Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
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literárias, que, <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra estão relacionadas a esse <strong>de</strong>bate, como é o caso <strong>de</strong><br />
Defoe e Swift, a que nos referimos, e <strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r Pope 1688/1744). Cabe levar em conta,<br />
ainda, que os autores registrados são aqueles cuja lembrança seria preservada pela<br />
posterida<strong>de</strong>, figurando em antologias ou merecendo estudos específicos, e não tudo quanto se<br />
publicou.<br />
A temática própria da moralida<strong>de</strong>, suscitada nesses livros, compreen<strong>de</strong> uma ampla<br />
discussão acerca da noção <strong>de</strong> interesse. O sentido geral do <strong>de</strong>bate consiste em <strong>de</strong>terminar se o<br />
interesse está exclusivamente vinculado ao amor próprio, ao egoísmo, ou se supõe também<br />
intenções altruísticas. Aqui se elabora o conceito <strong>de</strong> benevolência, <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>.<br />
O segundo grupo <strong>de</strong> questões acha-se vinculado à noção <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>. Se a virtu<strong>de</strong><br />
está relacionada ao cumprimento dos ditames da benevolência, pareceria óbvio que o objetivo<br />
supremo <strong>de</strong> semelhante comportamento seria a felicida<strong>de</strong> geral. Por conseguinte, tudo quanto<br />
contribuísse para aquele objetivo (a felicida<strong>de</strong> geral) po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rado como útil.<br />
Tratando-se <strong>de</strong> um contexto protestante, on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>nominado problema teodiceico está<br />
resolvido na suposição <strong>de</strong> que o homem está na terra para realizar urna obra digna da glória <strong>de</strong><br />
Deus – e não para salvar-se e merecer a vida eterna, como ensinava a Igreja Católica –, o<br />
<strong>de</strong>nominado utilitarismo viria a assumir também uma dimensão teológica, afirmando alguns<br />
pensadores que o próprio Deus seria utilitário. Como esse aspecto nada acrescenta à discussão<br />
que nos diz respeito, po<strong>de</strong>mos dispensar-nos <strong>de</strong> examiná-lo.<br />
Finalmente, a questão do sentimento moral, a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> seu verda<strong>de</strong>iro<br />
papel e como se correlaciona com a razão.<br />
Há um certo consenso, que seguiremos, quanto à importância relativa dos autores<br />
mencionados. Têm importância <strong>de</strong>cisiva no <strong>de</strong>bate Bernard Man<strong>de</strong>ville, Anthony Cooper,<br />
Joseph Butler e David Hume. O mérito <strong>de</strong> Francis Hutcheson consiste em haver levado esse<br />
<strong>de</strong>bate para a Universida<strong>de</strong>. Foi professor <strong>de</strong> moral na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Glasgow, a partir <strong>de</strong><br />
1727. Dos mais próximos amigos <strong>de</strong> Hume, acompanhou-lhe a evolução e nela certamente<br />
influiu. De sorte que, examinando as próprias idéias <strong>de</strong> Hume, torna-se dispensável consi<strong>de</strong>rálo<br />
especificamente. O mesmo se po<strong>de</strong> dizer <strong>de</strong> Adam Smith (1723/1790), que substituiu a<br />
Hutcheson. Desenvolveu a doutrina da simpatia mas nem por isto alterou o arcabouço<br />
substancial do movimento que estamos examinando.<br />
Cap. 3 – O encaminhamento dado à discussão por Man<strong>de</strong>ville<br />
Bernard Man<strong>de</strong>ville nasceu em Roterdam, em 1670. Ingressou na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Ley<strong>de</strong>n muito jovem, aos 15 anos, formando-se em medicina em 1694, quando tinha apenas<br />
21 anos. Seguiu a mesma especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu pai (neurologia e aparelho digestivo). Em<br />
meados da década esteve na Inglaterra para aperfeiçoar seus conhecimentos <strong>de</strong> inglês.<br />
Segundo seus biógrafos, encantou-se com o país, achando sua maneira <strong>de</strong> ser muito<br />
agradável. Em fins do <strong>de</strong>cênio transferiu-se em <strong>de</strong>finitivo para Londres, on<strong>de</strong> viveu até a<br />
morte, em 1733, aos 63 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Na capital inglesa viria a ser médico bem sucedido.<br />
Ocupa uma posição singular no curso dos <strong>de</strong>bates <strong>de</strong> que resultaram a plena<br />
separação da moral social tanto da religião como da moral individual. Combateu, <strong>de</strong> modo<br />
tenaz, durante cerca <strong>de</strong> três décadas, toda atitu<strong>de</strong> moralizante como ineficaz e inócua. Ao<br />
fazê-lo contribuiu para dar à discussão caráter eminentemente teórico, isto é, <strong>de</strong>svinculando-a<br />
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