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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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Por certo, é forçoso reconhecer que semelhante postulação remete o <strong>de</strong>bate para<br />

uma outra questão: a cultura po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada fundamento suficiente da or<strong>de</strong>m moral?<br />

Ainda mais: falar <strong>de</strong> cultura oci<strong>de</strong>ntal não correspon<strong>de</strong> a relativizar aquele fundamento numa<br />

proporção tal que per<strong>de</strong> toda a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representar aquele papel, isto é, o <strong>de</strong><br />

fundamento? Mas tal encaminhamento <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado próprio da filosofia e serve ,<br />

sobretudo, para evi<strong>de</strong>nciar o valor heurístico da hipótese <strong>de</strong> Scheler.<br />

Tentaremos enfrentar o dilema após havermos consi<strong>de</strong>rado os outros autores que<br />

configuram a linhagem criada por Scheler.<br />

O reconhecimento da existência <strong>de</strong> uma terceira esfera <strong>de</strong> objetos traria uma outra<br />

luz às consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Scheler sobre o a priori, como procuraremos <strong>de</strong>monstrar<br />

oportunamente. Embora se haja proposto consi<strong>de</strong>rar o problema ético, ao buscar o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> uma hierarquia geral dos valores, Scheler <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> lado uma questão<br />

grave, a saber: o fato da existência <strong>de</strong> conflito <strong>de</strong> valores.<br />

Finalmente, embora a afetivida<strong>de</strong> esteja inquestionavelmente presente à<br />

experiência moral, Scheler não conseguiu esclarecer como os indivíduos a vivenciam.<br />

Tais são alguns dos <strong>de</strong>safios que cabe enfrentar e tentar resolver, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar as críticas que mereceram a obra <strong>de</strong> Scheler, adiante apresentadas.<br />

2. <strong>Ética</strong> (1926), <strong>de</strong> Nicolai Hartmann (1882/1950)<br />

Nicolai Hartmann foi preparado para dar continuida<strong>de</strong> à Escola <strong>de</strong> Marburgo.<br />

Estudou nessa universida<strong>de</strong>, com os dois máximos representantes daquela Escola, Hermann<br />

Cohen e Paul Natorp (1854/1924). Natorp havia substituído a Cohen e Hartmann, por sua vez,<br />

o substituiu, em 1922. Contudo, ao invés <strong>de</strong> manter a diferenciação entre o neokantismo <strong>de</strong><br />

Cohen e o culturalismo, aproximou-se <strong>de</strong>ste último, consi<strong>de</strong>rando-se que enriqueceu<br />

sobremaneira a sua temática.<br />

Hartmann é uma figura central na Filosofia Contemporânea. Indicou em que<br />

precisamente consistia a sua singularida<strong>de</strong>: a exaustão dos sistemas e a prevalência dos<br />

problemas. Com esse espírito, <strong>de</strong>bruçou-se sobre as principais esferas da meditação filosófica<br />

(em especial o conhecimento, a ontologia e a ética). Em 1933, publicou duas obras da maior<br />

relevância: Auto-exposição sistemática e O problema do ser espiritual. Nesta suscita a<br />

questão do ser do homem, entrevista por Kant mas que, até então, não merecera o requerido<br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A <strong>Ética</strong> está subdividida em três volumes, achando-se o primeiro <strong>de</strong>dicado ao que<br />

chama <strong>de</strong> "fenômeno moral", on<strong>de</strong> passa em revista os gran<strong>de</strong>s autores e correntes; o segundo<br />

ao estudo dos valores morais e, o terceiro, à questão teórica da liberda<strong>de</strong>. (1)<br />

Hartmann parte da consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que o interesse crescente em relação a tudo<br />

que é subjetivo acabou pondo em causa a possibilida<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong> regras morais e<br />

valores objetivos. Acha que somente no período subsequente à Primeira Guerra Mundial<br />

adquiriu-se consciência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investigar-se, como diz, "o ser e o não-ser da<br />

ética", que também <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> "conteúdos dos valores". Destaca logo a posição alcançada<br />

(1) Tradução inglesa: Ethics. London, George Allen; New York, Macmillan, (1932), 3ª ed., 1958.<br />

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