Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
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também uma espécie <strong>de</strong> filósofo oficial, nos anos quarenta, chamado pela Corte para se<br />
contrapor ao encaminhamento político que os discípulos <strong>de</strong> Hegel estavam dando aos seus<br />
ensinamentos, tornando-se, por essa razão, uma das figuras <strong>de</strong>stacadas do i<strong>de</strong>alismo alemão.<br />
No curso <strong>de</strong> sua vida, Schelling esteve afastado das ativida<strong>de</strong>s docentes entre 1806 e 1820,<br />
tendo se ocupado <strong>de</strong> elaborar sucessivos sistemas filosóficos, nenhum dos quais bem<br />
sucedido.<br />
Ainda que correndo o risco <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>sviarmos do tema, parece imprescindível<br />
referir aqui os problemas legados à posterida<strong>de</strong> por Kant e o encaminhamento que lhe <strong>de</strong>u<br />
Fichte, tendo em vista que só se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> ética hegeliana <strong>de</strong> maneira muito especial.<br />
Ainda que enfrentando uma questão central da moralida<strong>de</strong>, que logo referiremos, Hegel não o<br />
fez seguindo as trilhas tradicionais. Assim, não <strong>de</strong>dicou qualquer livro ao tema, a exemplo <strong>de</strong><br />
todos os autores examinados prece<strong>de</strong>ntemente. E, a rigor, só o consi<strong>de</strong>rou tardiamente, para<br />
compor uma parte do sistema, ao invés <strong>de</strong> fazê-lo diretamente.<br />
Embora a perspectiva transcen<strong>de</strong>ntal, por ele criada, se tenha revelado como<br />
conquista imorredoura da consciência filosófica, Kant legou à posterida<strong>de</strong> alguns<br />
problemas, (13) justamente o que impulsionou a meditação filosófica e <strong>de</strong>u surgimento ao<br />
<strong>de</strong>nominado i<strong>de</strong>alismo alemão. Formulando-o esquematicamente, diríamos que: 1º) não<br />
conseguiu compatibilizar os planos da experiência natural e da experiência moral; e, 2º)<br />
embora haja lançado as bases da mo<strong>de</strong>rna epistemologia, ao sugerir que a valida<strong>de</strong> universal<br />
da ciência repousa na natureza <strong>de</strong> seus enunciados, sustentados por categorias, estas não<br />
po<strong>de</strong>m esgotar-se numa tábua fixa, absoluta e eterna. O esforço subseqüente consistiu<br />
precisamente em remetê-la para a experiência cultural concreta. Por esse meio solucionou-se<br />
também o problema <strong>de</strong> saber-se <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provêm. São <strong>de</strong> fato sínteses or<strong>de</strong>nadoras do real,<br />
criadas pelo espírito, mas em circunstâncias históricas passíveis <strong>de</strong> serem reconstituídas. Vale<br />
dizer: não são inatas, como perceberam os empiristas ingleses, nem foram criadas à revelia do<br />
próprio homem como imaginavam a filosofia antiga e, em geral, os espiritualistas mo<strong>de</strong>rnos e<br />
contemporâneos.<br />
A geração subseqüente, a que pertence Fichte, e, <strong>de</strong> certa forma, o próprio Hegel,<br />
enten<strong>de</strong>u sobretudo que lhe competia elaborar o sistema, já que Kant apenas concluíra a<br />
crítica. Caberia a Fichte estabelecer os parâmetros <strong>de</strong>ssa nova investigação, e que po<strong>de</strong>riam<br />
ser resumidos como segue:<br />
1º) para construir o sistema, o filósofo <strong>de</strong>ve privilegiar o aspecto i<strong>de</strong>al da cultura,<br />
abandonando toda preocupação com a “coisa-em-si”;<br />
2º) se o método adotado na construção do sistema for a<strong>de</strong>quado, correspon<strong>de</strong>rá à<br />
essência do processo real;<br />
a sínteses.<br />
134<br />
3º) o processo real está marcado por contradições que obrigatoriamente chegarão<br />
Hegel irá partir <strong>de</strong>sses postulados, evitando <strong>de</strong>sembocar na perspectiva<br />
transcen<strong>de</strong>nte e mantendo-se nos marcos da perspectiva transcen<strong>de</strong>ntal. Conhecendo<br />
profundamente a história da filosofia – e sendo mesmo consi<strong>de</strong>rado por muitos estudiosos<br />
(13) No capítulo inicial <strong>de</strong> Experiência e cultura (São Paulo, 1977), o prof. Miguel Reale estuda-os com gran<strong>de</strong><br />
profundida<strong>de</strong> e pertinência.