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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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Children’s Apperception Test – animal version1.“ Era uma vez um galo e uma galinha e o galo engravi<strong>do</strong>u a galinha e saiu três ovos. Depois elachocava, chocava, chocava to<strong>do</strong>s os ovos que houve um dia que ela ouviu os ovos a estalar edisse: «Oh galo, oh galo, olha os ovos ‘tão-se a partir!». E <strong>de</strong>pois o galo ficou a olhar e saiu trêspintainhos. E <strong>de</strong>pois eles ficaram tão felizes com os filhos e <strong>de</strong>ram <strong>no</strong>mes aos filhos. O galo maisbonito era o galão e o me<strong>no</strong>s bonito era o calão, não, era galinha. E o mais preguiçoso chamavasecalão. E a mãe chamava-se galinha. E o galo chamava-se campeão e era a hora <strong>do</strong> almoço e daconversa; conversaram tanto e chegou à hora <strong>do</strong> almoço e os pintainhos comeram puré e o galo ea galinha comeram bife e batatas. E houve um dia que um lobo apanhou um pintainho e foi lá ocampeão (porque to<strong>do</strong>s têm me<strong>do</strong> <strong>do</strong> campeão) e ele chegou lá e ele <strong>de</strong>slargou o pintainho. E foià enfermeira para ver se o galo ‘tava bem. E ele ‘tava bem e viveram felizes para sempre.”Análise qualitativa:O presente cartão remete para a relação com o imago mater<strong>no</strong> ao nível dasrepresentações relacionadas com a oralida<strong>de</strong>, e com um conjunto <strong>de</strong> representações inconscientes<strong>de</strong> gratificação ou <strong>de</strong> frustração (Boekholt, 2000), isto é, o quanto a criança se sente alimentadapor um ou outro progenitor - po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a comida ser percebida como recompensa e a suaausência como castigo -, e ainda solicitan<strong>do</strong> temas <strong>de</strong> competição <strong>no</strong> seio da fratria. Perante talsignificação latente, a criança elabora uma narrativa bastante rica <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> visa simbólico,construída com recurso a personagens que não figuram na imagem, e introduzin<strong>do</strong> uma dinâmicarelacional que vai para além <strong>do</strong> representa<strong>do</strong> <strong>no</strong> cartão. Efectivamente, Afonso evoca arepresentação <strong>de</strong> uma constelação <strong>familiar</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua génese (o que po<strong>de</strong>ria remeter para umacerta curiosida<strong>de</strong> acerca da cena primitiva e da natureza da relação heterossexual entre o casalparental), passan<strong>do</strong> pelo nascimento das personagens-criança (po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> relacionar-se com o la<strong>do</strong>mais regressivo da criança e até mesmo com questões ao nível da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, evi<strong>de</strong>ntes na escolha<strong>do</strong>s <strong>no</strong>mes), até à dinâmica subjacente à vivência <strong>familiar</strong> por si representada. Sublinha-se atonalida<strong>de</strong> afectiva implícita na narrativa, patente na vertente <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alização da situação <strong>familiar</strong>através <strong>do</strong> investimento parental liga<strong>do</strong> a uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> e protecção, masfundamentalmente na i<strong>de</strong>alização da figura paterna (o herói da narrativa, apresenta<strong>do</strong> <strong>de</strong> formaalgo omnipotente), ao passo que o imago mater<strong>no</strong> parece ser evoca<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma formaambivalente, entre uma dimensão funcional, sem ressonância afectiva, e um la<strong>do</strong> não-protector.Parece verificar-se alguma i<strong>de</strong>ntificação a um <strong>do</strong>s pintainhos, o narcisicamente mais valoriza<strong>do</strong>135

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