13.07.2015 Views

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

que esta é concomitante com a representação centrada sobre um futuro melhor, na esperança <strong>de</strong>segurança, investida nas relações <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência que estas crianças estabelecem (Bergeret, 1998).Sen<strong>do</strong> antes <strong>de</strong> mais nada uma patologia <strong>do</strong> narcisismo, e estan<strong>do</strong> o Ego impossibilita<strong>do</strong> <strong>de</strong>ace<strong>de</strong>r a uma relação <strong>de</strong> objecto genital, parece-<strong>no</strong>s que as crianças permaneceram centradassobre uma <strong>de</strong>pendência anaclítica ao outro, já que o perigo contra o qual se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o esta<strong>do</strong>limiteé essencialmente a <strong>de</strong>pressão.Inicialmente ponto <strong>de</strong> partida para as formulações colocadas nesta investigação, resultante<strong>do</strong>s postula<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Margareth Mahler acerca <strong>do</strong> nascimento psicológico <strong>do</strong> ser huma<strong>no</strong>,particularmente <strong>no</strong> que concerne às fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento infantil, verificamos que aproblemática da separação-individuação, na qual as capacida<strong>de</strong>s e o po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> Ego são postos àprova, face à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um progressivo afastamento da mãe na presença/ausência <strong>de</strong> umaconstância objectal bem integrada, é, <strong>de</strong> facto, uma, senão a, pedra basilar <strong>do</strong>s arranjos limite<strong>de</strong>stas crianças. Em to<strong>do</strong>s os meni<strong>no</strong>s verificamos uma intensa e <strong>do</strong>lorosa ambivalência entreafastar-se, opor-se, afirmar-se mas sem per<strong>de</strong>r o afecto da mãe, elementos que subscreveriam asegurança narcísica nesta fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento à qual estas crianças parecem particularmentefixadas. A organização bor<strong>de</strong>rline, que testemunha a <strong>de</strong>pressão primária como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Ferreira(1990/2002), seria o oposto <strong>de</strong>sta tría<strong>de</strong>, já que afastar-se implica per<strong>de</strong>r-se (e per<strong>de</strong>r), opor-sesignifica ser <strong>de</strong>struí<strong>do</strong> e afirmar-se é impensável. A <strong>de</strong>pleção narcísica foi então, para todas elas,consequente, isto é, falha a valorização que se espera como um encorajamento <strong>do</strong> objecto, sen<strong>do</strong>o po<strong>de</strong>r da mãe esmaga<strong>do</strong>r e para<strong>do</strong>xalmente a distância relacional é intransponível. Resulta,assim, um vazio, o me<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma afirmação que ninguém reconhece, um <strong>lugar</strong> na terra <strong>de</strong>ninguém, um <strong>de</strong>serto representacional profundamente angustiante, e, por fim, a <strong>de</strong>pendência.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>, as formulações <strong>de</strong> Mahler acerca das perturbações <strong>no</strong> processo <strong>de</strong>separação-individuação, Masterson (1975) sugere que quan<strong>do</strong> a criança começa a realizarmovimentos naturais <strong>de</strong> auto<strong>no</strong>mia e agir <strong>de</strong> forma gradualmente mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>s paisestá particularmente sensível à percepção <strong>de</strong> aban<strong>do</strong><strong>no</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> o padrão <strong>de</strong>vinculação entre a mãe e a criança inseguro (Sable, 1997), verificamos que as crianças oscilamentre um intenso <strong>de</strong>sejo (e diríamos necessida<strong>de</strong>) <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> e um evitamento <strong>do</strong>envolvimento. As mães analisadas parecem encontrar particular dificulda<strong>de</strong> em perceber a criançacomo um ser autó<strong>no</strong>mo, com necessida<strong>de</strong>s, características e <strong>de</strong>sejos próprios e diferentes <strong>do</strong>sseus, sen<strong>do</strong> inconscientemente negada a necessária dimensão <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s filhos.Sen<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>minantemente uma patologia da analida<strong>de</strong>, foi <strong>no</strong>tória a ausência <strong>de</strong>investimento afectivo primário nestas crianças, bem como a incapacida<strong>de</strong> precoce <strong>de</strong> integrarsatisfatoriamente regras e limites e uma intensa zanga interna que <strong>do</strong>s três emergiu. Verifica-se54

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!