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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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Caso JoãoHistória clínicaJoão vem à Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pe<strong>do</strong>psiquiatria <strong>do</strong> Hospital Garcia <strong>de</strong> Orta, referencia<strong>do</strong> pelaconsulta <strong>de</strong> pediatria geral <strong>do</strong> mesmo hospital na qual foram assinala<strong>do</strong>s obesida<strong>de</strong> e alterações<strong>de</strong> comportamento (com comportamentos agressivos) em Abril <strong>de</strong> 2010. Tem a primeiraconsulta em Agosto <strong>de</strong> 2010, na altura com 10 a<strong>no</strong>s.Das origens biológicas da criança sabe-se que é o segun<strong>do</strong> filho <strong>de</strong> uma mãe a<strong>do</strong>lescente<strong>de</strong> 16 a<strong>no</strong>s (cuja primeira gravi<strong>de</strong>z terá ocorri<strong>do</strong> aos 14 a<strong>no</strong>s), fruto <strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z nãoplaneada nem vigiada, <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> uma situação social consi<strong>de</strong>rada grave. Por volta <strong>do</strong>s trêsa<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, por or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Tribunal da área <strong>de</strong> residência, João foi retira<strong>do</strong> à família <strong>de</strong> origeme institucionaliza<strong>do</strong> por <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> maus-tratos severos, permanecen<strong>do</strong> numa instituição localdurante cerca <strong>de</strong> três a<strong>no</strong>s, ainda que em situação inconstante já que a avó materna, terá,entretanto, i<strong>do</strong> buscá-lo. No entanto, dada a continuida<strong>de</strong> da situação gravosa para o bem-estarda criança, João volta a ser institucionaliza<strong>do</strong>, vin<strong>do</strong> a ser a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> <strong>no</strong> inicio da escolarida<strong>de</strong>básica, com aproximadamente cinco a<strong>no</strong>s.<strong>Na</strong> altura da a<strong>do</strong>pção a mãe a<strong>do</strong>ptiva encontrava-se com 48 a<strong>no</strong>s (reformada) e o pai com52 (bate-chapas). Os pais estiveram seis a<strong>no</strong>s enquanto candidatos à a<strong>do</strong>pção, já que não lhes erapossível terem um filho biológico por infertilida<strong>de</strong> da mulher, razão pela qual encetaram diversostratamentos sem sucesso com técnicas <strong>de</strong> procriação medicamente assistida, <strong>no</strong>meadamenteatravés <strong>de</strong> fertilização in vitro.Referem que João “veio na pior altura”, já que pouco tempo após o acolhimento dacriança a mãe a<strong>do</strong>ptiva entrou em programa <strong>de</strong> hemodiálise, mas acharam que “ele já tinhasofri<strong>do</strong> muito”. Relativamente às motivações <strong>do</strong> casal para a<strong>do</strong>ptar João em particular, a mãe dizque “leu o processo e sem olhar para ele”, ten<strong>do</strong> <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> que iriam ficar com a criança “por tu<strong>do</strong>o que ele já tinha passa<strong>do</strong>”.Esta refere que inicialmente “lhe fazia todas as vonta<strong>de</strong>s mas que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há um a<strong>no</strong> issonão acontece” por consi<strong>de</strong>rar que não seria a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> filho. <strong>Na</strong> mesmaconsulta a mãe conta que João é um meni<strong>no</strong> “que passou muito”, referin<strong>do</strong> situações <strong>de</strong> privaçãoalimentar e maus tratos físicos e psicológicos (indica que a criança esteve “amarrada à camadurante <strong>do</strong>is a<strong>no</strong>s”, que era alvo <strong>de</strong> queimaduras <strong>de</strong> cigarros, que fazia as necessida<strong>de</strong>s <strong>no</strong> mesmolocal on<strong>de</strong> se encontrava, sen<strong>do</strong> lambi<strong>do</strong> por cães) e diz que este se lembra das situaçõesenunciadas. A mãe refere que João “veio com maus costumes e sem regras” e que se sente“muito revolta<strong>do</strong> com a mãe a<strong>do</strong>ptiva” – “massacra-a, faz birras, amua”, apresentan<strong>do</strong>agressivida<strong>de</strong> verbal e física quan<strong>do</strong> é contraria<strong>do</strong> – razão pela qual mencionam que <strong>no</strong> inicio da179

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