Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...
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convictamente que ele é mau, que tem <strong>de</strong> lhe fazer todas as vonta<strong>de</strong>s, caso o frustre torna-seagressivo, pelo que o relacionamento com a mãe se revela particularmente conflituoso. Verificaseque a criança se mantém em processo <strong>de</strong> negação “está tu<strong>do</strong> bem” – diz que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ape<strong>do</strong>psiquiatra falou com a mãe que ela já não bate, dá castigos. Em 2012 é introduzi<strong>do</strong>Topiramato (150mg).<strong>Na</strong> consulta <strong>de</strong> pe<strong>do</strong>psiquiatria é observada agitação/instabilida<strong>de</strong> psicomotora,solicitação <strong>de</strong> vários objectos para levar para casa, discurso organiza<strong>do</strong> mas por vezes confuso ecom <strong>de</strong>fesas pouco eficazes face à angústia (pensamento em processo primário, por vezesfragmenta<strong>do</strong>), <strong>de</strong>scrições cruas relativas a situações agressivas e angustiantes. Salienta-se, também,e <strong>no</strong> que diz respeito ao discurso da mãe, a utilização <strong>de</strong> frases pautadas por uma co<strong>no</strong>taçãonegativa em relação à criança (“estou <strong>de</strong>siludida contigo”, “só fazes asneiras”, “só te portas mal”)e que remetem para os tempos <strong>de</strong> institucionalização (“fui-te buscar à instituição e é assim que tuagra<strong>de</strong>ces?!”). A mãe afirma que muitas vezes tem <strong>de</strong> lhe bater para que ele a respeite, já que ofilho “estraga tu<strong>do</strong>, muitas vezes com malda<strong>de</strong>”.Um relatório escolar relativo ao a<strong>no</strong> lectivo 2010/11, <strong>no</strong> 5º a<strong>no</strong> <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> refere queJoão apresenta “dificulda<strong>de</strong>s significativas <strong>de</strong> integração à escola e à turma. São feitos relatossistemáticos <strong>de</strong> conflitos, comportamentos <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s, recusa em aceitar a autorida<strong>de</strong> <strong>do</strong>sadultos, e diversas ocorrências com vários professores que só não registam as faltas disciplinarespor consi<strong>de</strong>ração à sua história <strong>de</strong> vida. Faltas constantes por atrasos, por vezes superiores a 35minutos, faltas <strong>de</strong> material, não realização <strong>do</strong>s TPC’s e comportamentos incorrectos em sala <strong>de</strong>aula. Quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong> acerca das motivações para os seus comportamentos, reage alegan<strong>do</strong>sintomas orgânicos preocupantes, tais como <strong>do</strong>res <strong>no</strong> coração, dificulda<strong>de</strong>s significativas emrespirar, <strong>do</strong>res intensas <strong>no</strong> corpo, pedin<strong>do</strong> para ir para casa. Contu<strong>do</strong>, caso os professores nãoaceitem <strong>de</strong> imediato as suas queixas e falarem com ele, João ace<strong>de</strong> em ficar na aula e trabalhar,sem mais queixas. Gran<strong>de</strong> alheamento quanto ao espaço e ao tempo – quan<strong>do</strong> toca e os colegasse dirigem à sala, João continua a brincar <strong>de</strong>spreocupadamente, sem maturida<strong>de</strong> suficiente parareconhecer priorida<strong>de</strong>s. Dificulda<strong>de</strong>s em gerir os seus sentimentos e postura <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio face àscontrarieda<strong>de</strong>s condicionam a socialização, e o relacionamento com os pares, constantes<strong>de</strong>sacatos físicos e verbais com os pares, particularmente com colegas <strong>do</strong> 9º a<strong>no</strong>. Quanto à turmanão houve aceitação e integração imediatas, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> rejeita<strong>do</strong>. Não apresenta dificulda<strong>de</strong>ssignificativas <strong>de</strong> perceber e <strong>de</strong> interpretar os conteú<strong>do</strong>s lecciona<strong>do</strong>s, mas como a sua capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> concentração tem perío<strong>do</strong>s mínimos, é-lhe difícil acompanhar os 90 minutos <strong>de</strong> aula.” Nopresente a<strong>no</strong> lectivo, a criança encontra-se ao abrigo <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto-lei 3/2008 referente ao regime <strong>de</strong>Ensi<strong>no</strong> Especial.183