13.07.2015 Views

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Em mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1940, Margaret Mahler i<strong>de</strong>ntificou um grupo <strong>de</strong> crianças queapresentavam patologia <strong>do</strong> ego e das relações objectais bastante mais severa <strong>do</strong> que as quetinham um funcionamento neurótico, todavia me<strong>no</strong>s intensa <strong>do</strong> que crianças diag<strong>no</strong>sticadas comperturbações psicóticas (Meekings & O’Brien, 2004). O esta<strong>do</strong> limite constitui um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong>organização psíquica da criança que se encontra entre as organizações estruturais neuróticas e osfuncionamentos psicóticos, não chegan<strong>do</strong> nenhum <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is a instalar-se na dinâmica funcionalinfantil (Palacio-Espasa, 2004), na medida em que esta conserva o contacto com a realida<strong>de</strong>porém apresentan<strong>do</strong> angústias e mecanismos <strong>de</strong>fensivos primitivos, <strong>de</strong> cariz psicótico, e comemergência <strong>do</strong> processo primário <strong>de</strong> pensamento. Efectivamente, as flutuações <strong>do</strong>funcionamento egóico e as modulações tímicas que a organização bor<strong>de</strong>rline apresenta, em vez<strong>de</strong> gerarem dúvidas <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> diagnóstico, parecem algo específico <strong>de</strong>sta organização. Nestesenti<strong>do</strong>, é precisamente a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas flutuações que, <strong>no</strong> âmbito sincrónico, <strong>no</strong>s dá conta <strong>do</strong>polimorfismo das suas manifestações clínicas e, <strong>no</strong> âmbito diacrónico, da sua alternância entrefuncionamentos psíquicos. Todavia, as crianças bor<strong>de</strong>rline nas quais surgem pontualmentepossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> organização neurótica <strong>de</strong>ixam perceber uma conflitualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressiva <strong>de</strong>verasintensa, mais <strong>do</strong> que a neurotizada, revestida frequentemente por mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa maisarcaicos, <strong>de</strong>signadamente, maníacos e psicóticos (Palacio-Espasa & Dufour, 2003). Em síntese,nesta perspectiva, a infância bor<strong>de</strong>rline oscilaria entre uma organização <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong>pressivo (numpólo psíquico superior) e um funcionamento <strong>de</strong> natureza psicótica (traduzi<strong>do</strong> num pólo psíquicoinferior). Assim, a por vezes difícil tarefa <strong>de</strong> diagnóstico po<strong>de</strong>ria explicar a razão pela qual algunsautores e clínicos consi<strong>de</strong>rarem que a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> O.B.P. não <strong>de</strong>ve ser realizada antes <strong>do</strong>perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> latência (Palacio-Espasa & Dufour, 2003)Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Steiner (1990, cit. por Heimburger, 1995), o paciente bor<strong>de</strong>rlineencontra-se num esta<strong>do</strong> limítrofe entre a posição esquizo-paranói<strong>de</strong> e a posição <strong>de</strong>pressiva, sen<strong>do</strong>capaz <strong>de</strong> um grau <strong>de</strong> integração consi<strong>de</strong>rável que lhe permite realizar algum contacto consigomesmo e com os <strong>de</strong>mais, ainda que ligeiro porque intolerável para o sujeito, o que o leva àretracção sob pena da total <strong>de</strong>struição <strong>do</strong> Self e/ou <strong>do</strong> objecto e da interacção vincular entre os<strong>do</strong>is. É neste senti<strong>do</strong> que po<strong>de</strong>mos dizer que se situa <strong>no</strong> que une e <strong>de</strong>sune as duas linhas – a linhaneurótica e psicótica – também, por isso, <strong>de</strong>signada <strong>de</strong> organização bor<strong>de</strong>rland, conceito aprecia<strong>do</strong>por alguns teóricos (Dias, 2004) por pressupor algo muito mais flui<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong>sarranjos psicopatológicos <strong>do</strong> que qualquer uma das outras linhas, um conceito mais íntegro <strong>do</strong>que a conceptualização <strong>de</strong> uma linha fronteiriça, imposta na ausência <strong>de</strong> caracteres e sintomascaracterísticos das duas estruturas <strong>de</strong><strong>no</strong>minadas.5

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!