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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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Da maneira como se expressa, Butler parece ter em vista o que Kant, logo <strong>de</strong>pois,<br />

chamará <strong>de</strong> imperativo categórico. Veja-se, por exemplo, como argumenta no Terceiro<br />

Sermão:<br />

"Mas aceitando-se que a humanida<strong>de</strong> possui o bem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, po<strong>de</strong>mos nos<br />

perguntar: ‘Quais as obrigações que <strong>de</strong>vemos aceitar e seguir?’ Eu respondo: já foi provado<br />

que o homem, pela sua natureza, é uma lei para si mesmo, sem as consi<strong>de</strong>rações particulares<br />

seja das sanções positivas <strong>de</strong>ssa lei seja das recompensas e castigos que pressentimos e tudo<br />

aquilo em que a luz da razão nos ajuda a acreditar seja a isto acrescido. Logo, a pergunta tem<br />

sua própria resposta. Sua obrigação consiste em obe<strong>de</strong>cer à lei, por ser a lei <strong>de</strong> sua natureza.<br />

Que a sua consciência aceite e aprove tal linha <strong>de</strong> comportamento é já <strong>de</strong> si mesmo uma<br />

obrigação. A consciência não só se oferece para mostrar-nos o caminho que <strong>de</strong>vemos seguir,<br />

mas da mesma maneira a reveste <strong>de</strong> sua própria autorida<strong>de</strong>, que é nosso guia natural, o guia<br />

dado a nós pelo autor da nossa natureza. Portanto, pertence à nossa condição <strong>de</strong> ser, é nossa<br />

obrigação seguir esse caminho e seguir esse guia, sem olhar ao redor para ver se é possível<br />

<strong>de</strong>le sairmos com impunida<strong>de</strong>”.<br />

Butler avança, finalmente, uma noção <strong>de</strong> interesse na qual nada há <strong>de</strong> pejorativo.<br />

Acha mesmo ser inquestionável, no caminho natural da vida, o aparecimento <strong>de</strong> alguma<br />

inconsistência entre o nosso <strong>de</strong>ver e o que é chamado <strong>de</strong> interesse. O interesse é a felicida<strong>de</strong> e<br />

a satisfação. Ainda que seja confinado ao mundo material, o interesse geralmente coinci<strong>de</strong><br />

com a virtu<strong>de</strong> e nos conduz ao único e mesmo caminho da vida. Por maiores que sejam as<br />

exceções, está firmemente convencido <strong>de</strong> que, em presença <strong>de</strong> mente perfeita e sadia,<br />

“correspon<strong>de</strong> a óbvio absurdo supor que o mal prevalecerá finalmente sobre o bem”.<br />

Os sermões <strong>de</strong> Butler apareceram em 1726 sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Fifteen Sermons<br />

Preached at the Rolls Chapel. Os sermões sobre a natureza humana – têm essa <strong>de</strong>nominação<br />

na edição original – são os três primeiros. Mais tar<strong>de</strong>, em 1736, publicou The Analogy of<br />

Religion, que inclui outro texto (A Dissertation Upon Virtue) que também se consi<strong>de</strong>ra<br />

expressivo <strong>de</strong> suas idéias. Suas obras foram coletadas por Samuel Halifax, bispo <strong>de</strong><br />

Gloucester, em dois volumes e publicadas em 1786. Precisamente um século <strong>de</strong>pois, em 1896,<br />

W. E. Gladstone promoveu uma nova edição (The Works of Joseph Butler, 2 vols.). Edições<br />

autônomas dos sermões aparecem em 1900 (J. H. Bernard) e em 1914 (Dean Mathews). A<br />

edição recente tem esta referência: Butler’s Fifteen Sermons and a Dissertation of the Nature<br />

of Virtue, edited with an Introduction by T. A. Roberts, London, S.P.C.K., 1970.<br />

É naturalmente muito difícil averiguar-se o impacto <strong>de</strong>ssa ou daquela obra num<br />

período histórico <strong>de</strong> que estamos tão distanciados, tratando-se a<strong>de</strong>mais <strong>de</strong> uma cultura com a<br />

qual não temos maior intimida<strong>de</strong>. Contudo, é fora <strong>de</strong> dúvida que o sentido principal do<br />

<strong>de</strong>bate, nas duas décadas subseqüentes, seguiu o caminho apontado por Butler, isto é, o <strong>de</strong><br />

preferir-se a averiguação teórica à pregação <strong>de</strong> índole moralizante. Na nova etapa intervêm<br />

outros personagens que não foram até então consi<strong>de</strong>rados, como John Gay (1699/l745), autor<br />

<strong>de</strong> Dissertation concerning the Fundamental Principle of Virtue or Morality, 1731; John<br />

Wesley (1703/1791), famoso teólogo metodista que edita em 1839 a primeira parte <strong>de</strong> seu<br />

Diário; e David Hartley (1705/1757), autor <strong>de</strong> Enquiry into the Origin of the Human Appetites<br />

and Affections, aparecido em 1747, e <strong>de</strong> Observation on Man, 1749. Como entretanto não nos<br />

propomos a realização <strong>de</strong> levantamento histórico abrangente, vamos nos limitar à<br />

consi<strong>de</strong>ração da obra <strong>de</strong> Hume, que <strong>de</strong> certa forma coroa o processo prece<strong>de</strong>ntemente<br />

consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação do objeto da ética social.<br />

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