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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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proporcionar, por si própria, indicações unívocas (na minha opinião, entram nessa<br />

classificação <strong>de</strong>terminados problemas institucionais, e precisamente os <strong>de</strong> “política social”),<br />

nem pelo fato <strong>de</strong> a ética não ser a única coisa que tem valor no mundo, e <strong>de</strong> a seu lado<br />

coexistirem outras esferas axiológicas cujos valores apenas po<strong>de</strong>m ser realizados assumindose,<br />

se necessário, uma “culpabilida<strong>de</strong>” ética. E aqui <strong>de</strong>ve ser classificada, principalmente, a<br />

esfera da ativida<strong>de</strong> política. A meu ver, constitui uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> fraqueza querer negar<br />

as tensões existentes entre ética e política. Mas tal situação não é privativa <strong>de</strong>sta como nos<br />

preten<strong>de</strong> fazer acreditar a habitual distinção entre moral privada e pública”.<br />

2º) É necessário uma atitu<strong>de</strong> compreensiva e tolerante em relação aos valores<br />

morais últimos em que o outro faça repousar suas convicções. Salvo a ética totalitária – que<br />

no fundo acaba por se transformar numa proposta cínica porquanto em nome dos fins que<br />

alar<strong>de</strong>ia, sentem-se os seus partidários a cavalheiro para comportar-se <strong>de</strong> modo idêntico<br />

àqueles que con<strong>de</strong>nam, <strong>de</strong> que é exemplo expressivo a con<strong>de</strong>nação da ditadura <strong>de</strong> Batista,<br />

admitindo-se até a sua <strong>de</strong>rrubada violenta, para acabar melancolicamente justificando a<br />

ditadura <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>l Castro –, salvo esse tipo <strong>de</strong> comportamento, que a rigor nada tem a ver com<br />

a moralida<strong>de</strong>, sendo <strong>de</strong> todo incompatível com a ética <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, nos <strong>de</strong>mais<br />

eventos parte do pressuposto <strong>de</strong> as avaliações últimas do indivíduo nunca po<strong>de</strong>m ser<br />

refutadas. É o que Weber <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> conflito insolúvel das avaliações.<br />

O razoável é aceitá-las e compreendê-las, se queremos ter direito a idêntica<br />

prerrogativa.<br />

3º) Não <strong>de</strong>vemos nos valer <strong>de</strong> circunstâncias que nos colocam numa posição <strong>de</strong><br />

superiorida<strong>de</strong> para impor nossas convicções. Weber toma aqui o exemplo da cátedra, no<br />

mesmo ensaio antes referido.<br />

Para Weber, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cátedra não equivale a uma permissão para que o<br />

professor pratique qualquer espécie <strong>de</strong> doutrinação. Além disto, quando a questão envolva<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliações, cabe-lhe explicitar em que estas consistem, <strong>de</strong> modo que o seu<br />

próprio posicionamento seja conhecido. No fundo, o que Weber preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar é que o<br />

ensino universitário <strong>de</strong>ve ser formativo <strong>de</strong> consciências com capacida<strong>de</strong> crítica e não <strong>de</strong><br />

pessoas predispostas à aceitação <strong>de</strong> dogmatismos.<br />

4º) Devemos respon<strong>de</strong>r pelas conseqüências previsíveis <strong>de</strong> nossos atos.<br />

A esse propósito escreve Weber:<br />

"Quando as conseqüências <strong>de</strong> um ato praticado por pura convicção se revelam<br />

<strong>de</strong>sagradáveis, o partidário <strong>de</strong> tal ética não atribuirá responsabilida<strong>de</strong> ao agente, mas ao<br />

mundo, à tolice dos homens ou à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, que assim criou o homem. O partidário da<br />

ética <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, ao contrário, contará com as fraquezas comuns do homem (pois<br />

como dizia muito proce<strong>de</strong>ntemente Fichte, não temos o direito <strong>de</strong> pressupor a bonda<strong>de</strong> e a<br />

perfeição do homem) e enten<strong>de</strong>rá que não po<strong>de</strong> lançar a ombros alheios as conseqüências<br />

previsíveis <strong>de</strong> sua própria ação. Dirá, portanto: “Essas conseqüências são imputáveis à minha<br />

própria ação” (A política como vocação).<br />

Weber <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> ética <strong>de</strong> convicção a certo tipo <strong>de</strong> ética religiosa ("o cristão<br />

cumpre seu <strong>de</strong>ver e, quanto aos resultados da ação, confia em Deus") e a contrapõe à ética <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>. Contudo, seu pensamento se torna mais claro se, ao invés <strong>de</strong> ética da<br />

convicção, a <strong>de</strong>nominemos <strong>de</strong> ética dos fins absolutos ou ética totalitária, que veio a ser<br />

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