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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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frente, enquanto os bravos são ar<strong>de</strong>ntes no momento <strong>de</strong> agir, mas fora disso são tranqüilos."<br />

(<strong>Ética</strong> a Nicômaco - III, 7).<br />

Na Época Mo<strong>de</strong>rna, Tomas Hobbes (1588/1679) e Baruch <strong>de</strong> Espinosa<br />

(1632/1677) preten<strong>de</strong>ram chegar a uma espécie <strong>de</strong> tábua <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s e vícios partindo <strong>de</strong> uma<br />

única premissa geral. Hobbes <strong>de</strong>nominou-as leis da natureza e as hierarquizou. Define lei da<br />

natureza como sendo um preceito, estabelecido pela razão, "mediante o qual se proíbe a um<br />

homem fazer tudo o que possa <strong>de</strong>struir sua vida ou privá-lo dos meios necessários para<br />

preservá-la, ou omitir aquilo que pense po<strong>de</strong>r contribuir melhor para preservá-la". Distingue-a<br />

do direito, que correspon<strong>de</strong> à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer ou <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fazer. Deste modo, lei da<br />

natureza e direito acham-se correlacionados. A primeira lei da natureza correlaciona-se com<br />

um direito <strong>de</strong> natureza e acha-se formulada nestes termos: "Todo homem <strong>de</strong>ve esforçar-se<br />

pela paz, na medida em que tenha esperança <strong>de</strong> consegui-la e, caso não a consiga, po<strong>de</strong><br />

procurar e usar todas as vantagens da guerra." Dessa primeira lei, contida na parte inicial do<br />

enunciado, <strong>de</strong>duz <strong>de</strong>zenove outras, que dizem respeito a questões tais como justiça, gratidão,<br />

complacência, perdão, insolência, orgulho e assim por diante. Tais leis da natureza, esclarece,<br />

dizem respeito à manutenção da paz e à conservação das multidões humanas, sendo as únicas<br />

pertencentes à doutrina da socieda<strong>de</strong> civil. "Há outras coisas que contribuem para a <strong>de</strong>struição<br />

dos indivíduos, como a embriaguez e outras formas <strong>de</strong> intemperança, as quais portanto<br />

também po<strong>de</strong>m ser contadas entre aquelas coisas que a lei da natureza proíbe. Mas não é<br />

necessário referi-las, nem seria pertinente fazê-lo neste lugar." (Leviatã, capítulos XIV e XV).<br />

Espinosa estuda as virtu<strong>de</strong>s na exposição <strong>de</strong> seu sistema geométrico no livro que<br />

<strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> <strong>Ética</strong>, on<strong>de</strong> parte das premissas gerais do seu sistema para chegar à vida social.<br />

Trata-se <strong>de</strong> um texto em que as proposições <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> axiomas, obe<strong>de</strong>cem a <strong>de</strong>monstrações<br />

e encerram-se por escólios (comentários), tudo disposto da forma a mais esquemática. Em que<br />

pese a aparente secura da exposição, os sentimentos morais estão estudados <strong>de</strong> modo lapidar.<br />

A busca <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições precisas longe <strong>de</strong> empobrecê-la a enriquece, como se po<strong>de</strong> ver <strong>de</strong>stes<br />

exemplos: "A inveja não é senão o próprio ódio, na medida em que se consi<strong>de</strong>ra que dispõe o<br />

homem <strong>de</strong> tal maneira que ele se alegre com o mal <strong>de</strong> outrem e, ao contrário, se entristeça<br />

com o seu bem"; "O orgulho é um efeito ou proprieda<strong>de</strong> do amor-próprio, po<strong>de</strong>ndo portanto<br />

<strong>de</strong>finir-se: é o amor <strong>de</strong> si mesmo ou o contentamento íntimo na medida em que afeta o<br />

homem <strong>de</strong> tal maneira que ele tem, acerca <strong>de</strong> si mesmo, uma opinião mais vantajosa do que<br />

seria justo". Espinosa coloca-se a serviço do combate à servidão humana, que <strong>de</strong>fine como<br />

sendo a impotência para governar e refrear os sentimentos e inclinações.<br />

De sorte que mesmo sem alimentar a ilusão <strong>de</strong> que o homem pu<strong>de</strong>sse alcançar a<br />

perfeição, os filósofos buscaram <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra exaltar a virtu<strong>de</strong> e proclamaram,<br />

como fez Espinosa, que "O ódio nunca po<strong>de</strong> ser bom". Deste modo, as páginas que <strong>de</strong>dicaram<br />

a esse tema são dignas <strong>de</strong> serem meditadas. Na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resumi-las todas, vamos<br />

nos limitar à transcrição do que Kant escreveu sobre o tema, referindo sucintamente, antes <strong>de</strong><br />

fazê-lo, o seu entendimento da questão.<br />

Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, <strong>de</strong> 1785, Kant buscou fixar um<br />

fundamento racional da moralida<strong>de</strong>, capaz <strong>de</strong> restabelecer a unida<strong>de</strong> entre católicos e<br />

protestantes nesse aspecto particular da interpretação das tradições judaico-cristãs. Partiu <strong>de</strong><br />

um enunciado que fixasse o essencial dos Dez Mandamentos e <strong>de</strong>nominou-o imperativo<br />

categórico. Consiste, como dissemos, num i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> pessoa humana.<br />

Parecia-lhe, também, que a partir <strong>de</strong> semelhante enunciado po<strong>de</strong>ria proce<strong>de</strong>r à<br />

or<strong>de</strong>nação do conjunto <strong>de</strong> regras que presi<strong>de</strong>m a vida social. Seria a Metafísica dos Costumes,<br />

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