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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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epresentacional <strong>de</strong>stas crianças, sem <strong>lugar</strong>, senti<strong>do</strong> ou existência simbólica <strong>no</strong> espaço mental <strong>do</strong>spais.Por outro la<strong>do</strong>, a falta <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> reflexiva, em to<strong>do</strong>s os casos, acerca <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>emocional da criança e <strong>do</strong>s seus comportamentos é <strong>no</strong>tória em ambos os progenitores, para osquais parece ser difícil receber, elaborar, dar um senti<strong>do</strong> e <strong>de</strong>volver a angústia da criança, isto é, afunção <strong>de</strong> rêverie materna. No mesmo senti<strong>do</strong>, verifica-se existir pouca capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção e<strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> respostas contingentes às necessida<strong>de</strong>s da criança (não respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong>,respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>no</strong> momento erra<strong>do</strong> ou aplican<strong>do</strong> uma resposta <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quada).A partir das palavras <strong>do</strong>s pais verificamos, também, uma significativa ausência <strong>de</strong>implicação sobre os comportamentos da criança, sem se evi<strong>de</strong>nciar qualquer tipo <strong>de</strong> insight ouressonância acerca <strong>do</strong> seu papel parental e das suas implicações na sua regulação, a qual éconcomitante com atribuições externas (e.g. escola, local <strong>de</strong> habitação, pares) ou intrínsecas àcriança (e.g. temperamento negativo à nascença).Em termos da dinâmica intra<strong>familiar</strong> foi comum encontrar um padrão <strong>de</strong> relacionamento<strong>no</strong> qual o envolvimento com a mãe ten<strong>de</strong> a ser mais próximo <strong>do</strong> que com o pai, cuja relação éten<strong>de</strong>ncialmente ausente ou mais distante, mas também mais conflitual, revelan<strong>do</strong> as manifestasclivagens <strong>do</strong> objecto, o qual só po<strong>de</strong> ser percebi<strong>do</strong> como unicamente mau ou unicamente bom,nunca total e ambivalente.<strong>Na</strong> entrevista, a partir <strong>do</strong> relato <strong>do</strong>s pais, verificamos que as estratégias parentais utilizadasface à criança são, na sua maioria, inconsistentes e muitas vezes significativamente agressivas,passan<strong>do</strong>, muitas vezes, por castigos severos e punições físicas (tais como bater com cinto, cortaro cabelo, banhos <strong>de</strong> água fria), <strong>do</strong>tadas <strong>de</strong> uma dimensão sádica e projectiva por vezes muitointensa. Perante diversos assuntos, verifica-se, também, alguma conflitualida<strong>de</strong> parental face àeducação das crianças (em alguns casos muito significativa), divergin<strong>do</strong> os pais quanto às práticas<strong>de</strong> parentalida<strong>de</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, salienta-se a diferença encontrada na tomada <strong>de</strong> posições emrelação à percepção <strong>do</strong>s comportamentos da criança e às estratégias <strong>de</strong> intervenção e educaçãoparental (sen<strong>do</strong> o pai ten<strong>de</strong>ncialmente me<strong>no</strong>s tolerante e mais autoritário, e a mãe maispermissiva). Parece, igualmente, evi<strong>de</strong>nte a dificulda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>limitar fronteiras geracionais,principalmente <strong>no</strong> caso da mãe, sen<strong>do</strong> muitas vezes a criança percebida como um companheiro,um objecto para satisfação e compensação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s narcísicas. Ainda <strong>no</strong> que concerne àmãe verificamos um padrão consi<strong>de</strong>ravelmente ambivalente <strong>no</strong> relacionamento com a criança.Efectivamente, parecem tratar-se <strong>de</strong> mães que ou aproximam <strong>de</strong> mais a criança ou quan<strong>do</strong> esta sequer auto<strong>no</strong>mizar rejeitam-na, o que se constitui por uma dificulda<strong>de</strong> em vivenciar o processo <strong>de</strong>separação-individuação da criança, reagin<strong>do</strong> aos seus movimentos <strong>de</strong> crescimento como se <strong>de</strong>42

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