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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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O amigo dos homens em geral (ou seja, o amigo da espécie humana inteira) é<br />

aquele que participa esteticamente do bem <strong>de</strong> todos os homens (que partilha sua alegria) e que<br />

não o perturbará jamais sem um profundo remorso. Mas a expressão amigo dos homens<br />

possui um sentido ainda mais estrito do que a <strong>de</strong> filantropo. Ela contém, com efeito, a<br />

representação e a justa consi<strong>de</strong>ração da igualda<strong>de</strong> entre os homens, ou seja, a Idéia <strong>de</strong> ser<br />

obrigado por esta igualda<strong>de</strong> mesma, enquanto que se obriga outros homens por benefícios;<br />

representa-se aqui todos os homens como irmãos submetidos a um pai universal que <strong>de</strong>seja a<br />

felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos. Com efeito, a relação do protetor, como benfeitor, ao protegido, como<br />

obrigado, é exatamente uma relação <strong>de</strong> amor recíproco, mas não <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, já que o respeito<br />

que é <strong>de</strong>vido não é igual <strong>de</strong> uma parte e <strong>de</strong> outra. O <strong>de</strong>ver que consiste em ser benevolente<br />

enquanto amigo do homem (uma bem necessária afabilida<strong>de</strong>), e a justa consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong>sse<br />

<strong>de</strong>ver, servem para preservar os homens do orgulho que costuma dominar os afortunados, que<br />

possuem os meios <strong>de</strong> serem beneficentes.<br />

.................................................................................................................................<br />

* * *<br />

APÊNDICE<br />

Das virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> (virtu<strong>de</strong>s homileticae)<br />

§ 48<br />

É um <strong>de</strong>ver tanto para consigo mesmo quanto para com outrem incentivar o<br />

comércio dos homens, uns com os outros, com suas perfeições morais (officium commercii,<br />

sociabilitas), não se isolar (separatistam agere); não colocar somente em si o ponto central e<br />

imutável <strong>de</strong> seus princípios, mas também consi<strong>de</strong>rar o círculo que se traça em torno <strong>de</strong> si<br />

como uma parte do círculo que abrange tudo na intenção cosmopolítica; não somente se<br />

propor a realizar como fim o bem do mundo, mas também cultivar os meios que a ele<br />

conduzem indiretamente: a urbanida<strong>de</strong> na socieda<strong>de</strong>, o bom humor, o amor e o respeito<br />

recíproco (a brandura e o <strong>de</strong>coro), e acrescentar, assim, graças à virtu<strong>de</strong>, o que é também um<br />

<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>.<br />

Aí não se trata, certamente, <strong>de</strong> nada além do que das obras exteriores ou os<br />

ornamentos, que dão uma bela aparência <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>, mas que não engana, pois cada um sabe<br />

que importância <strong>de</strong>ve dar a ela. Não é mais do que uma insignificância, mas reforça o<br />

sentimento da virtu<strong>de</strong>, ele próprio, pelo esforço efetuado para aproximar o tanto quanto<br />

possível esta aparência da verda<strong>de</strong>, na facilida<strong>de</strong> com a qual <strong>de</strong>ixamo-nos abordar, a<br />

brandura da linguagem, a cortesia, a hospitalida<strong>de</strong>, a indulgência (na controvérsia, sem<br />

contenda) e todas essas simples formas do comércio humano são obrigações exteriores que<br />

obrigam também os outros, e que contribuem para a intenção virtuosa, tomando ao menos a<br />

virtu<strong>de</strong> amável.<br />

Po<strong>de</strong>-se então se perguntar se se po<strong>de</strong> manter relações com homens viciosos? Não<br />

se po<strong>de</strong> evitar encontrá-los, pois caso contrário seria preciso abandonar o mundo; e mesmo<br />

nosso julgamento sobre eles não é competente. – Mas ali on<strong>de</strong> o vício é um escândalo, ou<br />

seja, um exemplo publicamente dado do <strong>de</strong>sprezo às estritas leis do <strong>de</strong>ver e, por<br />

conseqüência, implica a <strong>de</strong>sonra, então, mesmo se ele não fosse punido pelas leis do país,<br />

<strong>de</strong>ve-se interromper as relações que se mantinha até então ou ao menos evitá-las na medida do<br />

possível; com efeito, a continuação <strong>de</strong>ssas relações tiraria da virtu<strong>de</strong> toda a honra e faria <strong>de</strong>la<br />

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