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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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liberda<strong>de</strong>s e suas fortunas, o que <strong>de</strong>signo sob o nome geral <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>." (Two treatises of<br />

government, Cambridge University Press, 1965 [§ 123], pág. 395).<br />

A doutrina do sistema representativo, em sua formulação originária, leva em conta<br />

estritamente as circunstâncias concretas. O elemento apto a evi<strong>de</strong>nciá-la são as regras da<br />

tolerância, então estabelecidas, somente aplicáveis aos que se disponham à observância dos<br />

princípios essenciais à convivência política. O problema em tela tem sua origem na questão<br />

religiosa, matéria em relação à qual Locke reivindicava inteira liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consciência. A<br />

Igreja, a seu ver, consistia numa associação voluntária, cujos membros não lhe tinham<br />

confiado o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> punir, sobretudo pelo fato <strong>de</strong> que os homens jamais constituiriam uma<br />

instituição possuidora da verda<strong>de</strong> total acerca dos <strong>de</strong>stinos da humanida<strong>de</strong>. A propósito<br />

observam Leroux e Leroy: "Locke reclama, pois, inteira liberda<strong>de</strong> do indivíduo em matéria<br />

religiosa, com esta reserva: não se po<strong>de</strong>ria autorizar uma atitu<strong>de</strong> religiosa que conduzisse o<br />

indivíduo a prejudicar seja ao outro seja ao Estado. Por esta razão, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estritamente<br />

política, Locke exclui do benefício da tolerância, <strong>de</strong> uma parte, os ateus, aos quais falta a base<br />

própria da moralida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> outra as religiões, que exigem <strong>de</strong> seus fiéis obediência a um<br />

princípio estrangeiro: nomeia aqui aos maometanos, mas visa manifestamente a Igreja<br />

romana." (E. Leroux e A. Leroy. La philosophie anglaise classique, Paris, Librairie Armand<br />

Colin, 1951, pág. 84).<br />

Finalmente, a filosofia política <strong>de</strong> Locke, sem se mesclar na esfera da moralida<strong>de</strong>,<br />

guarda para com esta uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeito e <strong>de</strong> acatamento. Embora se possa dizer que, ao<br />

conceber o sistema representativo, tinha em vista o estabelecimento das condições políticas<br />

necessárias a que os homens efetivassem, na terra, uma obra digna da glória <strong>de</strong> Deus, e,<br />

portanto, estivesse em última instância numa relação <strong>de</strong> subordinação ao problema teodiceico,<br />

vale dizer, à teologia, a circunstância em nada altera a essência mesma do problema, que é o<br />

da relação entre filosofia e moralida<strong>de</strong>. A fundamentação <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeito e<br />

acatamento, evitando ciosamente toda confusão <strong>de</strong> planos, po<strong>de</strong> variar, e isto precisamente<br />

assegurou valida<strong>de</strong> universal à doutrina lockeana, em que pese o contexto protestante que o<br />

inspirou.<br />

Texto Complementar<br />

O texto adiante transcrito é parte da conferência que Max Weber pronunciou no<br />

pós-guerra e pouco antes <strong>de</strong> falecer, tendo sido publicada com o título "A política como<br />

vocação". A tradução portuguesa do texto integral encontra-se nos seguintes livros: Ciência e<br />

política – duas vocações, tradução <strong>de</strong> Leonidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota, São<br />

Paulo, Cultrix, 1970 – que apareceu recentemente em co-edição com a Editora Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Brasília, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se extraiu o trecho adiante – e Ensaios <strong>de</strong> Sociologia, tradução <strong>de</strong><br />

Waltensir Dutra, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Zahar, com várias edições.<br />

Aquele que, em razão <strong>de</strong> sua situação econômica, se vir obrigado a viver "da"<br />

política, não escapará à alternativa seguinte: ou se voltará para o jornalismo e para os<br />

encargos burocráticos nos partidos ou tentará conseguir um posto numa associação que se<br />

encarregue da <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> certos interesses, como é o caso dos sindicatos, das câmaras <strong>de</strong><br />

comércio, das associações rurais, das agências <strong>de</strong> colocação etc., ou, ainda, buscará posição<br />

conveniente junto a uma municipalida<strong>de</strong>. Nada mais se po<strong>de</strong> dizer a respeito <strong>de</strong>sse aspecto<br />

exterior da profissão política, a não ser que o funcionário <strong>de</strong> um partido político partilha com<br />

o jornalista do odium que se levanta contra o déclassé. Eles se verão sempre chamados,<br />

embora apenas pelas costas, <strong>de</strong> "escriba salariado" e <strong>de</strong> "orador salariado". Quem fosse<br />

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