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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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Primeira seção – Passagem do conhecimento racional comum da moralida<strong>de</strong> ao conhecimento<br />

filosófico).<br />

É possível saber se estou agindo moralmente ou não? Kant acha que sim. A seu<br />

ver, basta que se examine se a ação que se <strong>de</strong>seja avaliar po<strong>de</strong>ria assumir a forma <strong>de</strong> uma<br />

regra válida para todos. Dando um exemplo, pergunta: para safar-me <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><br />

momentânea, posso fazer uma promessa sem a intenção <strong>de</strong> cumprir? Respon<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta fornia:<br />

"Afinal <strong>de</strong> contas, no concernente à resposta a esta questão: se uma promessa<br />

mentirosa é conforme ao <strong>de</strong>ver, o meio mais rápido e infalível <strong>de</strong> me informar consiste em<br />

perguntar a mim mesmo: ficaria eu satisfeito se minha máxima (tirar-me <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s por<br />

meio <strong>de</strong> promessa enganadora) <strong>de</strong>vesse valer como lei universal (tanto para mim como para<br />

os outros)? Po<strong>de</strong>rei dizer a mim mesmo: po<strong>de</strong> cada homem fazer uma promessa falsa, quando<br />

se encontra em dificulda<strong>de</strong>s, das quais não logra safar-se <strong>de</strong> outra maneira? Deste modo,<br />

<strong>de</strong>pressa me convenço que posso bem querer a mentira, mas não posso <strong>de</strong> maneira nenhuma<br />

querer uma lei que man<strong>de</strong> mentir; pois, como conseqüência <strong>de</strong> tal lei, não mais haveria<br />

qualquer espécie <strong>de</strong> promessa, porque seria, <strong>de</strong> fato, inútil manifestar minha vonta<strong>de</strong> a<br />

respeito <strong>de</strong> minhas ações futuras a outras pessoas que não acreditariam nessa <strong>de</strong>claração, ou<br />

que, se acreditassem à toa, me retribuiriam <strong>de</strong>pois na mesma moeda; <strong>de</strong> sorte que minha<br />

máxima, tão logo fosse arvorada em lei universal, necessariamente se <strong>de</strong>struiria a si mesma."<br />

(obra citada, tradução <strong>de</strong> Antonio Pinto <strong>de</strong> Carvalho, São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1964,<br />

pág. 63).<br />

Além do encontro <strong>de</strong> uma fórmula apta a avaliar a moralida<strong>de</strong> das ações, a<br />

meditação sobre a moral <strong>de</strong>limitou algumas esferas que são efetivamente basilares, isto é,<br />

questões <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong>, exigindo em relação a elas que a socieda<strong>de</strong> não se limite a<br />

aspectos genéricos mas enfrente diretamente as situações. Segundo vimos anteriormente, e o<br />

próprio Decálogo, no conjunto da convivência social, <strong>de</strong>limita a moral sexual e as relações <strong>de</strong><br />

família, <strong>de</strong> um lado, e, <strong>de</strong> outro, o da proprieda<strong>de</strong>. Assim, a família e a proprieda<strong>de</strong> tornaramse<br />

as questões periféricas basilares da moral. Têm a ver com o núcleo (i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> pessoa<br />

humana) mas simultaneamente o transcen<strong>de</strong>m.<br />

Ao longo da história da humanida<strong>de</strong> a família e a proprieda<strong>de</strong> constituem temas<br />

capitais da problemática moral.<br />

g) O que é mutável na moral e como se processa essa mudança<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que o núcleo da moral no Oci<strong>de</strong>nte, isto é, o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> pessoa<br />

humana, haja mudado através dos tempos? Parece que não. O lícito é falar-se em<br />

enriquecimento, em explicitação <strong>de</strong> virtualida<strong>de</strong>s.<br />

A questão da escravidão é bem um exemplo do que se <strong>de</strong>seja esclarecer. Na<br />

Grécia Antiga, não havendo o conceito <strong>de</strong> pessoa, mas o <strong>de</strong> cidadão, consi<strong>de</strong>rava-se legítimo<br />

escravizar os bárbaros. Quando a <strong>de</strong>scoberta das Américas e da parte meridional do<br />

Continente Africano levou ao encontro <strong>de</strong> civilizações primitivas, apareceram as doutrinas<br />

justificativas <strong>de</strong> sua submissão ao trabalho escravo. Agora, o direito à liberda<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ra-se<br />

uma prerrogativa do cristão. Mais tar<strong>de</strong>, o conhecimento <strong>de</strong>sses povos primitivos permitiu<br />

verificar que a escravidão <strong>de</strong> uns pelos outros também se praticava em seu meio. E como<br />

certos insetos comportam-se <strong>de</strong> uma forma que po<strong>de</strong>ria ser aproximada da escravidão entre os<br />

homens, adquiriu foros <strong>de</strong> ciência a idéia <strong>de</strong> que se tratava <strong>de</strong> um fenômeno natural.<br />

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