Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
errado. Em conseqüência <strong>de</strong>fine a virtu<strong>de</strong> como a busca <strong>de</strong>sinteressada do bem público, com a<br />
aprovação do senso moral. O caráter <strong>de</strong>sinteressado da ação é essencial para que se a<br />
consi<strong>de</strong>re virtuosa.<br />
A rigor, a meditação <strong>de</strong> Shafsterbury não se distingue da pregação moralizante,<br />
oriunda sobretudo dos religiosos ortodoxos, embora não o faça valendo-se diretamente da<br />
religião mas partindo <strong>de</strong> uma avaliação positiva da natureza humana. O fato <strong>de</strong> que<br />
Man<strong>de</strong>ville o tivesse visado com a sua crítica há <strong>de</strong> ter contribuído para preservar o interesse<br />
por sua obra.<br />
Seu leitmotiv principal consiste na exaltação do "gentleman", do homem cultivado<br />
e <strong>de</strong> bom gosto. Escreveria em sua obra básica:<br />
"Assim vemos que, afinal, não é aquilo que nós chamamos <strong>de</strong> princípio mas um<br />
gosto o que governa os homens. Eles po<strong>de</strong>m pensar com certeza que "isto é certo, isto é<br />
errado", eles po<strong>de</strong>m acreditar que “isto é crime, isto é pecado, isto é punível pelos homens,<br />
isto é punível por Deus”. No entanto, se o gosto das coisas ten<strong>de</strong> a ser contrário à honestida<strong>de</strong>,<br />
se a imaginação for vulgar, se o apetite for forte pelas belezas subalternas e pelas mais baixas<br />
or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> simetrias e proporções, a conduta seguirá infalivelmente este caminho. Até a<br />
consciência, temo eu, tal como é <strong>de</strong>vida à disciplina religiosa, fará má figura on<strong>de</strong> tal gosto é<br />
falho. Entre o vulgo talvez ela faça milagres. Um <strong>de</strong>mônio ou o inferno po<strong>de</strong>m prevalecer<br />
on<strong>de</strong> a prisão ou os trabalhos forçados forem insuficientes. Mas tal é a natureza da<br />
humanida<strong>de</strong> liberal, polida e refinada, tão longe estão da simplicida<strong>de</strong> dos bebês, que ao invés<br />
<strong>de</strong> aplicar a noção <strong>de</strong> uma futura recompensa ou castigo ao seu comportamento imediato em<br />
socieda<strong>de</strong> eles estarão muito mais aptos, através <strong>de</strong> toda sua vida, a mostrar evi<strong>de</strong>ntemente<br />
que po<strong>de</strong>m consi<strong>de</strong>rar as pias narrativas como não sendo mais que histórias para crianças ou<br />
diversão para os vulgares." (2)<br />
Em ensaio anterior, também constante do livro Características dos Homens,<br />
Maneiras, Opiniões, Tempos (1711), afirmaria:<br />
"É praticamente inexistente o número pessoas que iria preten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sconhecer ou<br />
não saber julgar aquilo que é polido e bem parecido. Há pouquíssimas pessoas tão<br />
afetadamente ridículas que absolutamente não reconhecem a boa educação, renunciando à<br />
noção <strong>de</strong> beleza nas maneiras e no comportamento. Em relação a estas, on<strong>de</strong> quer que se<br />
encontrem, eu não seria tentado a exercer o menor esforço para convencê-las <strong>de</strong> que existe<br />
uma beleza <strong>de</strong> sentimentos íntimos assim como <strong>de</strong> princípios.<br />
Quem quer que tenha alguma impressão daquilo que nós chamamos <strong>de</strong> gentileza<br />
ou educação, já está bem informado do que seja o <strong>de</strong>coro e a graça no trato <strong>de</strong> tal sorte que<br />
espontaneamente confessará prazer e alegria pela sua observação e contemplação. Agora, no<br />
caminho do prazer refinado o estudo e o amor da beleza são essenciais, o amor e o estudo da<br />
simetria e da or<strong>de</strong>m das quais a beleza <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vem também ser essenciais. ...<br />
Assim a beleza e a verda<strong>de</strong> estão obviamente ligadas à noção <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> e<br />
conveniência até na apreensão <strong>de</strong> cada artista engenhoso, <strong>de</strong> cada arquiteto, escultor ou pintor.<br />
Assim também ocorre na medicina. A saú<strong>de</strong> natural é a justa proporção, a verda<strong>de</strong> é o curso<br />
natural das coisas na constituição. E a beleza exterior do corpo. E quando a harmonia e a justa<br />
(2) A Gui<strong>de</strong> to British Moralists, antologia organizada por D.H. Monro, London, Fontana, 1972, p. 245.<br />
98