físicas, do próprio sujeito. Como entretanto a beleza costuma ser<br />

referida a quem a percebe, negando-se que corresponda a qualquer coisa <strong>de</strong> real, Hume<br />

invoca, simultaneamente, o exemplo da surpresa, levando em conta que não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

reconhecer que não é uma qualida<strong>de</strong> dos objetos. Associa-a a aventuras e fantasias <strong>de</strong>sse tipo,<br />

que nutrem a vaida<strong>de</strong> nos homens, sentimento que originariamente está associado ao orgulho.<br />

São portanto circunstâncias distintas: a beleza <strong>de</strong> nosso próprio corpo e um elemento<br />

(surpresa) associado a objeto exterior. De on<strong>de</strong> provém o sentimento? Dos objetos? – e os<br />

varia à exaustão, para sugerir que não po<strong>de</strong>m se constituir na causa imediata. É o prazer (ou a<br />

dor) que associamos aos sentimentos formadores como ódio, amor, orgulho, etc.<br />

Analisando o exemplo prece<strong>de</strong>nte (do orgulho proveniente da beleza do corpo e<br />

da aventura associada à surpresa), escreve Hume:<br />

"Este fenômeno contém duas experiências curiosas que, se os compara um ao<br />

outro conforme as regras conhecidas, segundo as quais julgamos das causas e dos efeitos em<br />

anatomia, filosofia natural e outras ciências, fornecerão um argumento irrefutável em favor da<br />

ação das duplas relações mencionadas prece<strong>de</strong>ntemente. Por uma <strong>de</strong>ssas experiências,<br />

verificamos que um objeto produz orgulho unicamente por intermédio do prazer: isto porque a<br />

qualida<strong>de</strong>, que engendra o orgulho, não é nada em realida<strong>de</strong> senão o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> produzir um<br />

prazer. Por outra experiência, verificamos que o prazer produz orgulho por meio <strong>de</strong> uma<br />

transição entre idéias associadas: com efeito, se suprimimos esta relação, a paixão é<br />

imediatamente <strong>de</strong>struída. Uma aventura surpreen<strong>de</strong>nte, à qual nós mesmos nos engajamos,<br />

está relacionada a nós e, por este meio, produz orgulho; mas as aventuras <strong>de</strong> um outro, mesmo<br />

se po<strong>de</strong>m causar prazer, não po<strong>de</strong>m entretanto jamais excitar essa paixão pela ausência da<br />

associação <strong>de</strong> idéias. Que prova suplementar po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>sejar para o presente sistema?" (7)<br />

Adiante escreverá Hume:<br />

"Os efeitos mais imediatos do prazer e do sofrimento são os movimentos <strong>de</strong><br />

inclinação e repulsão do espírito; que se diversificam em volição, em <strong>de</strong>sejo e em aversão, em<br />

<strong>de</strong>sgosto e alegria, em esperança e temor, segundo as mudanças <strong>de</strong> situação do prazer e do<br />

sofrimento, e ainda que estes se tornem prováveis ou improváveis, certos ou incertos, ou que<br />

se os consi<strong>de</strong>re como fora <strong>de</strong> nosso po<strong>de</strong>r para o momento presente. Mas quando os objetos<br />

que causam prazer ou sofrimento adquirem uma relação conosco ou com outros, continuam<br />

sempre a <strong>de</strong>spertar o <strong>de</strong>sejo e a aversão, a aversão e a alegria; mas, ao mesmo tempo,<br />

(7) <strong>Tratado</strong> da natureza humana, trad. francesa <strong>de</strong> André Leroy, Paris, Aubier, 1983, p. 401-402.<br />

114

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!