13.07.2015 Views

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

De facto, padrões <strong>familiar</strong>es disfuncionais, <strong>no</strong>s quais persiste o abuso emocional dacriança, <strong>no</strong> âmbito das diversas formas <strong>de</strong> agressão e violência na infância, são avalia<strong>do</strong>s comoum <strong>do</strong>s mais prevalentes e consistentes factores patog<strong>no</strong>mónicos da personalida<strong>de</strong> limítrofe (Carr& Francis, 2009), verifican<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>signadamente significativas associações a acontecimentos <strong>de</strong>vida negativos e traumáticos (Liotti & Pasquini, 2000). A literatura <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, efectivamente, quecrianças que crescem em ambientes <strong>de</strong> abuso, mau trato ou negligência não são capazes <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver um ple<strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> constância <strong>de</strong> objecto, da<strong>do</strong> que não conseguem confiar,primeiramente na figura cuida<strong>do</strong>ra, dada a sua inconstância, da mesma forma que não ace<strong>de</strong>m àpercepção <strong>de</strong> que este cuida<strong>do</strong>r, mesmo não estan<strong>do</strong> próximo, irá recordar-se <strong>de</strong>le e permanecerem si – prevalecen<strong>do</strong> a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar só (Sá, 2007).Parece igualmente que este/a cuida<strong>do</strong>r/a não é congruente e consistente na relação com acriança e face às suas necessida<strong>de</strong>s emocionais. Lineham (1993, cita<strong>do</strong> por Danielson, 2009)<strong>de</strong>screveu o ambiente <strong>no</strong> qual estas crianças cresceram como “invalidante”, não ensinan<strong>do</strong> acriança a organizar e categorizar as experiências internas, incluin<strong>do</strong> emoções, a representar e asimbolizar o vivi<strong>do</strong> emocional. De facto, a O.B.P. foi, por muitos autores, concebida como acondição resultante <strong>de</strong> uma vinculação insegura, com extremas oscilações entre aproximação eafastamento, alteran<strong>do</strong> entre o <strong>de</strong>sejo e o anseio por laços afectivos seguros e um temor e umevitamento <strong>de</strong>ssa mesma proximida<strong>de</strong> (Sable, 1997). Fonagy e colabora<strong>do</strong>res (1995, cit. porAgrawal et al, 2004) postulam que a criança é mais capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma vinculação segurase os seus cuida<strong>do</strong>res têm bem <strong>de</strong>senvolvida a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflectir acerca <strong>do</strong>s própriospensamentos e sentimentos, sobre os conteú<strong>do</strong>s da sua mente e da <strong>de</strong> outros. Efectivamente, estavinculação segura promove, por sua vez, a capacida<strong>de</strong> empática da criança, que a torna sensívelao que se passa com os que a ro<strong>de</strong>iam, aos seus conteú<strong>do</strong>s emocionais e cognitivos.Contrariamente, a criança bor<strong>de</strong>rline revela uma parca capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar estas representaçõesacerca <strong>do</strong>s seus objectos primordiais, <strong>de</strong>signadamente pais ou cuida<strong>do</strong>res. Assim, a criançaprotege-se <strong>de</strong>fensivamente <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> reconhecer a hostilida<strong>de</strong> direccionada a si, <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> amaltratar ou negligenciar, eventualmente proveniente <strong>de</strong>stes referentes (Agrawal et al, 2004).Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o critério <strong>do</strong> DSM-IV-TR (APA, 1996/2002) <strong>de</strong> Perturbação Bor<strong>de</strong>rline <strong>de</strong>Personalida<strong>de</strong> (P.B.P.) que postula “intenso esforço para evitar o aban<strong>do</strong><strong>no</strong> real ou imaginário”verificamos que este parece ser bastante discriminativo em relação à <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>sta perturbação,confirman<strong>do</strong> a teoria <strong>de</strong> Masterson (1975), a qual afirma que o me<strong>do</strong> <strong>do</strong> aban<strong>do</strong><strong>no</strong> é um factorcentral <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da O.B.P.. O me<strong>do</strong> e a intolerância <strong>de</strong> estar sozinho provocam, porconseguinte, comportamentos como a procura <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> e apego, os quais são8

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!