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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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Em oposição à escolha, po<strong>de</strong>r-se- invocar o caráter "mo<strong>de</strong>rno" que alguns<br />

estudiosos i<strong>de</strong>ntificaram no Curso Conimbricence, (6) o que invalidaria pu<strong>de</strong>sse representar a<br />

visão medieval recebida pela Época Mo<strong>de</strong>rna. A semelhante objeção lembraríamos que o<br />

pretenso caráter mo<strong>de</strong>rno do Curso Conimbricence resulta do fato <strong>de</strong> que tenha sido associado<br />

ao nome <strong>de</strong> Pedro da Fonseca (1528/1599), embora só haja contribuído com o texto relativo à<br />

Metafísica <strong>de</strong> Aristóteles. Mas, ao fazê-lo, <strong>de</strong>cidiu precedê-la <strong>de</strong> uma obra em dois tomos,<br />

intitulada Comentários à Metafísica <strong>de</strong> Aristóteles (aparecida em Roma, respectivamente, em<br />

1577 e 1589), que viria a se constituir numa das primeiras introduções à filosofia elaboradas<br />

no Oci<strong>de</strong>nte.<br />

Na tradição escolástica, como veremos mais <strong>de</strong>tidamente logo a seguir, os<br />

manuais e compêndios selecionavam o que lhes parecia fossem as principais questões da obra<br />

estudada e ali mesmo discutiam pormenorizadamente as disputas mais relevantes. Desse<br />

método resulta a impressão – pelo menos para os que como nós nos encontramos em outro<br />

momento da cultura – da mais completa falta <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>. (7) É possível que Pedro da Fonseca<br />

tivesse se dado conta <strong>de</strong>sse aspecto, o que explicariam os Comentários.<br />

Mas, ao fazê-lo, não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> estimular a curiosida<strong>de</strong> em torno <strong>de</strong><br />

metafísica autônoma, que seria uma questão propriamente mo<strong>de</strong>rna, empenho que teria<br />

continuida<strong>de</strong> na obra <strong>de</strong> seu contemporâneo e continuador, Francisco Suárez (1548/1617), ao<br />

preten<strong>de</strong>r encontrar um princípio ontológico do qual se pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>rivar qualquer outro<br />

conhecimento.<br />

Incumbido <strong>de</strong> elaborar, para Logos – Enciclopédia Luso-Brasileira <strong>de</strong> Filosofia<br />

(Lisboa, Editorial Verbo, vol. I, 1989; vol. II, 1990), o verbete <strong>de</strong>dicado a Pedro da Fonseca, o<br />

estudioso do pensamento medieval Antonio Manuel Martins afirma que Suárez não<br />

referendou a autonomia da filosofia, sugerida por Fonseca. Eis o que escreve na mencionada<br />

Enciclopédia:<br />

"A polarização do esforço <strong>de</strong> renovação da escolástica, no âmbito da metafísica,<br />

em torno da figura <strong>de</strong> Suárez tem levado não só ao esquecimento da obra <strong>de</strong> Fonseca como a<br />

uma apreciação sumária e incorreta da mesma. Para lá dos pontos comuns entre estes autores,<br />

há algumas divergências importantes cujo alcance está ainda por explorar. Limitamo-nos a<br />

apontar duas. A primeira tem a ver com o próprio estatuto da metafísica e da filosofia em<br />

geral. Em Fonseca a metafísica goza <strong>de</strong> uma autonomia que Suárez não admite. Em Fonseca a<br />

Filos. primeira já não é ancilla theologiae, mas sim omnium scientiarum domina; o metafísico<br />

é praesi<strong>de</strong>ns, iu<strong>de</strong>x das restantes ciências, não estando, portanto, sujeito a qualquer tutela<br />

(Comentários à Metafísica <strong>de</strong> Aristóteles, I, cols. 139-140). Para po<strong>de</strong>rmos avaliar um pouco<br />

melhor o alcance <strong>de</strong> uma posição <strong>de</strong>ste tipo basta repararmos que Suárez, 20 anos mais tar<strong>de</strong>,<br />

irá corrigir a linha <strong>de</strong> orientação da metafísica <strong>de</strong> Fonseca. Neste, como noutros casos, sem o<br />

(6) Veja-se p. ex. Etienne Gilson – Étu<strong>de</strong>s sur le rôle <strong>de</strong> la pensée mediévale dans la formation du système. Paris,<br />

1903; e José Ferrater Mora – “Suárez et la philosophie mo<strong>de</strong>rne”. Revue <strong>de</strong> Métaphysique et <strong>de</strong> Morale. Paris, 68<br />

(1), janeiro-março, 1963.<br />

(7) A esse propósito escreve Emile Bréhier: "Apesar da limpi<strong>de</strong>z tranqüila e talvez única do estilo <strong>de</strong> São Tomás,<br />

seus hábitos literários acham-se tão distanciados dos nossos que é difícil ver se existe um sistema tomista e em<br />

que consiste. Não há nele nada daquela emoção e arrebatamento que nos séculos XI e XII ocasionavam a<br />

aparição <strong>de</strong> obras sintéticas em que o pensamento se expunha com continuida<strong>de</strong>; por exemplo, na Suma<br />

Teológica não se vê senão uma série <strong>de</strong> questões separadas em artigos, alinhando-se em cada um, primeiro, os<br />

argumentos contra a tese, <strong>de</strong>pois, os argumentos a favor e, finalmente, a resposta aos argumentos contrários; mas<br />

não há nenhuma <strong>de</strong>cisão, nenhuma visão <strong>de</strong> conjunto (salvo exceção da lª parte, questão 85, artigos 1-3). Só se<br />

<strong>de</strong>seja nessas discussões triunfar sobre o adversário. História da Filosofia, trad. espanhola, Buenos Aires, Ed.<br />

Sudamericana, 4ª ed., 1956, tomo II, p. 400.<br />

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