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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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§ 39<br />

Desprezar os outros, ou seja, recusar-lhes o respeito <strong>de</strong>vido a todo homem em<br />

geral, é, em todos os casos, contrário ao <strong>de</strong>ver; com efeito, trata-se <strong>de</strong> homens. Conce<strong>de</strong>r-lhes<br />

pouca estima, interiormente comparando-o com outros, é por vezes sem dúvida inevitável,<br />

mas manifestar exteriormente essa falta <strong>de</strong> estima é uma ofensa. – O que é perigoso não é um<br />

objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo e não é nesse sentido que o homem <strong>de</strong>pravado é <strong>de</strong>sprezível; e se eu estou<br />

suficientemente elevado acima <strong>de</strong> seus ataques para dizer que <strong>de</strong>sprezo aquele homem, isto<br />

significa apenas o seguinte: não há ali nenhum perigo, mesmo se eu não cogito <strong>de</strong> nenhuma<br />

<strong>de</strong>fesa contra ele, porque ele se expõe a si mesmo em toda a sua baixeza. Mas não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

ser verda<strong>de</strong> que eu não possa recusar ao homem <strong>de</strong>pravado, ele mesmo, todo o respeito<br />

enquanto homem, uma vez que ao menos o respeito que lhe é <strong>de</strong>vido em sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

homem não lhe po<strong>de</strong> ser negado, ainda que se torne indigno por seus atos. Assim, po<strong>de</strong>m<br />

existir penas <strong>de</strong>sonrosas, que <strong>de</strong>sonram a própria humanida<strong>de</strong> (por exemplo, o<br />

esquartejamento, entregar o criminoso aos cães, cortar nariz e orelhas) e que não só são mais<br />

dolorosas para o homem zeloso <strong>de</strong> sua honra (e que aspira, como cada um <strong>de</strong>ve fazê-lo, a<br />

respeito dos outros) do que a perda <strong>de</strong> seus bens e da vida, mas que ainda fazem enrubescer <strong>de</strong><br />

vergonha o espectador, por pertencer a uma espécie com a qual <strong>de</strong>ve-se proce<strong>de</strong>r assim.<br />

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§ 40<br />

O respeito perante a lei, que é subjetivamente <strong>de</strong>signado como sentimento moral,<br />

é o mesmo que a consciência do <strong>de</strong>ver. Por idêntica razão, a manifestação do respeito perante<br />

o homem, enquanto ser moral (estimando seu <strong>de</strong>ver da forrna mais elevada) é também um<br />

<strong>de</strong>ver que os outros têm para com ele, e é um direito ao qual ele não po<strong>de</strong> renunciar a aspirar.<br />

– Chama-se esta pretensão o amor da honra, cujo fenômeno na conduta exterior é a<br />

honorabilida<strong>de</strong>, enquanto que a sua falta se chama o escândalo; o exemplo <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>sprezo<br />

po<strong>de</strong> provocar a imitação, e dar este exemplo é extremamente contrário ao <strong>de</strong>ver, em<br />

compensação, escandalizar-se com uma coisa que não surpreen<strong>de</strong> senão porque ela se afasta<br />

da razão comum, enquanto ela é em si mesma boa, é um erro (já que se toma o insólito<br />

também por proibido) e também uma falta perigosa e funesta para a virtu<strong>de</strong>. – Com efeito, o<br />

respeito que se <strong>de</strong>ve a outros homens que nos dão um exemplo não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>generar até uma<br />

imitação cega (enquanto que o costume é elevado à dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma lei); uma tal tirania do<br />

costume popular seria contrária ao <strong>de</strong>ver para consigo mesmo.<br />

§41<br />

A omissão dos simples <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> amor é falta <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>. Mas a do <strong>de</strong>ver que<br />

proce<strong>de</strong> do respeito <strong>de</strong>vido a cada homem em geral, é um vício. Com efeito, negligenciandose<br />

os primeiros, não se ofen<strong>de</strong> a ninguém; mas, faltando-se ao respeito, lesa-se o homem<br />

naquilo que toca a sua legítima pretensão. – A primeira transgressão é o oposto da virtu<strong>de</strong>.<br />

Mas aquilo que não somente não é próprio a acrescentar alguma coisa <strong>de</strong> moral, mas ainda<br />

suprime o valor que, sem isso, po<strong>de</strong>ria ser reivindicado em proveito do sujeito, é um vício.<br />

Eis porque também os <strong>de</strong>veres para com o próximo que concernem ao respeito<br />

que lhe é <strong>de</strong>vido não são expressos senão negativamente, ou seja, esse <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong> s6 é<br />

expresso indiretamente (pela proibição do contrário).<br />

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