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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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esistir à própria presença. Como nos parecem irrelevantemente remotos todos os nossos<br />

otimismos requintados e todas as nossas consolações intelectuais e morais diante <strong>de</strong> uma<br />

precisão <strong>de</strong> ajuda como esta! Eis aqui o verda<strong>de</strong>iro âmago do problema religioso: Socorro!<br />

Socorro! Nenhum profeta po<strong>de</strong> afirmar trazer uma mensagem final, a menos que diga coisas<br />

que terão som <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> aos ouvidos <strong>de</strong> vítimas como essas.<br />

Mas a libertação <strong>de</strong>ve expressar-se <strong>de</strong> forma tão forte quanto a lamentação, para<br />

fazer algum efeito e essa parece ser uma razão porque as religiões mais grosseiras,<br />

revivalísticas, orgiásticas, com operações sobrenaturais, sangue e milagres, talvez nunca<br />

venham a ser substituídas. Algumas constituições precisam muito <strong>de</strong>las."<br />

Registra que a mente equilibrada <strong>de</strong>squalifica todo tipo <strong>de</strong> contato com o mal,<br />

merecendo-lhe franca con<strong>de</strong>nação. Enten<strong>de</strong> mesmo que "se a intolerância religiosa e as forças<br />

da fogueira voltassem a figurar na or<strong>de</strong>m do dia, são poucas as dúvidas <strong>de</strong> que,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do que tenha acontecido no passado, os equilibrados se mostrariam, no<br />

presente, o grupo menos indulgente".<br />

Conclui <strong>de</strong>ste modo essa parte <strong>de</strong> sua análise: "O equilíbrio mental é ina<strong>de</strong>quado<br />

como doutrina filosófica porque os fatos maus, que ele se recusa positivamente a tomar em<br />

consi<strong>de</strong>ração, constituem uma porção genuína da realida<strong>de</strong>; e eles talvez sejam, no final das<br />

contas, a melhor chave para o significado da vida e, possivelmente, os únicos abridores dos<br />

nossos olhos para os níveis mais profundos da verda<strong>de</strong>." E, adicionalmente: "as religiões mais<br />

completas do mundo, portanto, parecem ser aquelas em que os elementos pessimistas estão<br />

mais <strong>de</strong>senvolvidos". Refere expressamente o budismo e o cristianismo e explica: "São<br />

essencialmente religiões <strong>de</strong> libertação: o homem precisa morrer para uma vida irreal a fim <strong>de</strong><br />

nascer para a vida real."<br />

Segue-se a análise do que <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> "eu-dividido". Escreve a propósito:<br />

"Algumas pessoas nascem com uma constituição interior harmoniosa e bem equilibrada <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o principio. Os impulsos são compatíveis uns com os outros, a vonta<strong>de</strong> segue sem dificulda<strong>de</strong><br />

a orientação do intelecto, as paixões não são excessivas, e suas vidas são pouco assediadas<br />

pelos pesares. Outros são constituídos <strong>de</strong> maneira oposta; e assim o são em graus que po<strong>de</strong>m<br />

variar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> alguma coisa tão leve, que resulta numa inconseqüência apenas estranha ou<br />

caprichosa, até uma discordância cujas conseqüências po<strong>de</strong>m ser inconvenientes ao extremo.<br />

Desqualifica a explicação que atribui essa circunstância à hereditarieda<strong>de</strong>. Afirma que o<br />

fenômeno está ligado à vida do chamado eu subconsciente, sem citar a Freud. Enten<strong>de</strong>, por<br />

fim, que "a evolução normal do caráter consiste precisamente no endireitamento e na<br />

unificação do eu interior".<br />

Exemplo clássico <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> discordante seria Santo Agostinho, opinião<br />

que procura justificar examinando as Confissões. Interessa-lhe especialmente o processo <strong>de</strong><br />

unificação propiciada pela experiência religiosa, ainda que afirme ser a religião apenas um<br />

dos muitos modos <strong>de</strong> atingir a unida<strong>de</strong>. "O processo <strong>de</strong> remediar a discordância interna e <strong>de</strong><br />

reduzir a discordância interior consiste num processo psicológico geral que po<strong>de</strong> verificar-se<br />

com qualquer material mental". De todos os modos, sua investigação centra-se no exame das<br />

experiências <strong>de</strong> conversão ("Converter-se, regenerar-se, receber a graça, sentir a religião são<br />

outras tantas expressões que <strong>de</strong>notam o processo, gradual ou repentino".)<br />

Estudos estatísticos <strong>de</strong> que se louva James sugerem que há muita semelhança –<br />

consi<strong>de</strong>rados adolescentes da mesma ida<strong>de</strong>, formados em ambientes religiosos, ou pessoas<br />

comuns – entre as conversões que se dão <strong>de</strong> forma normal e evolutiva e aquelas que ocorrem<br />

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