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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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a possível existência <strong>de</strong> ambivalência nesta representação (Afonso), não num senti<strong>do</strong> kleinea<strong>no</strong><strong>de</strong> percepção <strong>do</strong> objecto total, mas na sua inconstância, percebi<strong>do</strong> ora como i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> ora comorejeitante e agressivo, em qualquer <strong>do</strong>s casos ausente <strong>de</strong> ressonância afectiva e presente numadimensão funcional. Os imagos pater<strong>no</strong>s são consi<strong>de</strong>ravelmente ausentes, mas quan<strong>do</strong> presentespercebi<strong>do</strong>s em modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento agressivas, rejeitantes e controla<strong>do</strong>ras.No que concerne à percepção da dinâmica <strong>familiar</strong>, os resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s vão <strong>no</strong>senti<strong>do</strong> da investigação <strong>de</strong> Kirsten e colabora<strong>do</strong>res (2006), realizada a partir da análise <strong>de</strong> trêsestu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> caso, já que <strong>no</strong>s casos analisa<strong>do</strong>s as crianças percebem as relações <strong>familiar</strong>es comoinstáveis e emocionalmente intensas, marcadas por sentimentos e representações ambivalentesem relação aos membros da sua família, bem como por interacções sentidas como abusivas e porfronteiras interpessoais disfuncionais. Nos relatos foram também salientes dimensõesrelacionadas com a existência <strong>de</strong> regras rígidas, sistemas <strong>de</strong> comunicação ineficazes, falhas aonível <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> e <strong>do</strong> suporte afectivo, bem como padrões <strong>de</strong> parentalida<strong>de</strong> problemáticos.Efectivamente, as famílias <strong>de</strong> pacientes cm P.B.P. parecem evi<strong>de</strong>nciar padrões <strong>de</strong> relacionamentomais conflituais e controla<strong>do</strong>res, e me<strong>no</strong>s afectuosas, coesas e expressivas (Weaver, 1993).Assim, po<strong>de</strong>-se dizer que se tratam <strong>de</strong> crianças com alterações <strong>do</strong> comportamentoassentes num intenso sofrimento emocional, o qual não consegue ser pensa<strong>do</strong>, elabora<strong>do</strong> oumentaliza<strong>do</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, as suas alterações <strong>do</strong> comportamento são uma forma <strong>de</strong> expressão<strong>de</strong>ste mesmo sofrimento <strong>de</strong>pressivo e <strong>do</strong> vazio inter<strong>no</strong> que parecem sentir, concomitante comuma angústia patente <strong>de</strong> aban<strong>do</strong><strong>no</strong> e perda <strong>de</strong> objecto, interferin<strong>do</strong> negativamente nas suasrelações com os pares e <strong>no</strong> seu aproveitamento escolar. Apresentam, por outro la<strong>do</strong>, importantesfragilida<strong>de</strong>s ao nível i<strong>de</strong>ntitário, manifestas nas perturbações significativas <strong>no</strong> processo <strong>de</strong>separação-individuação, bem como falhas <strong>de</strong>terminantes <strong>no</strong> que concerne às relações afectivasprecoces com adultos <strong>de</strong> referência e um e<strong>no</strong>rme vulnerabilida<strong>de</strong> psíquica. São meni<strong>no</strong>s queapresentam um la<strong>do</strong> carencial consi<strong>de</strong>rável, o qual é expresso <strong>no</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> agradar e <strong>de</strong> sentir-sereconheci<strong>do</strong> pelos adultos que conhecem (<strong>familiar</strong>es, professores, a investiga<strong>do</strong>ra…), pelo quenecessitam <strong>de</strong> relações contentoras e protectoras para conseguirem algum senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> consistênciae organização internas. A ausência precoce <strong>do</strong> terceiro objecto relacional (pai), simultânea àsdiversas rupturas e intercorrências que ocorreram nas suas histórias <strong>de</strong> vida e que comportaramgran<strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> emocional, a par da falta da função reflexiva materna, geraram asdificulda<strong>de</strong>s ao nível da simbolização, levan<strong>do</strong> as crianças a agir o seu sofrimento, perante ainexistência <strong>de</strong> mecanismos e recursos inter<strong>no</strong>s mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s à sua elaboração, e <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-asvulneráveis a uma profunda angústia <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparo.57

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