Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
dignida<strong>de</strong> inerente à pessoa cumpridora <strong>de</strong> todos os seus <strong>de</strong>veres. Ela não é apenas sujeita à<br />
lei moral mas igualmente legisladora daquilo a que se <strong>de</strong>ve submeter.<br />
Finalmente, na Terceira Seção (“Passagem da Metafísica dos Costumes à Crítica<br />
da Razão Pura Prática”), Kant irá sustentar que a liberda<strong>de</strong> do homem consiste na escolha da<br />
lei moral. Ao ce<strong>de</strong>r às inclinações, abdica <strong>de</strong> fazê-lo.<br />
Está aí uma solução original ao clássico problema do livre arbítrio, que a filosofia<br />
medieval não conseguiu solucionar satisfatoriamente, ao <strong>de</strong>ixar a escolha da ação moral na<br />
<strong>de</strong>pendência da graça divina.<br />
c) A crítica <strong>de</strong> Hegel a ética kantiana<br />
A crítica <strong>de</strong> Hegel à ética kantiana está contida na Fenomenologia do Espírito.<br />
Nesta obra, Hegel elabora um gran<strong>de</strong> painel do que teria sido a evolução cultural do oci<strong>de</strong>nte,<br />
tomando por paradigma o que tem <strong>de</strong> mais abstrato, o plano conceitual. Como se trata <strong>de</strong><br />
proce<strong>de</strong>r a or<strong>de</strong>namento lógico e não simplesmente histórico, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o processo é<br />
ascen<strong>de</strong>nte, o mo<strong>de</strong>lo é fornecido pelo esquema da teoria mo<strong>de</strong>rna do conhecimento,<br />
começando das sensações até chegar à idéia. As etapas fundamentais seriam consciência,<br />
consciência-<strong>de</strong>-si, razão e espírito. No interior <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sses momentos há um<br />
movimento subdividido em três etapas, cada uma <strong>de</strong>las resultante por sua vez da dinâmica das<br />
teses suscitadas pelos autores <strong>de</strong> obras filosóficas.<br />
Para representar tais momentos, Hegel escolhe um filósofo que melhor o expresse.<br />
Mas não se preocupa em apreen<strong>de</strong>r o pensamento do autor selecionado, apoiando-se em<br />
citações, como seria apropriado. Parte <strong>de</strong> uma interpretação inteiramente livre, na qual<br />
<strong>de</strong>saparece até mesmo o nome que tem em vista. Hegel inclui-se entre os primeiros<br />
historiadores da filosofia, na Época Mo<strong>de</strong>rna, e foi certamente a familiarida<strong>de</strong> com essa<br />
disciplina que lhe <strong>de</strong>u a idéia <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar seu curso <strong>de</strong> forma cada vez mais abstrata,<br />
primeiro na Fenomenologia (1807) e <strong>de</strong>pois na Lógica. E possível que esse procedimento se<br />
tenha consagrado a partir <strong>de</strong> Kant pois na Crítica da Razão Pura não aparecem, por exemplo,<br />
os autores das teses e das antíteses no exame da questão da existência <strong>de</strong> Deus e a<br />
argumentação empregada em cada caso está or<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> forma a fazer sobressair o contraste.<br />
De modo que na Fenomenologia não há propriamente uma análise da ética<br />
kantiana. Mas aparece inquestionavelmente a maneira como Hegel a enten<strong>de</strong>u.<br />
O tema encontra-se na penúltima (Sexta Parte) da Fenomenologia, correspon<strong>de</strong>nte<br />
ao segundo momento do espírito, <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> "A visão moral do mundo".<br />
Como agente e criador, o espírito assume primeiro a feição do revolucionário –<br />
que correspon<strong>de</strong>ria ao Contrato Social <strong>de</strong> Rousseau – e, só <strong>de</strong>pois, a <strong>de</strong> sujeito moral. Na<br />
Fundamentação da Metafísica dos Costumes, a consciência-<strong>de</strong>-si se <strong>de</strong>scobre como<br />
consciência moral comum.<br />
Nesse primeiro momento não há qualquer contradição. O puro <strong>de</strong>ver é a essência<br />
da consciência-<strong>de</strong>-si e essa certeza lhe permite i<strong>de</strong>ntificar-se plenamente com a lei moral, que<br />
<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser estranha e passa a constituir-se numa escolha livre. A<strong>de</strong>rindo ao puro <strong>de</strong>ver, a<br />
consciência se <strong>de</strong>scobre como liberda<strong>de</strong> e autonomia.<br />
127