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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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diferenças entre o relacionamento com o pai e com a mãe, o qual é senti<strong>do</strong> como mais conflituale agressivo, facto que associam à relação diferenciada que João estabelece entre pessoas <strong>do</strong> sexomasculi<strong>no</strong> e femini<strong>no</strong> (“o comportamento <strong>de</strong>le com mulheres, com a parte feminina, é pior, érevoltante para ele”), segun<strong>do</strong> os pais <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às suas representações maternas maltratantes.Salientamos, igualmente, que, relativamente às circunstâncias <strong>do</strong> conhecimento <strong>de</strong> João,os pais consi<strong>de</strong>raram algo <strong>de</strong> positivo o contacto indiferencia<strong>do</strong> que a criança estabeleceu àpartida (“ligou-se logo a nós”), quan<strong>do</strong> sabemos que é necessário dar tempo para que a criançapossa projectar sobre aquelas pessoas os afectos liga<strong>do</strong>s à sua vivência pessoal <strong>de</strong> pai e <strong>de</strong> mãe, <strong>de</strong>forma a po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>signá-los posteriormente por esse <strong>no</strong>me.Entrevista com os paisΨ: “Vamos então dar inicio à entrevista. Uma vez que os senhores estão com o João <strong>de</strong>s<strong>de</strong> osseis a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, gostaria <strong>de</strong> saber o que é que…”Mãe: “Quer dizer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os seis a<strong>no</strong>s, veio ainda um mês antes <strong>de</strong> fazer os seis a<strong>no</strong>s.”Ψ:“Muito bem. Então que i<strong>de</strong>ia têm acerca <strong>do</strong> que foi a infância <strong>do</strong> João?”Mãe: “Eu tenho lá o relatório <strong>de</strong>le, era p’ra trazer. Ele foi maltrata<strong>do</strong> pela mãe, foi queima<strong>do</strong>com pontas <strong>de</strong> cigarro, era ata<strong>do</strong> a uma cama, comia pão com bolor, tinha cães, foi um meni<strong>no</strong>maltrata<strong>do</strong>.Ψ: “E portanto não sei se os senhores têm conhecimento da família biológica ou se souberam<strong>de</strong>stas informações através <strong>do</strong> Serviço <strong>de</strong> A<strong>do</strong>pção…”Pai: “Não, não, a gente não conhece os pais…”Mãe: “Sabemos só que a mãe se chama P e o pai T, mais nada.”Ψ: “Aquilo que os senhores sabem foi o que vos foi dito pelos técnicos e que constava <strong>no</strong>srelatórios…”Pai: “Sim, sim. Nos relatórios que a Segurança Social facultou à gente <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> <strong>do</strong> João, eutenho tu<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> o João foi retira<strong>do</strong> é que se passou a saber o que se tinha passa<strong>do</strong> com ele.”Ψ: “E ele tem recordação, fala convosco sobre a sua história?Pai: “Conta, conta…”Mãe: “A princípio contava muito”Pai: “Mas agora não quer falar sobre isso…”Mãe: “Ele diz que a família somos nós e a irmã M.”Ψ: “Porque é que eu coloco estas questões? Uma vez que era importante termos algumasinformações acerca <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> João, o andar, o falar, acerca da primeira infância<strong>de</strong>le...”211

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