Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
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simplesmente condicional, que se <strong>de</strong>signa sob o nome <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>: é, com efeito, porque<br />
aqui o homem não é simplesmente consi<strong>de</strong>rado como um ser racional, mas também como um<br />
animal dotado <strong>de</strong> razão. E a humanida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser colocada na faculda<strong>de</strong> e na vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
comunicar uns aos outros seus sentimentos, ou simplesmente na receptivida<strong>de</strong> para o<br />
sentimento comum <strong>de</strong> contentamento ou <strong>de</strong> sofrimento, que nos dá a própria natureza. A<br />
primeira é livre e se <strong>de</strong>nomina por conseqüência participação, fundando-se sobre a razão<br />
prática: a segunda é necessária, e po<strong>de</strong>-se dizer que ela se comunica (como o calor ou as<br />
doenças contagiosas) e po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>nominada uma participação passiva, já que se propaga<br />
naturalmente entre os homens que vivem uns ao lado dos outros. S6 existe obrigação no<br />
tocante à primeira.<br />
O estóico concebia o sábio <strong>de</strong> uma maneira sublime, quando ele o fazia dizer: "Eu<br />
<strong>de</strong>sejo um amigo, não para ser eu mesmo socorrido na miséria, na doença, no cativeiro etc.,<br />
mas a fim <strong>de</strong> que eu possa lhe prestar assistência e salvar um homem; e, entretanto, este<br />
mesmo sábio, vendo que seu amigo não podia ser salvo, dizia-se: O que me importa?" Ou<br />
seja, ele rejeitava a participação passiva.<br />
Com efeito. quando um outro sofre e eu me <strong>de</strong>ixo (pela imaginação) ganhar por<br />
sua dor, que eu não possa contudo aliviar, nós somos dois a sofrer, ainda que o mal<br />
(naturalmente) não diga respeito propriamente senão a uma pessoa. Ora, é impossível que seja<br />
um <strong>de</strong>ver aumentar o mal no mundo e, por conseqüência, também fazer o bem por<br />
compaixão. Da mesma forma, seria uma espécie <strong>de</strong> beneficência ofensiva, já que ela expressa<br />
uma benevolência que se dirige a um ser indigno, e <strong>de</strong>nominamo-la pieda<strong>de</strong> e é uma coisa que<br />
os homens, que não <strong>de</strong>veriam se gabar <strong>de</strong> ser dignos da felicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>veriam evitar uns com<br />
relação aos outros.<br />
§ 35<br />
Ainda que não seja em si um <strong>de</strong>ver compartilhar a pena ou a alegria <strong>de</strong> outrem, o<br />
é, entretanto, participar ativamente <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>stino e é pois, finalmente, um <strong>de</strong>ver indireto<br />
cultivar em nós os sentimentos naturais (estéticos) <strong>de</strong> simpatia em nós mesmos, e nos servir<br />
<strong>de</strong>les assim como <strong>de</strong> meios para participar do <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> outrem, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> princípios<br />
morais e do sentimento que lhes correspon<strong>de</strong>. – Também é um <strong>de</strong>ver não fugir dos lugares em<br />
que se encontram os infelizes aos quais falta o mais necessário, mas procurá-los, e não se<br />
<strong>de</strong>ve evitar os hospitais ou as prisões para <strong>de</strong>vedores etc., a fim <strong>de</strong> evitar o doloroso<br />
sentimento <strong>de</strong> simpatia, <strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se, pois esse sentimento é, todavia,<br />
exatamente uma força implantada em nós, pela natureza, para produzir aquilo que a<br />
representação do <strong>de</strong>ver por si s6 não revelaria.<br />
Dos vícios da misantropia diretamente contrários ao amor dos homens<br />
§ 36<br />
Esses vícios constituem a execranda família da inveja, da ingratidão e da alegria<br />
obtida da infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outrem. – O ódio, aqui, todavia, não é aberto e violento, mas secreto<br />
e velado, o que acrescenta ainda a baixeza ao esquecimento do <strong>de</strong>ver para com o seu próximo<br />
e transgri<strong>de</strong>, pois, ao mesmo tempo, o <strong>de</strong>ver para consigo mesmo.<br />
a) A inveja, como tendência a perceber com <strong>de</strong>sgosto o bem que acontece aos<br />
outros, ainda que o seu não seja absolutamente afetado e que, se chega ao ato (que consiste<br />
em diminuir o bem <strong>de</strong> outrem), é inveja qualificada, e <strong>de</strong> outro modo somente ciúme, não é,<br />
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