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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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É uma questão <strong>de</strong> fronteira, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> André Green (1988, cita<strong>do</strong> por Heimburger, 1995),<strong>de</strong> uma terra <strong>de</strong> ninguém, um campo cujos limites são vagos e in<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s. Porém, parece-<strong>no</strong>sque <strong>no</strong> caso bor<strong>de</strong>rline, o limite não é uma linha, é, ele próprio, um território, já que, comopreconiza Winnicott, <strong>de</strong> cada vez que se divi<strong>de</strong> um espaço em <strong>do</strong>is, atribuin<strong>do</strong> a cada um <strong>de</strong>lescaracterísticas e proprieda<strong>de</strong>s antagónicas, mutuamente exclusivas, cria-se um terceiro espaço, najunção <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is, uma área intermédia, local on<strong>de</strong> se produzem os fenóme<strong>no</strong>s transitivos. É esta aárea inóspita <strong>do</strong> indivíduo bor<strong>de</strong>rline.Rey (s/d, cita<strong>do</strong> por Heimburger, 1995) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que se trata <strong>de</strong> um dilema claustroagorofóbico,na medida em que <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> objecto o individuo se sente comprimi<strong>do</strong>, apavora<strong>do</strong>pela ameaça per<strong>de</strong>r a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, e fora está permanentemente aterroriza<strong>do</strong>, angustia<strong>do</strong> pelo<strong>de</strong>samparo da solidão, da não-existência <strong>no</strong> outro, pelo outro e através <strong>do</strong> outro, nãoencontran<strong>do</strong> um local on<strong>de</strong> possa existir perpetuamente a salvo, pelo que tem <strong>de</strong> se situar <strong>no</strong>limbo, <strong>no</strong> espaço-fronteira que lhe confere alguma sobrevivência.Para<strong>do</strong>xalmente, a criança bor<strong>de</strong>rline aparenta uma certa estabilida<strong>de</strong> ainda que <strong>no</strong>contexto instável que a caracteriza, permeada por tantas intercorrências <strong>de</strong> funcionamento emprocesso primário <strong>de</strong> pensamento, miscelânea <strong>de</strong> alguma forma coerente <strong>de</strong> esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> almadíspares e aparentemente inconciliáveis. Esta estabilida<strong>de</strong>, não mais <strong>do</strong> que pretensa, baseia-se,pois, na conservação <strong>de</strong> um núcleo central <strong>do</strong> Self, o qual não se encontra na íntegrapsicoticamente submerso na confusão com os objectos. Dada a fragilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> objecto inter<strong>no</strong>,este âmago <strong>do</strong> Self é senti<strong>do</strong> e percebi<strong>do</strong> como o único alia<strong>do</strong> seguro e dig<strong>no</strong> <strong>de</strong> confiança, emuitas das ansieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stes indivíduos pren<strong>de</strong>m-se precisamente com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>conservação <strong>de</strong>ste núcleo, o qual possibilita a sobrevivência <strong>do</strong> Self, o que conduz a umapreocupação e a uma sobrevalorização <strong>do</strong> mesmo em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> ambos os objectos (inter<strong>no</strong>e exter<strong>no</strong>), tão característico da patologia narcísica, haven<strong>do</strong> uma inclinação <strong>do</strong> Self parai<strong>de</strong>ntificações omnipotentes com objectos bons e as suas qualida<strong>de</strong>s. Contu<strong>do</strong>, as partes<strong>de</strong>strutivas <strong>do</strong> Self po<strong>de</strong>m, igualmente, ser i<strong>de</strong>alizadas, o que se evi<strong>de</strong>ncia quan<strong>do</strong> o individuo sesente ameaça<strong>do</strong> pelo contacto com o objecto e quan<strong>do</strong> se apercebe que uma parte <strong>de</strong> si <strong>de</strong>seja a<strong>de</strong>pendência com esse objecto (Heimburger, 1995).Por outro la<strong>do</strong>, esta tendência para<strong>do</strong>xal para a estabilida<strong>de</strong> latente ao polimorfismosintomático po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r-se dada a correlação entre a polissemia, coexistência da variabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> sintomas da organização, e os acontecimentos <strong>de</strong> vida, bem como a conservação da prova darealida<strong>de</strong>, conferin<strong>do</strong> uma aparente coerência e uma pseu<strong>do</strong>-estabilida<strong>de</strong> à organização (Dias,2004).6

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