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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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da prática do culto externo da divinda<strong>de</strong>. (3) Também a família po<strong>de</strong> levar a criança e o<br />

adolescente àquela tranqüila aceitação.<br />

Entendo que a aceitação da existência <strong>de</strong> Deus, ou da religião dos pais, se for o<br />

caso, precisa ocorrer com tranqüilida<strong>de</strong>. Se aqui se estabelece uma relação conflituosa, muito<br />

provavelmente acabará na pura e simples negação da divinda<strong>de</strong>, inicialmente como reação<br />

infantil, que po<strong>de</strong>rá buscar expressar-se <strong>de</strong> forma amadurecida, mais tar<strong>de</strong>, ou pela simples<br />

colocação do sagrado em outros planos. A política não é certamente a única alternativa.<br />

Nesta altura emerge problema teórico <strong>de</strong> difícil solução.<br />

A tranqüila aceitação da divinda<strong>de</strong> é um processo espontâneo? Difícil respon<strong>de</strong>r.<br />

A julgar pelos impasses da moral dos sentimentos, que acaba por atribuir a a<strong>de</strong>são à<br />

moralida<strong>de</strong> a algo <strong>de</strong> inato no homem, transita-se para uma questão <strong>de</strong> fé. Como diria Kant, o<br />

tribunal da razão é incompetente para julgar tão magna questão.<br />

Não se po<strong>de</strong> negar que os princípios morais estejam associados à experiência<br />

religiosa. Contudo, essa circunstância não serve para i<strong>de</strong>ntificar as duas experiências.<br />

Acredito que, neste livro, haja conseguido i<strong>de</strong>ntificar a maneira pela qual emerge<br />

a moral social, dissociada <strong>de</strong>ssa ou daquela religião, terminando por revestir-se <strong>de</strong> feição<br />

consensual. Esse <strong>de</strong>sfecho <strong>de</strong>corre precisamente da consolidação do pluralismo religioso.<br />

Sendo assim, a moral não po<strong>de</strong> ficar na exclusiva <strong>de</strong>pendência da religião. Requer<br />

fundamentação <strong>de</strong> natureza ética.<br />

Deste modo, a correta compreensão da experiência moral, que ora buscamos,<br />

pressupunha <strong>de</strong>svincula-la inteiramente da experiência religiosa. Resta por certo aspectos a<br />

esclarecer. Mas é melhor fazê-lo em função do entendimento que sugiro para a questão, na<br />

conclusão <strong>de</strong>sta Terceira Parte adiante apresentada.<br />

2. Componentes básicos da experiência moral<br />

A análise teórica da experiência moral não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificar as contribuições da<br />

sociologia, como adverte Gurvitch, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejamos capazes <strong>de</strong> nos manter no plano<br />

conceitual. O rigor e a consistência conceituais são o leitmotiv da ética como disciplina<br />

filosófica. Ainda assim, embora não faça sentido tentar aqui reproduzir o que é sobejamente<br />

sabido pela História da Filosofia, é imprescindível ter presente que o conceito <strong>de</strong> experiência<br />

afirmou-se sobretudo como experiência natural, sendo justamente a transição para a<br />

experiência cultural um dos gran<strong>de</strong>s problemas teóricos legados por Kant. E também que a<br />

perspectiva transcen<strong>de</strong>ntal – <strong>de</strong> que nos louvamos – obriga a nos atermos aos limites da<br />

experiência humana. Deste modo, a observação sociológica não po<strong>de</strong> ser recusada se <strong>de</strong> fato<br />

nela somente nos inspirarmos para alcançar a plena elucidação conceitual do tema proposto.<br />

A <strong>de</strong>finição que avançamos a seguir preten<strong>de</strong> respeitar a regra enunciada.<br />

A experiência moral consiste na vivência <strong>de</strong> uma esfera da vida que, sendo sem<br />

dúvida muito relevante, insere em seu seio conflitos radicais, exigentes <strong>de</strong> opções que<br />

somente se impõem se merecedoras <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são voluntária.<br />

(3) Adoto aqui a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Igreja avançada por Locke: associação livre <strong>de</strong>stinada à prática do culto externo da<br />

divinda<strong>de</strong>.<br />

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