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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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5ª) para o encontro do princípio supremo da moralida<strong>de</strong> cumpre classificar os<br />

diversos imperativos das ações, o que nos conduzirá à <strong>de</strong>scoberta do imperativo categórico.<br />

Tomando por base a Fundamentação da Metafísica dos Costumes, procuraremos<br />

acompanhar o próprio Kant no <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong>ssas etapas.<br />

No Prefácio, apresenta do seguinte modo o seu conteúdo:<br />

"Uma Metafísica dos costumes é pois rigorosamente necessária, não só por<br />

motivo <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> da especulação, a fim <strong>de</strong> indagar a origem dos princípios práticos que<br />

existem a priori em nossa razão, mas também porque a própria moralida<strong>de</strong> está sujeita a toda<br />

a espécie <strong>de</strong> perversões, enquanto carecer <strong>de</strong>ste fio condutor e <strong>de</strong>sta norma suprema <strong>de</strong> sua<br />

exata apreciação. Com efeito, para que uma ação seja moralmente boa, não basta que seja<br />

conforme com a lei moral; é preciso, além disso, que seja praticada por causa da mesma lei<br />

moral; <strong>de</strong> contrário, aquela conformida<strong>de</strong> é apenas muito aci<strong>de</strong>ntal e muito incerta, visto<br />

como o princípio estranho à moral produzirá, sem dúvida, <strong>de</strong> quando em quando, ações<br />

conformes com a lei, mas muitas vezes também ações que lhe são contrárias. Ora, a lei moral<br />

em sua pureza e genuinida<strong>de</strong> (e justamente é isto o que mais importa na prática) não <strong>de</strong>ve ser<br />

buscada senão numa Filosofia pura; don<strong>de</strong>, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esta (a Metafísica) vir em<br />

primeiro lugar, pois sem ela não po<strong>de</strong> haver filosofia moral. Nem a filosofia, que confun<strong>de</strong><br />

princípios puros com princípios empíricos merece o nome <strong>de</strong> filosofia (pois esta distingue-se<br />

do conhecimento racional comum, precisamente por expor numa ciência à parte o que este<br />

conhecimento comum apreen<strong>de</strong> apenas <strong>de</strong> modo confuso); merece menos ainda o nome <strong>de</strong><br />

filosofia moral, porque justamente <strong>de</strong>vido a tal confusão prejudica a pureza da moralida<strong>de</strong> e<br />

vai <strong>de</strong> encontro a seu próprio fim."<br />

Kant <strong>de</strong>clara então que, propondo-se publicar, um dia, uma Metafísica dos<br />

Costumes, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> fazê-la prece<strong>de</strong>r “<strong>de</strong>ste opúsculo que lhe serve <strong>de</strong> fundamentação”. Assinala<br />

que “a presente fundamentação não é mais do que a pesquisa e a <strong>de</strong>terminação do princípio<br />

supremo da moralida<strong>de</strong>". (3)<br />

Na Primeira Seção, que <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> "Passagem do conhecimento racional<br />

comum da moralida<strong>de</strong> ao conhecimento filosófico", Kant enten<strong>de</strong> que a razão não é<br />

suficientemente capaz <strong>de</strong> guiar com segurança a vonta<strong>de</strong> no concernente a seu objeto (a ação),<br />

supondo que um instinto natural a guiaria mais seguramente. Se a razão não é uma potência<br />

que possa exercer influência sobre a vonta<strong>de</strong>, sua verda<strong>de</strong>ira vocação consiste em encontrar<br />

uma vonta<strong>de</strong> boa em si mesma, isto é, sem o propósito <strong>de</strong> usá-la como meio para a conquista<br />

<strong>de</strong> qualquer outro fim.<br />

Para elucidar o conceito <strong>de</strong> uma boa vonta<strong>de</strong> altamente estimável em si mesmo,<br />

Kant vai fixar o que se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r por <strong>de</strong>ver. Para tanto apresenta, entre outros, os dois<br />

exemplos seguintes:<br />

“Passo aqui em silêncio todas as ações geralmente havidas por contrárias ao<br />

<strong>de</strong>ver, se bem que, <strong>de</strong>ste ou daquele ponto <strong>de</strong> vista, possam ser úteis, pois nelas não se põe a<br />

questão <strong>de</strong> saber se po<strong>de</strong>m ser praticadas por <strong>de</strong>ver, uma vez que estão em contradição com<br />

ele. Deixo também <strong>de</strong> lado as ações que são realmente conformes com o <strong>de</strong>ver, para as quais<br />

no entanto os homens não sentem inclinação imediata, mas que apesar disso executam sob o<br />

(3) Fundamentação da metafísica dos costumes in Oeuvres Philosophiques, Paris, Gallimard, 1985, Biblioteque<br />

<strong>de</strong> la Pléia<strong>de</strong>, vol. II, tradução <strong>de</strong> Victor Delbos, p. 246-247.<br />

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