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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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protectora e cuida<strong>do</strong>sa para com o irmão, ten<strong>do</strong> uma diferença <strong>de</strong> 18 meses <strong>de</strong> Afonso, dizen<strong>do</strong>várias vezes “vocês não ouvem o vosso filho chorar?”, e sen<strong>do</strong> ela quem conseguia conter oirmão-bebé quan<strong>do</strong> este chorava, dan<strong>do</strong>-lhe o seu boneco, o seu objecto transitivo. Porém, éprecisamente com esta irmã que se verifica a relação <strong>de</strong> maior conflitualida<strong>de</strong> <strong>no</strong> contexto<strong>familiar</strong>, relatada através <strong>de</strong> diversas situações <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong> e hostilida<strong>de</strong>. Com a mais <strong>no</strong>va, ospais indicam existir maior proximida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntificação, segun<strong>do</strong> os mesmos, dada a imaturida<strong>de</strong><strong>de</strong> Afonso. Afirmam que a relação com a mãe, se bem que mais próxima <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às por vezesprolongadas ausências paternas, é também mais difícil, indican<strong>do</strong> a mãe que não consegue queAfonso cumpra as regras que impõe nem encontrar estratégias mais a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> lidar com acriança, baten<strong>do</strong>-lhe por vezes quan<strong>do</strong> sente que per<strong>de</strong> o controlo das situações. Verificamos quea omnipotência infantil <strong>de</strong>scrita em muitos <strong>do</strong>s comportamentos <strong>de</strong> Afonso é reforçada pelo pai(“tu é que é que mandas filho”), o que, a par da i<strong>de</strong>alização da figura paterna e da suai<strong>de</strong>ntificação ao masculi<strong>no</strong>, tem conduzi<strong>do</strong> a situações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong> em relação aofemini<strong>no</strong>. Relatam uma gran<strong>de</strong> preocupação com a filha mais velha aquan<strong>do</strong> <strong>do</strong> nascimento <strong>do</strong>irmão (“a gente dava mais atenção à L para ela não sentir e o Afonso ainda não percebia o queera a vida”), a qual parece ter <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> um papel compensatório, mas acentuan<strong>do</strong>inconscientemente as diferenças entre ambos os irmãos.Os pais realizam diversas atribuições negativas em relação ao Afonso-bebé, <strong>de</strong> quem<strong>de</strong>stacam um temperamento negativo a priori (“virava o ovo”, “puxava o fio <strong>do</strong> ferro <strong>de</strong>engomar”, “partiu tu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> começou a andar”). As atribuições mais negativas, <strong>no</strong>rmalmenteexpressas pela mãe, mesmo que me<strong>no</strong>s carga projectiva <strong>do</strong> que as observadas na história clínica,aquan<strong>do</strong> <strong>do</strong> inicio <strong>do</strong> acompanhamento, são entrecortadas com alguns movimentos <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificação materna e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpabilização paterna. Parece-<strong>no</strong>s subjacente ao discurso da mãeuma certa nuance <strong>de</strong> culpabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> insuficiência na sua função materna (“o meu leite erafraco para ele, precisava <strong>de</strong> um reforço”). Por outro la<strong>do</strong>, verificamos alguma i<strong>de</strong>alização porparte <strong>do</strong> pai <strong>de</strong>ste filho, por quem ficou tão feliz após saber que era um rapaz (“é um espectáculo,é o filho que to<strong>do</strong> o pai queria”), a par <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>svalorização <strong>do</strong> papel da mãe.Os pais sublinham que o <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor <strong>de</strong>correu nas etapas expectáveis,excepto <strong>no</strong> caso da linguagem, a qual aconteceu <strong>de</strong> forma tardia e idiossincrática, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> difícilcompreensão. Relatam alguma avi<strong>de</strong>z alimentar, a qual parece remeter para a avi<strong>de</strong>z relacional dacriança e as suas necessida<strong>de</strong>s regressivas <strong>de</strong> ser cuida<strong>do</strong> e conti<strong>do</strong>.O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> crescer e os movimentos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação ao masculi<strong>no</strong>-pater<strong>no</strong> parecem seralguns <strong>do</strong>s aspectos mais apresenta<strong>do</strong>s pela criança e actuar em simultâneo, sen<strong>do</strong> processos151

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