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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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IntroduçãoO ambiente <strong>familiar</strong> é comumente consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como um <strong>do</strong>s maiores factores <strong>de</strong>socialização para gran<strong>de</strong> parte das crianças (Johnson, Cohen, Chen, Kasen & Brook, 2006). Umavez que os pais <strong>de</strong>sempenham um papel primordial na socialização precoce da criança, asperturbações <strong>de</strong> socialização evi<strong>de</strong>nciadas por indivíduos com perturbações <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>po<strong>de</strong>m ser resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s ao nível das relações intra<strong>familiar</strong>es, incluin<strong>do</strong> problemas <strong>de</strong>parentalida<strong>de</strong>.A instabilida<strong>de</strong> emocional e a inconstância objectal que verificamos em crianças comOrganização Bor<strong>de</strong>rline <strong>de</strong> Personalida<strong>de</strong> (O.B.P.) manifestam-se significativamente nasdificulda<strong>de</strong>s que estas ten<strong>de</strong>m a apresentar na regulação <strong>do</strong> afecto, <strong>no</strong> controlo <strong>do</strong>s impulsos e <strong>no</strong>funcionamento interpessoal. <strong>Na</strong> infância, a hesitação frequente em realizar o diagnóstico po<strong>de</strong>rápren<strong>de</strong>r-se com a labilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s processos mentais e a maleabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> aparelho psíquico dacriança, mas principalmente com as dificulda<strong>de</strong>s impostas pelo colori<strong>do</strong> sintomático <strong>de</strong>stapatologia, sen<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> <strong>no</strong> contacto e na componente transfero-contratransferencial que <strong>no</strong>sapercebemos da angústia latente a estas crianças: <strong>de</strong>sprotecção, me<strong>do</strong> da perda e aban<strong>do</strong><strong>no</strong>. Oseu sistema <strong>de</strong> vinculação ten<strong>de</strong> a ser instável e oscilar entre a i<strong>de</strong>alização e a <strong>de</strong>svalorização <strong>do</strong>sobjectos, indican<strong>do</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>no</strong> balanceamento entre as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> auto<strong>no</strong>mia eproximida<strong>de</strong>. É por isso que os “indivíduos com personalida<strong>de</strong> bor<strong>de</strong>rline po<strong>de</strong>m ser muito<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes daqueles com quem convivem, e expressan<strong>do</strong> uma cólera intensa contra os que lhesão próximos, quan<strong>do</strong> frustra<strong>do</strong>s; contu<strong>do</strong>, não conseguin<strong>do</strong> tolerar a solidão e preferin<strong>do</strong>encetar uma busca <strong>de</strong>senfreada por companhia, não importan<strong>do</strong> quão insatisfatória, a ficarem sósconsigo mesmos (Kaplan, Sa<strong>do</strong>ck & Grebb, 1997, p.694) ”, representan<strong>do</strong>, por isso, umconstante <strong>de</strong>safio aos clínicos e um frequente objecto <strong>de</strong> interesse para investiga<strong>do</strong>res.A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar investigação neste <strong>do</strong>mínio parece-<strong>no</strong>s cada vez maior.Efectivamente, os estu<strong>do</strong>s que preten<strong>de</strong>m avaliar as representações parentais e a percepção dadinâmica <strong>familiar</strong> são reduzi<strong>do</strong>s, e focam-se unicamente na adultícia, negligencian<strong>do</strong> aimportância que os relatos e as percepções infantis têm na formação <strong>de</strong>ssas mesmasrepresentações e na etiopatogenia da O.B.P., e excluin<strong>do</strong> objectivamente a fase <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento psicoafectivo da latência. Foi, por isso, propósito <strong>de</strong>sta investigação atribuir umolhar e uma voz às crianças acerca <strong>do</strong> seu vivi<strong>do</strong> emocional e representacional e perceber, in locoos processos <strong>de</strong>senvolvimentais e patog<strong>no</strong>mónicos <strong>de</strong>sta patologia. Quan<strong>do</strong> conseguimos umolhar em profundida<strong>de</strong> sobre os padrões que se evi<strong>de</strong>nciam, os conflitos que subjazem, asinteracções que se constroem, as dinâmicas que se jogam na constelação <strong>familiar</strong>, o sofrimento1

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