Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
socieda<strong>de</strong> –, um verda<strong>de</strong>iro filósofo jamais reclamará <strong>de</strong> outro princípio para explicar a<br />
aprovação e a estima mais fortes." (11)<br />
Voltando ao tema no Inquérito, escreveria Hume:<br />
"É um fato manifesto que esta circunstância <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> é em todos os assuntos<br />
uma fonte <strong>de</strong> louvor e <strong>de</strong> aprovação; que apelamos constantemente para ela em todas as<br />
<strong>de</strong>cisões morais sobre o mérito e o <strong>de</strong>smerecimento das ações; que é a única fonte <strong>de</strong>sta<br />
gran<strong>de</strong> estima que votamos à justiça, à felicida<strong>de</strong>, à honra, à lealda<strong>de</strong> e à castida<strong>de</strong>; que ela é<br />
inseparável <strong>de</strong> todas as outras virtu<strong>de</strong>s sociais, humanida<strong>de</strong>, carida<strong>de</strong>, afabilida<strong>de</strong>,<br />
indulgência, pieda<strong>de</strong> e mo<strong>de</strong>ração e, em uma palavra,` que é o fundamento da principal parte<br />
da moral que se refere a humanida<strong>de</strong> e aos nossos semelhantes.<br />
Parece que, na nossa aprovação geral dos caracteres e dos hábitos, a tendência útil<br />
das virtu<strong>de</strong>s sociais não nos emociona pela consi<strong>de</strong>ração com o nosso interesse pessoal, mas<br />
sim porque tem uma influência mais universal e muito mais extensa. Parece que é sempre<br />
uma tendência ao bem público, uma tendência a promover a paz, a harmonia e a or<strong>de</strong>m social,<br />
que ao tocar os princípios benevolentes da nossa estrutura nos faz a<strong>de</strong>rir ao lado das virtu<strong>de</strong>s<br />
sociais. E parece, como afirmação adicional, que os princípios <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> simpatia<br />
penetram tão profundamente os nossos sentimentos e que eles têm uma influência tão forte<br />
que po<strong>de</strong>m torná-los capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a culpa e a aprovação as mais fortes. A presente<br />
teoria é o simples resultado <strong>de</strong> todas estas inferências que, ao que parece, se baseiam cada<br />
uma na experiência e na observação uniformes." (12)<br />
E, mais adiante:<br />
"A razão é suficiente, quando é plenamente secundada e aperfeiçoada, para<br />
instruir-nos quanto às tendências nocivas ou úteis das qualida<strong>de</strong>s e ações; mas é insuficiente<br />
para produzir a con<strong>de</strong>nação ou aprovação morais. A utilida<strong>de</strong> é apenas uma tendência em<br />
relação a um certo fim; se o fim nos fosse inteiramente indiferente experimentaríamos a<br />
mesma indiferença em relação aos meios. É necessário que um sentimento se manifeste para<br />
fazer-nos preferir as tendências úteis às nocivas. Este sentimento não po<strong>de</strong> ser serão uma<br />
simpatia pela felicida<strong>de</strong> dos homens ou um eco <strong>de</strong> sua infelicida<strong>de</strong>, pois são estes os<br />
diferentes fins que a virtu<strong>de</strong> e o vício ten<strong>de</strong>m a promover. Aqui pois a razão nos instrui das<br />
diversas tendências das ações e a humanida<strong>de</strong> faz uma distinção em favor das tendências úteis<br />
e benfazejas”. (13)<br />
c) O verda<strong>de</strong>iro significado do utilitarismo<br />
O utilitarismo veio a incluir-se entre as doutrinas morais inglesas mais<br />
conhecidas no exterior – gozando também <strong>de</strong> popularida<strong>de</strong> em sua pátria <strong>de</strong> origem, em<br />
gran<strong>de</strong> parte do século passado e no começo <strong>de</strong>ste – em <strong>de</strong>corrência, presumivelmente, <strong>de</strong><br />
dois fatos históricos a que esteve associado. Consiste o primeiro nas reformas experimentadas<br />
pelo liberalismo no século passado, <strong>de</strong> que resultaram a universalização do sufrágio. Este<br />
<strong>de</strong>sfecho não se <strong>de</strong>ve ao utilitarismo, mas <strong>de</strong> certa forma viria a ser-lhe atribuído. O processo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização da idéia liberal guarda plena autonomia em relação à filosofia e <strong>de</strong>corre <strong>de</strong><br />
outras circunstâncias, que não vêm ao caso enumerar. O segundo elemento que se costuma<br />
(11) <strong>Tratado</strong>, ed. cit., p. 703-704.<br />
(12) Inquérito, trad. cit., ed. cit., p. 87-88.<br />
(13) I<strong>de</strong>m, ed. cit., p. 146.<br />
117