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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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Pai: “Viemos p’ra cá, fomos à Segurança Social inscrever-se. E <strong>de</strong>pois, ao final <strong>de</strong> seis a<strong>no</strong>s,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tanta espera, <strong>de</strong> tanta procura, <strong>de</strong> tantas entrevistas, já ‘tava naquela, já nem…”Mãe: “Já nem acreditava…”Pai: “Acabou. E um dia tocou o telefone e pronto, era o João.”Ψ: “E na altura o que é que vos disseram <strong>do</strong> João?”Mãe: “Disseram que era um meni<strong>no</strong>, para nós irmos lá e <strong>de</strong>pois fecha<strong>do</strong> numa sala, assim,<strong>de</strong>ram-me a fotografia…”Pai: “Não…”Mãe: “Não, não me <strong>de</strong>ram a fotografia e mandaram-<strong>no</strong>s ler o processo <strong>do</strong> João e nós lemostu<strong>do</strong>, e até foi ele primeiro, e eu até fiquei espantada com ele porque ele não queria e não sei quê,olhou p’ra mim e disse: «Custe o que custar, vamos fazer tu<strong>do</strong> para ficar com esta criança» e eudisse «E eu ‘tou contigo.». Por causa <strong>do</strong> que ele tinha passa<strong>do</strong>, nem vi fotografia nem nada, sóquis saber se ele era perfeito, porque é assim se fosse meu, eu tinha que me aguentar, mas já queeu ia buscar um meni<strong>no</strong>, ‘tá a perceber, Deus me per<strong>do</strong>e, mas eu também não tinha assim aquelavida, se eu fosse riquíssima digo-lhe já, eu não sei…”Ψ: “E portanto viram o processo <strong>de</strong>le…”Pai: “Falamos com a Segurança Social e fez-se uma proposta que foi esta: «Vão a<strong>do</strong>ptar omeni<strong>no</strong>, mas ele não po<strong>de</strong> ser recusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira nenhuma.»Mãe: “Mas ela errou, ela para mim errou, nunca me disseram que o João era difícil…”Pai: “Ele era difícil…”Mãe: “Disseram-<strong>no</strong>s que ele não tinha nada, que era um meni<strong>no</strong> bem comporta<strong>do</strong>, e mentiramme.Mas eu também não recusava que eu dizia, seja o que Deus quiser, estamos cá, nós fazemostu<strong>do</strong> por ele, tanto na escola como aqui e estou a fazer tu<strong>do</strong> por ele, eu e o meu mari<strong>do</strong>.”Pai: “Nós aceitámos o <strong>de</strong>safio…”Mãe: “Pois, mas podiam dizer a verda<strong>de</strong>, não é? Eu digo-lhe sinceramente, ele não andava bemna escola e os professores até <strong>de</strong>ram um conselho <strong>de</strong> o pôr num colégio. O meu mari<strong>do</strong> que digao que foi naquela casa naquele dia, eu já não jantei, eu já não <strong>do</strong>rmi, eu chorei tanto que <strong>no</strong> outrodia ‘tava toda inchada e era o meni<strong>no</strong> a chorar, tadinho, «eu não quero ir, eu não quero ir». E eudisse ao meu mari<strong>do</strong> «os professores não têm nada que te ligar para te dar esses conselhos».Então se eu fui buscar a criança a uma Instituição, que passou tanto, ia agora fazer uma coisa<strong>de</strong>ssas? Atão mas o que é isto?! O miú<strong>do</strong> não sai daqui, há-<strong>de</strong> ser o que Deus quiser, nem admitoa mais ninguém que me diga isso!Ψ: “E como é que foi o primeiro contacto, quan<strong>do</strong> conheceram o João?”Mãe: “Não passou muito tempo…”Pai: “Não, foi logo.”Mãe: “Depois <strong>de</strong> ver a fotografia e tu<strong>do</strong>…”Pai: “Marcámos um encontro e o encontro foi <strong>no</strong> Fórum.”214

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