Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...
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perguntar o que é que ele achava «ah, vocês é que sabem» e coiso, e então ficou Tomás Filipe.Mas fomos nós praticamente que escolhemos, porque ele, pronto…”Ψ: “Então e como foi para o pai, o pai estava presente <strong>no</strong> momento <strong>do</strong> nascimento?”Mãe: “Não…”Pai: “No dia em que ele nasceu eu fui fazer um serviço a Vila <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, eu tinha dito <strong>no</strong> serviço«é que a minha mulher ‘tá pr’a ter», «então vais só fazer este servicinho, são só <strong>do</strong>is dias»…”Mãe: “Ele teve um azar nesse aspecto.”Pai: “As coisas tinham fica<strong>do</strong> planeadas para eu estar cá, mas…”Mãe: “E não ‘tavamos a contar que fosse naquela altura. E como eu ‘tava <strong>de</strong> repouso, na casa<strong>do</strong>s meus pais, entretanto eu já ‘tava farta <strong>de</strong> ali estar e fui para casa. E quan<strong>do</strong> fui para casa,lembrei-me <strong>de</strong> fazer limpezas, e a fazer as limpezas comecei logo, porque perdi logo as águas,aquela coisa toda, quer dizer, comecei logo com muitas <strong>do</strong>res, só tive tempo <strong>de</strong> vir para cá. Aliás,quan<strong>do</strong> eu vim eu já não conduzi porque vi que não ‘tava capaz, disse à N para levantar o Aporque o A ‘tava a <strong>do</strong>rmir a sesta, ainda era pequenito, eu disse à N para ajudar a tratar <strong>do</strong> irmão,ainda lavei o chão da sala e <strong>de</strong>sci <strong>no</strong>rmalmente, telefonei só para a minha mãe, <strong>de</strong>sci as escadas,ainda me pus à conversa com um vizinho meu, a dizer que ia para o hospital porque ‘tava com<strong>do</strong>res, chamei um táxi, ainda fui <strong>de</strong>ixar a N na minha mãe, e entretanto vim, com o mesmo táxi,pr’aqui. Quan<strong>do</strong> aqui cheguei já ‘tava o Tomás praticamente a nascer, já tava com a cabeça, sótiveram tempo <strong>de</strong> me meter numa ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas e zuca, foi logo.”Ψ: “E quanto tempo <strong>de</strong>pois é que o pai chegou, quan<strong>do</strong> é que teve contacto com o Tomás?”Pai: “Eu cheguei <strong>no</strong> mesmo dia…”Mãe: “Eu já nem me lembro…”Pai: “Cheguei <strong>no</strong> final <strong>de</strong>sse dia se não estou em erro.”Mãe: “Isso já nem me lembro… Sei que estiveste uns dias aí, que me vinhas trazer a comidinha etu<strong>do</strong>. Eu <strong>de</strong>pois fui operada logo <strong>no</strong> dia a seguir <strong>de</strong> manhã às trompas, tiraram-me as trompas, etu é que ficaste com o Tomás <strong>no</strong> quarto nessa altura, não foi?”Ψ: “Mas o Tomás precisou <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s especiais a seguir ao nascimento?”Mãe: “Não, correu tu<strong>do</strong> bem, quer dizer, ele ainda teve que ficar um bocadinho lá em baixo naincuba<strong>do</strong>ra, a receber um boca<strong>do</strong> <strong>de</strong> calor, porque com aquela coisa toda <strong>de</strong> eu <strong>de</strong>morar tantotempo e ele já ‘tar a querer nascer, ele nasceu muito roxo e ‘tava já cansa<strong>do</strong>, porque ele nemsequer tinha força para mamar, então elas ‘tiveram com ele um boca<strong>do</strong>, a dar-lhe calor, até movirem trazer, mas <strong>de</strong> resto correu tu<strong>do</strong> bem, mamava bem… eu é que como tive que ir logo <strong>no</strong>dia seguinte por causa da operação, eu ‘tava toda preocupada em o <strong>de</strong>ixar <strong>no</strong> quarto, a enfermeiraaté me disse: «não se preocupe, se o pai não chegar entretanto eu fico com ele, levo-o para ali»,aquela coisa toda…”255