13.07.2015 Views

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Os pais indicam que, na altura da a<strong>do</strong>pção, a criança tinha me<strong>do</strong> <strong>de</strong> estar sozinha,acordava muitas vezes e tinha muitos pesa<strong>de</strong>los (recorren<strong>do</strong> na altura ao pai para que estivessejunto <strong>de</strong>le), e que ainda hoje, apesar <strong>de</strong> <strong>do</strong>rmir bem e a<strong>do</strong>rmecer rapidamente, chama a mãevárias vezes para o a<strong>do</strong>rmecer. A mãe conta um sonho <strong>de</strong> João, próximo da data da consulta, emque segun<strong>do</strong> a criança “entravam pela janela e queriam roubá-lo. Sempre teve a preocupação <strong>de</strong>fechar bem a janela à <strong>no</strong>ite”.No que concerne à alimentação, a mãe diz que a criança come bem, “<strong>de</strong> tu<strong>do</strong>”, e que jáemagreceu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que frequenta a consulta <strong>de</strong> obesida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> foi viver com os pais, estarefere que João engor<strong>do</strong>u 20 quilos, ten<strong>do</strong> o hábito <strong>de</strong> abrir o frigorifico “100 vezes ao dia”, jáque quan<strong>do</strong> fica nervoso “a tendência é logo para ir comer” e que, <strong>no</strong> inicio, a criança ia comerpara <strong>de</strong>baixo da cama. Quan<strong>do</strong> foi a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong>, aos seis a<strong>no</strong>s, a criança usava fralda uma vez quemantinha enurese <strong>no</strong>cturna, mas os pais referem que a remoção da mesma revelou-se fácil.“Vai com toda agente, é muito da<strong>do</strong>, mete conversa na praia, arranja logo amigos. Depois<strong>de</strong> as pessoas o conhecerem dizem que João os enga<strong>no</strong>u”, relata a mãe. Ao <strong>de</strong>screver a criança ospais indicam que “é muito obstina<strong>do</strong> e irrequieto”, fazen<strong>do</strong> por vezes algumas birras, referin<strong>do</strong>que em relação ao pai João é “mais obediente”. Indicam que o filho rói muito as unhas, mente –“as <strong>de</strong>sculpas saem-lhe como se fosse a verda<strong>de</strong>” -, não mostran<strong>do</strong> os testes e dizen<strong>do</strong> que nãotem T.P.C.’s, interrompe as conversas <strong>do</strong>s pais porque tem que dizer algo naquele momentosenão esquece-se, está sempre a pedir coisas, e faz chantagem. O pai emociona-se diversas vezesquan<strong>do</strong> diz que o João é meigo e quan<strong>do</strong> conta que lhe bate e diz que “castigar o João lhe dóimais a ele” <strong>do</strong> que à criança. Revela auto<strong>no</strong>mia em termos <strong>do</strong>s hábitos <strong>de</strong> higiene e veste-sesozinho, ainda que, segun<strong>do</strong> a mãe, tenha tendência para pedir aos pais para fazerem as coisaspor ele. Em termos da dinâmica <strong>familiar</strong>, a mãe conta que João gosta muito <strong>de</strong> estar com o pai emanifesta muitas solicitações afectivas, tais como “pedir muitos beijinhos”, ainda que continuedizen<strong>do</strong> que a criança seja “muito agarrada aos pais - cola-se muito”.Em termos <strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ntes psiquiátricos na família refere-se a indicação <strong>de</strong> “<strong>de</strong>pressão”<strong>no</strong> irmão da mãe, mas também que esta recorreu a acompanhamento psiquiátrico e psicológico(quinzenal), não manti<strong>do</strong> actualmente.<strong>Na</strong> consulta <strong>de</strong> pe<strong>do</strong>psiquiatria é observada agitação/instabilida<strong>de</strong> psicomotora,solicitação <strong>de</strong> vários objectos para levar para casa, discurso organiza<strong>do</strong> mas por vezes confuso ecom <strong>de</strong>fesas pouco eficazes face à angústia (pensamento em processo primário, por vezesfragmenta<strong>do</strong>), <strong>de</strong>scrições cruas relativas a situações agressivas e angustiantes. Salienta-se, também,e <strong>no</strong> que diz respeito ao discurso da mãe, a utilização <strong>de</strong> frases pautadas por uma co<strong>no</strong>taçãonegativa em relação à criança (“estou <strong>de</strong>siludida contigo”, “só fazes asneiras”, “só te portas mal”)32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!