13.07.2015 Views

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

graves clivagens <strong>de</strong> que foi alvo. Pensamos, por exemplo em Afonso quan<strong>do</strong> verbalizavapungentes sentimentos <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> (“não sei, não consigo”), <strong>no</strong>s <strong>de</strong>sespera<strong>do</strong>s pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ajuda <strong>de</strong> Tomás, quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong> com a sua fragilida<strong>de</strong>, choran<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma quase incontida,na necessida<strong>de</strong> ávida <strong>de</strong> confirmar e garantir o afecto <strong>do</strong>s pais <strong>de</strong> João, nunca seguro <strong>do</strong> seu amorincondicional, e <strong>no</strong>s três casos na exigência afectiva inextinguível perante o me<strong>do</strong> <strong>de</strong> seraban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s, na extrema <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> objecto o qual po<strong>de</strong> tão rápida como intensamente ser<strong>de</strong> seguida <strong>de</strong>sinvesti<strong>do</strong> pelo terror quase persecutório da sua confusão, frágeis que são os limites<strong>do</strong> Ego. No entanto, estes esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> humor <strong>de</strong>pressivo alternavam com sentimentos <strong>de</strong>omnipotência e impulsivida<strong>de</strong> (congruente com Kernberg et al, 2003), falhan<strong>do</strong> a ligação entreafecto e representação, parecen<strong>do</strong> a luta anti<strong>de</strong>pressiva exteriorizada em actings agressivos, queoperam como <strong>de</strong>fesas contra a <strong>de</strong>sestruturação interna (Ferreira, 1990/2002). Testemunhámos,igualmente, a existência <strong>de</strong> relações pobres que estas crianças mantêm com adultos e pares, muitointensas, já que não há pensamento, há acção, sem amiza<strong>de</strong>s preferenciais, e a tendência àindiferenciação relacional, bem como à <strong>de</strong>pendência anaclítica <strong>de</strong> um adulto preferencial, ao qualse ligam com uma rapi<strong>de</strong>z impressionante e <strong>de</strong>svalorizam com a mesma velocida<strong>de</strong>.Por outro la<strong>do</strong>, a intensa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recorrer a percepções <strong>de</strong> adaptação socialsuperficial, aparente, ou em falso-self parece revelar o <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong>s três meni<strong>no</strong>s <strong>de</strong> conter efortalecer a estrutura egóica, a qual <strong>no</strong>s parece possuir uma gran<strong>de</strong> porosida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s limites <strong>do</strong>envelope psíquico, aquilo que Anzieu <strong>de</strong>sig<strong>no</strong>u por Ego-pele “uma figuração <strong>de</strong> que a criança seserve, <strong>no</strong> <strong>de</strong>curso das fases precoces <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento, para se representar a si mesmacomo Ego que contém os conteú<strong>do</strong>s psíquicos, a partir da sua experiência <strong>de</strong> superfície <strong>do</strong>corpo” (Anzieu, 1985, p.39), e que marca o <strong>lugar</strong> <strong>de</strong> contacto com o mun<strong>do</strong> exterior, assumin<strong>do</strong>funções <strong>de</strong> conservação <strong>do</strong> psiquismo, cuja carência ou fragilida<strong>de</strong> acarreta <strong>do</strong>s tiposfundamentais <strong>de</strong> angústia, uma <strong>de</strong>terminada pela existência <strong>de</strong> buracos psíquicos e outra pelaexcitação pulsional difusa e incontida (Chabert, 1998/2000). Em to<strong>do</strong>s os casos, as falhas <strong>no</strong>processo <strong>de</strong> separação-individuação, sen<strong>do</strong> a individuação <strong>de</strong> si mal assegurada, bem como osprocessos <strong>de</strong> auto<strong>no</strong>mia e <strong>de</strong> clarificação <strong>do</strong>s limites eu/outro, <strong>de</strong>ntro/fora, e a procura <strong>de</strong>fronteiras bem <strong>de</strong>limitadas, são evi<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong><strong>no</strong>tan<strong>do</strong> que o sentimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stascrianças está também ameaça<strong>do</strong>.As perturbações da relação <strong>de</strong> objecto, encontradas <strong>de</strong> forma muito clara e intensa nastrês crianças, confirmam-se como factores patog<strong>no</strong>mónicos da organização-limite.Efectivamente, se pensarmos que a angústia <strong>do</strong>minante <strong>no</strong>s arranjos <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>-limite é umaangústia <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> objecto e <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão (primária, segun<strong>do</strong> Ferreira, 1990/2002) que dizrespeito a uma vivência passada infeliz, insuficiente, <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> narcísico, ainda assim constatamos53

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!