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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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Análise da narrativa:No cartão que remete para uma relação com a imagem materna da or<strong>de</strong>m da oralida<strong>de</strong>,Tomás recorre a um tema <strong>do</strong> imaginário infantil, porém construin<strong>do</strong> a sua própria narrativa, naqual se verifica que a criança evoca a representação <strong>de</strong> um imago mater<strong>no</strong> que não cuida e nãoprotege, não se encontran<strong>do</strong> a ela associada qualquer ressonância afectiva. Efectivamente, apersonagem com a qual Tomás parece i<strong>de</strong>ntificar-se trata-se <strong>de</strong> um pintainho sozinho, vulnerável,<strong>de</strong>sprotegi<strong>do</strong> e excessivamente autó<strong>no</strong>mo. A gratificação alimentar que <strong>de</strong>veria encontrar-seassociada a uma representação materna provém <strong>de</strong> uma figura masculina externa à imagem e àdinâmica <strong>familiar</strong> - procura o alimento, e simbolicamente a protecção, a gratificação e acontenção fora <strong>do</strong> contexto <strong>familiar</strong>. Destaca-se, por outro la<strong>do</strong>, a gran<strong>de</strong> avi<strong>de</strong>z alimentar e porconseguinte relacional <strong>de</strong>monstrada pelo personagem pintainho. Verificam-se importantes falhasnarcísicas, manifestas a partir da i<strong>de</strong>ntificação ao pintainho mais feio, mais <strong>de</strong>sinvesti<strong>do</strong>, me<strong>no</strong>scuida<strong>do</strong> e humilha<strong>do</strong> pelos restantes. A narrativa reflecte a percepção <strong>de</strong> um ambiente <strong>familiar</strong>pouco contentor e afectuoso, o qual leva o personagem pintainho a fugir. Parecem igualmenteconstar referências a núcleos <strong>de</strong>pressivos e <strong>de</strong> maior fragilida<strong>de</strong> (frio, solidão) e também questõesrelacionadas com a rivalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> contexto da fratria. A criança evoca, ainda, questõesrelacionadas com o crescimento, funcionan<strong>do</strong> este como forma <strong>de</strong> reparação narcísica.Verificam-se dificulda<strong>de</strong>s <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> auto<strong>no</strong>mia e crescimento – <strong>de</strong>ixar a fase regressiva(<strong>de</strong>ixar o ovo), na relação precoce, <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se auto<strong>no</strong>mizar mas necessida<strong>de</strong>s regressivas. Acriança evi<strong>de</strong>ncia um movimento <strong>de</strong> gratificação <strong>familiar</strong>, <strong>do</strong> mater<strong>no</strong> e <strong>do</strong> frater<strong>no</strong><strong>de</strong>signadamente, como forma <strong>de</strong> se narcisar aos seus olhos.2.(…) “Era uma vez três lobos: um rapaz, uma rapariga e um meni<strong>no</strong>. Eles ‘tavam sempre a tirar acorda aos outros e a quererem ficar com ela. Então o rapaz disse: «Vamos fazer uma luta dacorda! Vamos buscar as outras cordas e ver quem ganha, raptar mais homens, mais ursos da tuaequipa. E tu tentas tirar mais homens teus!». E eles disseram «’Tá bem.» e foram buscar maishomens. Viram uma coisa: tanta água em cima <strong>do</strong>s pés <strong>de</strong>les. E viram a água ‘tava tanto a crescerque eles ‘tavam quase a ficar sem ar. E <strong>de</strong>pois pararam, a menina já ‘tava a ficar sem ar e omeni<strong>no</strong> ‘tava a ficar pior. O urso maior não ‘tava a ficar com pouca água e <strong>de</strong>pois o lobo foi lá,puxou, puxou, puxou, puxou, puxou, puxou e conseguiu! Conseguiu e a água ‘tava a <strong>de</strong>scer, a<strong>de</strong>scer, e a menina viu-se a morrer e o meni<strong>no</strong> ainda ‘tava um bocadinho vivo. Ele viram quemganhou: quem ganhou foi o urso maior e o meni<strong>no</strong> caiu ao chão. O meni<strong>no</strong> <strong>de</strong>pois morreu e o240

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